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quinta-feira, 13 de abril de 2017

MATARAM A NORMA!


Por Maria do Carmo Passos

Roque Santeiro foi a última novela que tive a oportunidade de assistir. Passou na TV Globo e achei fantástica. Na época, meus três filhos eram menores de idade e achei inadequado ficar assistindo novelas no horário das 20 horas. Esbocei, apoiada por meu esposo, um regulamento que passou a vigorar na casa. Juntamente com as crianças o televisor deveria ser desligado a partir das 20 horas. Todos concordaram, iriam acordar mais cedo no outro dia, descansados e como resultado renderiam mais na sala de aula. Eu, estava incluída nas regras, já que exercia o cargo de professora. 

Mas com o passar dos anos perdi o costume de assistir televisão à noite e muito menos novelas. 

Como resultado,  comecei a sentir-me deslocada em vários ambientes em que frequentava, desconhecia os personagens e tramas das novelas, assunto predileto nas rodas sociais, inclusive no horário de recreio dos professores, pois o assunto recorrente era a novela que estava sendo exibida em determinado canal. 

Entretanto, mesmo correndo o risco de me tornar fora de moda mantive minha decisão de permanecer sem as novidades da temporada, lançamento típico das novelas.

Meus filhos tornaram-se adultos, partiram e eu optei por assistir filmes, séries, documentários e tocar piano. Criei um mundo exclusivamente meu, no qual eu me bastava.

Certo dia, fui obrigada a cair na real. Minha residência estava passando por reformas e passei a dormir num quarto encostado à janela que dava para a rua. Acordei com a conversa dos funcionários que chegaram às 7 horas da matina. Comecei a ouvir do pessoal o assunto e resisti a acreditar na história que contavam entre eles. Falavam que Jaguarão não era mais uma cidade pacata e nem segura para se viver. Relatavam os fatos com precisão.  Entre eles assalto em joalheria, supermercados e rodoviária. 

Foi nesse exato momento que um deles disse: "mataram a Norma". Nesse instante ao ouvir a sentença, fiquei aterrada, acordei de verdade, corri por toda a casa e fui parar na cozinha, onde senti muita tristeza e vontade de chorar, pois nutro um grande carinho e admiração pela Norma. 

Estando eu nesse abalo,  bateu à porta um dos pedreiros. Viu a minha tristeza e ficou consternado. Foi então que perguntei:  João, assassinaram a Norma? Por isso estou triste. Sim mataram, mas foi ontem à noite a senhora não viu??? Respondi não,  nem sequer sai de casa. Foi quando, para meu alívio ele respondeu: foi a Norma da novela e ela merecia, a senhora não acha?

Recuperei o fôlego e respondi: graças a Deus não é a minha querida amiga Norma!

Hoje, agradeço ter vivenciado essa história e serviu para reafirmar minha convicção de que 
a mídia exerce com maestria o papel da manipulação.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A volta dos Mercados Públicos (parte III) por Vicentepimentero


O Mercado Público de Pelotas me lembra uma Estação Central. Vejo fotos antigas e vejo árvores e ônibus que por ali passavam e paravam. Enquanto varro as bitucas de cigarro deixadas pelos clientes e transeuntes, imagino quanta história impregnada naqueles paralelepípedos. Ali devem circular mais de trezentas pessoas por minuto, se bem que o índice populacional cresceu, imagino naquela época.

O Mercado é ponto de encontro é passagem é sítio é espera é parada rápida prum lanche. É peixe em Semana Santa e presente em fim de ano. As amizades vistas ali são inimagináveis, pois ali todos são iguais, o Mercado tem disso, torna a todos, quase, a mesma pessoa.

Engraçado e curioso é a diversidade de público. Ora mais ora menos está montada ali uma estrutura para algum evento por vezes desconhecido, não saiu em programação alguma. Teatro de Rua, encontro religioso, sorteios de loterias, atividades acadêmicas, feiras de antiguidades e de alimentos, shows, brigas, passeatas e manifestações, festas de torcida, excursões, chegadas e partidas, eventos da vida profissional e emocional. Ente um café ou um chope lágrimas de tristeza ou alegria é o olho do furacão e ao mesmo tempo o bálsamo dos fins de tarde.

Essa é a volta dos Mercados Públicos onde o amor renasce no coração das cidades. Charme e simplicidade com pitadas de história e estórias que vão se escrevendo a cada dia como heranças deixadas de avós para netos. Bons tempos retornarão e como cenário esses templos da cultura popular.

Edição de 22/10/2015 Ano VI nº 235







sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Coluna Gente Fronteiriça - Um Sabiá no asfalto

Por Wenceslau Gonçalves

Ainda é madrugada na capital dos gaúchos. Reina um relativo silêncio no centro histórico que habito e onde, agora, tento completar meu período de repouso. De repente, assim como num passe de mágica, uma parte da natureza se rebela com os monstros de ferro e cimento que povoam esta nesga de terra cultuada por nossos ancestrais outrora coberta apenas de densa vegetação nativa. Uma manifestação melodiosa de um anônimo sabiá invade os apartamentos, atravessando as vidraças, vindo de algum lugar lá embaixo, onde a vista não alcança.

Na cidade, a vida quotidiana recém começa a estabelecer suas primeiras rotinas. Os cidadãos do bem recém despertaram; os do mal talvez ainda nem tenham repousado. A vida urbana retorna ao mesmo ciclo que encerrou ontem à noite.

Aqui, na semi-escuridão quase silenciosa de meu quarto, sou capaz de voltar no tempo revendo seus iguais que saltitavam libertos e felizes, exibindo o garbo matreiro próprio da espécie nos caminhos forrados de grama em busca de sua ração diária.

O que ouço são apenas algumas notas musicais. Por enquanto há somente a solidão da noite que se esvai em busca de sol. É apenas um pássaro quase comum das poucas matas que ainda nos restam, mas reparem no significado deste som para um urbano limitado em uma grande caixa de concreto junto a tantas outras também encurraladas por impedimentos que eles mesmos criaram para si. É apenas um sabiá que, sem se personificar, apenas se anuncia pelo que tem de mais belo em seu viver: seu canto mavioso e envolvente, consolador e plangente, que acaba ferindo o sentimento de quem o escuta com atenção. Não há como não reparar.

As árvores são tão poucas por aqui, que me é mais fácil imaginá-lo pousado em um contêiner ou talvez na carcaça de um automóvel abandonado em uma viela qualquer das proximidades. Ou - quem sabe? – em uma daquelas réstias de praça espremidas entre gigantes de circulação que, de um momento para outro, fica lotada de pequenos monstrinhos barulhentos e bebedores de combustível que emporcalham o ar que precisamos para respirar.

A natureza se rebela em parte porque estamos acabando com os poros da terra. Acho que o homem também vai acabar se transformando também em um ser sem poros, como tem desenvolvido seus agrupamentos urbanos. Com uma alma sem poros, não há também sentimentos e passam a ocorrer episódios não só como aqueles que resultaram na morte de um menino – tão anunciada pela mídia - mas muitos mais que são sacrificados diariamente pela cobiça e a vaidade de alguns poucos que conseguem transformar o mundo em um lugar impróprio para a beleza e a vida.

Voltando ao sabiá depois das digressões. Encerro sem conseguir desfazer uma dúvida atroz que permeia minha exposição. O sabiá do asfalto saltitará livre em busca de uma companheira a quem dedicará seu canto maravilhoso? Ou estará enjaulado, vítima de algum sádico que se deleita vendo seu lamento através das grades? Confesso que não sei. Vou continuar buscando localizar o meu despertador melódico. Espero que a resposta seja a melhor para o caso. Afinal, o dia já está quase começando novamente e, provavelmente, vou esquecer-me dele, envolvido que vou estar com outras questões que podem não ter a mesma importância do que valorizar pequenas coisas, como esta. Só espero que ele, mesmo sem saber, volte a trazer-me mais alguns momentos de encanto como os desta madrugada.

 Edição de 23/09/2015 Ano VI nº 231




Desfiando al Destino - por VicentePimentero

Sempre naquela paranoia de saber ou entender de onde viemos ou para quê e por que estamos nisso que chamamos vida (pois tudo na existência deve ter um nome, assim como todo nome deve ter uma existência) ou me perguntando para onde vamos ou temos vontade de ir, assim as quatro e pico decidi escrever esta crônica. Eu chamo assim, e nem me dei o luxo ou o tempo de pesquisar sobre a denominação 'crônica'. Da palavra ou da condução crônica, pois a cavalgada da escrita deixa paisagens para trás ou alvoradas jamais vistas, ou apenas guardadas na tal da memória, mas se foi chamada assim e tiver alguma coisa a ver com crânio é por que era coisa da cabeça. E ou, ou e, e a cabeça não para de pensar.

Mas nem todas as cabeças ou métodos de pensamento tem a fórmula certa para harmonizar o tal do bicho homem. Isso é mais do que vivo e notório, embora ignoremos esse desastroso detalhe da história da humanidade. E essa palavra é tão pequena e tão profunda para alguns milhões de crânios sós. Fica difícil mesmo de entender o que eu nem consigo dizer. Se existe uma explicação ou verdade ou coincidência em qualquer destas linhas confortavelmente lidas, mas incômodas ao passar, é por quê nada é tão incrível do que a falta de sentido verdadeiro de tudo.

Vou contar até três para não ser descoberto como filósofo, pois há guardiões preocupados em guardar algo naqueles bolsos costurados que precisam ser preenchidos, nem que seja com balas de gorjeta, ou nylons de proveta.

Paralelamente estou no Face. Preciso e prefiro ser lido, limpo ou queimado por aqui do que pactuar sobre a inércia dos que nunca foram ou voltaram e mesmo assim tiveram a inexplicável arte de não estar em lugar nenhum.

Estou impossível de escrever sobre cozinha, música ou literato. Acredito saber ou mentir sobre outras coisas. Sobre a louca poesia da vida, sobre tudo isto que é apenas um sonho.

Edição de 23/09/2015 Ano VI nº 231
 
 
 

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Jaguarão. Ontem, Hoje - Viajando através dos bancos da Praça Comendador Azevedo

Por Cleomar Ferreira

Geralmente passam despercebidos, mas os bancos das praças, assim como os prédios e sua arquitetura, também ajudam a contar um pouco do nosso passado. É possível viajar pela história de uma Jaguarão em pleno desenvolvimento, quando aqui existiram empresas e pessoas que acreditavam e colaboravam para o progresso da nossa cidade. Empreendimentos que durante um tempo estiveram fortemente ligados a economia do município. Pessoas que colaboraram para o engrandecimento da cidade e perpetuaram seus nomes com o seu trabalho, dedicação e espírito empreendedor.


Podemos observar que na Praça Comendador Azevedo, quando de seu surgimento, várias firmas e particulares fizeram doações para esse logradouro.

Através das inscrições nos bancos, voltamos no tempo e lembramos algumas empresas que solidificaram sua marca na história:

-BARRACA PÉREZ, de Francisco Lopez Pérez (depósito de Madeiras e Mat. De Construção, Fundada em 1932,- este empreendimento passou de pai para filho, e o Sr. Luiz Carlos Pérez esteve à frente deste comércio que por muitos anos foi referência no ramo em nossa cidade ),
-TOMÁS DE MATTOS (21 de Março 1960)
-MILTON BRUM, ( 01/01/1961)
-J.B. GONÇALVES cia, ( Padaria Cerqueira –fundada em 1887 )
-FAZENDA DO GALPÃO, ( de Edalício de Farias Santos. Esta Fazenda pertence nos dias atuais à Sra. Norma Oliosi Farias Santos.)
ESTANCIA SÃO GABRIEL, de ( Odilo Marques Gonçalves )
ESTÂNCIA “RINCÃO DE SÃO JOÃO”, ( Carlos M. Gonçalves, - 1ºsubdistrito)
-GRANJA SÃO CARLOS, (de Gabriel F. Gonçalves, - 4ª zona-Telho)
ESTÂNCIA SANTA ANÁLIA, ( de Manoel José Rodrigues, - Olimar- ROU)
-ROBERTO C. GONÇALVES, ( Armada – 1960 )
-CASA YOLANDA,- ( calçados tecidos e confecções.- localizada na XV de novembro, 485.)
-POSTO DE SERVIÇO “ TEXACO”, (de Ataides M. Arismendi )
-CASA LORD, ( Comércio exclusivista da marca RENNER )
-MENDEZ DE MATTOS & CIA, (Exportadores e Importadores. –Produtos de Pecuária e Agrícola – matriz em Pelotas)
-AUTO POSTO UNIÃO.- (Revendedor ESSO, localizado na AV. 27 de Janeiro, esq. com a Rua Independência.
-FERREIRA, MORAIS CIA LTDA – ( Comércio de ferragens e mat. De construção, - localizada na XV de Novembro, 966. – Acredito que esta empresa se transformaria depois na firma Ferreira& Ferraz )

Observe que entre tantos monumentos que contam fatos de nossa história, os bancos, ao mesmo tempo que cumprem sua função, ajudam contar um pouco do passado.

Por isso, deixei outro dia em rede social, a idéia para a preservação dos bancos da Praça Alcides Marques. Dos antigos bancos, restam apenas cinco ou seis, que poderiam ser retirados, livrando-os assim do vandalismo e da própria ação do tempo, que os está destruindo. Poderiam assim serem restaurados e colocados em um outro local, onde estariam mais seguros e preservados. A história agradece.

É isso aí, um abraço e até a próxima edição.

Edição de 23/09/2015 Ano VI nº 231












terça-feira, 22 de setembro de 2015

A comida de Rua invade as cidades - por Vicente Pimentero

Não temos muita informação sobre essa cultura de comer na rua, mas nos filmes de época já podemos ver que desde a Roma Antiga descolar uma refeição honesta virou rotina de quem faz das calçadas seu ritual gastronômico.

Os norte americanos, como sempre, deram um jeito de pincelar o "negócio", à moda marketing-global, naquilo que os asiáticos e europeus também já faziam e muito bem. Transformaram as tendas e os tabuleiros de comida que antes resolviam a necessidade de se alimentar economicamente entre uma jornada e outra, num incrível formato capital gourmet, explorando e pulverizando o novo bussines numa febre cultural que se espalha mundo afora.

No Brasil, onde há uma forte tendência para copiar quase tudo do estrangeiro, não foi diferente, a Comida de Rua vinda de carona com culturas colonizadoras, teve em cada região um estilo, ou pelo clima ou pelas mesmas questões históricas que escrevem as confusas lendas e verdades do país. Em Salvador, por exemplo, as bancas de acarajés além de ser um patrimônio turístico representam toda a cor e o sabor da Bahia num bolo frito de feijão servido num guardanapo, prato de plástico ou saquinho. E assim em todo o território, a pamonha, o pão de queijo, o churrasco grego, o cheesse burguer, o crepe, a pipoca, o churros, o doce, o sorvete, o amendoim, as guloseimas, os algodões doces, as maçãs verdes, e a lista quase infinita de lanches, refeições e iguarias que resolvem em minutos a pressa cotidiana do transeunte.

Mas daí vem o termo Food Truck, em quinze anos pra cá, os caminhões, kombis, ou híbridos de carcaças de qualquer espécie de veículos sobre rodas vem ganhando as ruas.

Em qualquer esquina qualquer botequim, saída emergente de desempregados ou sucursais kits de empreendimentos imóveis, os carros temáticos oferecem toda uma linguagem visual que se diversifica em estilos de comida viajando por inúmeras culturas resumidas num prato prático e convidativo ao bolso.
O fenômeno cresce de tal maneira que de coadjuvante de feiras e congressos os Food Trucks passaram a ser protagonistas nos seus próprios encontros, dividiram comida e bebida numa epidemia de cerveja artesanal e os mais diversos segmentos da gastronomia. Pizzas, hambúrgueres, frios, hot dogs, veganos, sorvetes, cafés, entre outros pratos menos comuns nas ruas como sushis, massas e caldos fazem a alegria das novas juventudes que hoje frequentam em massa esses encontros diurnos de comes e bebes.

Aqui no extremo sul a reverberação chegou em grande estilo, nos últimos três anos em Pelotas e agora em Jaguarão, os festivais de Comida de Rua vem ganhando força e um público exigente que faz do seu sarau dominical o ócio para desfilar seu modelito e compartilhar um momento saudável com os amigos. Regados à música os eventos de rua se estendem pelas tardes à noitinha e deixam um ar pitoresco nas ruas das cidades, sua maneira cult de deixar uma sequela de festa junina ou quermesse encanta as mais ecléticas gerações. A Comida de Rua veio pra ficar, propiciar um encontro e um bate papo informal com um estranho, unidos apenas pelo prazer de saborear um prato urbano nas lidas do dia-a-dia.

Receitinha de hamburguer de rua 
 
75 g de carne moída misturada com as mãos em 15g de farinha de farinha integral peneirada, 1 cebola pequena bem picada, tomilho, pimenta preta do reino moída na hora, sal, azeite e micro cubinhos de toucinho. Formar o hamburguinho com formato mais grosso do que fino e selá-lo em frigideira muito quente. Num pãozinho novo à sua escolha molhar suas folhas interiores com maionese de oliva, e mostarda de Dijon, esperar com uma salada de broto de alface, tomate assado, e pimentões salteados. Antes de acrescentar o hambúrguer ao pão, mandá-lo para o forno com uma fatia de queijo coalho até derreter e terminar de cozinhar a carne, uns 12 minutos. No pão, servir com um ketchup picante.

Edição de 16/09/2015 Ano VI nº 230

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Coluna Gente Fronteiriça - Amigo Fiel

Por Maria do Carmo Passos

Sou da mesma estirpe de Argos, fiel companheiro de Ulisses aguardando por sua volta ao lar no poema Odisseia de Homero . Apesar de ter ares de fidalgo, significando "filho de algo" todos me reconhecem pelo nome de Amigo. Sou querido e muito conceituado em nossa cidade. Modéstia à parte, todos me conhecem. De linhagem direta dos (RND) cujo significado é o seguinte: RACA NÃO DEFINIDA, tenho imenso orgulho de minha descendência canina.

Desconheço minha verdadeira origem; segundo o Carlinhos, artista e pintor profícuo de nossa cidade, fui adotado e criado por uma funcionária do Hotel Sinuelo, de jaguarão. O local pertencia à categoria dos estabelecimentos chics de nossa cidade, dando-me assim a oportunidade de obter informações de grande utilidade. Dentre elas, escapei do estigma de ser chamado de cão de rua. Outra façanha por exemplo e que merece grande destaque diz respeito aos animais de estimação. Não só cães. Nossas patinhas festivas representam um grande perigo para as malhas das meias das senhoras e para as calças masculinas. Portanto , toda aproximação tem de ser cautelosa e comedida.

Ao perder minha mãe adotiva, sai em busca de um local seguro em busca de proteção. Acostumado com determinado trajeto, circulava na maior parte do tempo entre a avenida 27 de janeiro e o Bar do Alemão . Ali encontrei abrigo junto ao proprietário, o Sr. Orlando e sua esposa, onde estabeleci moradia até os dias atuais. Floresceram entre nós apurados laços de amizade e aproximação.

No que se refere ao meu estado de saúde, raramente causo transtornos, conto com uma linhagem que tem me favorecido muito. Devo isso à grande imunidade inerente ao meu organismo, dificilmente sou vítima de qualquer doença, por mais grave que seja e que facilmente atinge diversos colegas pertencentes à minha categoria. Atualmente, junto aos meus pais, a quem dedico a maior parte do meu tempo, mantendo estreitos laços familiares, procuro manter com todos aqueles que nos cercam um grande , carinhoso e imenso afeto mesclados de amor e gratidão.

A relação com papai Orlando e mamãe Iracema, são mútuas e de extrema integridade. Todos sabem que o cão é o melhor e mais fiel amigo do ser humano.

Em raras ocasiões nos desentendemos, consigo acompanhá-los nas visitas, incluindo qualquer residência. Meu comportamento, modéstia à parte é de dar inveja a qualquer outro representante de minha raça. Costumo, durante a permanência na casa, quando acompanho meus amos, permanecer calado e nada escapa aos meus ouvidos apurados. Assemelho-me a um cão de porcelana, tamanha é minha discrição. Faço questão de não ser notado.

Hoje, felizmente encontrei meu verdadeiro lar, enquanto meus pais se distraem com alguma tarefa, aproveito a deixa e dou algumas escapadas, típicas de qualquer jovem de minha raça.

Entretanto, permaneço atento ao horário e raramente me atraso na chegada.

AMIGO, além de fidalgo jaguarense estou pronto a dar uma mão a todos aqueles que necessitam de minha ajuda. Afinal, sou um Cavalheiro e mesmo que não me peçam , lhes dou este conselho meu caro leitor ou leitora. Se estiver carente de companhia agradável olhe com carinho para os meus companheiros desafortunados que andam a esmo pelas ruas ou abrigados no Canil Municipal. Com certeza, em algum deles você poderá encontrar um fidalgo como eu.


Edição de 16/09/2015 Ano VI nº 230






quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Coluna Gente Fronteiriça - Tempo de Fronteira

Por Magnum Sória

O tempo que tudo eterniza é o mesmo que tudo fenece! Na fronteira, o “dom” tempo é marcado pelas tempestades de raios e ventos - pelos “Santa Rosas”, pelo Minuano gélido, pelas robustas e cristalinas geadas, pelas cerrações concentradas de belas gotas com ar de mistério e transcendência ou pelo tórrido vento Norte do verão. Que terra é esta de contrastes e embates da natureza tão abruptos? Lugar aonde, dos quatro graus se vai aos trinta, aos quarenta em segundos? Será que isso é um determinante do tempo do humano coração fronteiriço que bate e rebate contra o Tempo da vida? 

O que sei é que ainda o tempo determina uma fronteira meteorológica: é encantador saber que se chegou no sul do sul ao sentir o frio vindo de más allá ou no calorão perfumado de Madresilvas ou Damas da Noite plantadas nos beirais das largas calçadas. Que se chover na primeira terça do mês, vai chover o mês inteiro! Que se molharem as imagens dos velhos santos, choverá torrencialmente no final do dia! Que a chuva inspira bolo fritou da vó ou torta frita da madrinha. Tomar um mate “saboreando” o ouro solar na beira do cais ou mirar de Rio Branco a beleza dos velhos casarões sombreados e cobertos de azul anil, que de tão belo, inspira poesia e encanta os que de longe vem estudar nestes pagos.

O tempo é marcador das personalidades: somos meteorológicos na essência! Porque ainda se nos apetecem as termitas castelhanas, os ponchos tramados de jacar, as mantas penduradas em plenos quarenta graus nas ruas antigas. Fugir do contratempo do dia e tomar um banho de prata da Laguna Mirim, escutando o vento batendo sibilante nas árvores do pequeno balneário. Voltar de “bolanta”, já foi... elas partiam antes do sol dormir. 

O tempo... antigo e novo! Tudo se mistura quando a chuva cai nas eiras e beiras. A força do tempo inspira o homem da fronteira a ser um SOBREVIVENTE! Sim, aqui apenas viver não é o código de existência. Na fronteira do tempo, na fronteira dos climas o verbo é sobreviver se assim se quiser ser substantivo concreto! Isso é vida na fronteira heróica! É existência de teimosos e porque não dizer um "maravilloso placer"!!!

Edição de 09/09/2015 Ano VI nº 229
 
 
 
 


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A crise, mental por Vicente Pimentero


Estabeleceu-se a crise. Mental. Num emaranhado de contradições, vivemos a mercê do sensacionalismo midiático. O Mundo, desde que foi Mundo, viveu em suas crises. Pois fomos os homens, famintos de instintos de posse e domínio, que geramos essas crises socioeconômicas e ambientais, logo, existenciais.

O frenesi poluente das massas não desacelera, mesmo com a tal da crise. Enquanto o comércio de supérfluos entenda-se Shopping Centers, Estádios de Futebol, Pub's, entre outros, continuam recebendo públicos expressivos, a televisão tenta intimidar e associar a crise a outros fenômenos sempre existentes, como a segurança pública.

Como que já não importa o governo, aqui ou acolá, a crise está em cada um. Não há uma sociedade organizada em boicotar o sistema, continuamos apresentando uma sociedade egoísta que não abre mão, nem de suas zonas de conforto, como de uma alternativa sustentável, seja ela ecológica ou de higiene mental.

A adaptação sobre novos tempos consiste na consciência de sustentabilidade, ou ao menos, podermos nos aproximar dela. Dependentes de consumo incontrolável, trocamos os valores, vendemos nosso tempo com o triste intuito de não cair na pirâmide social. A revolução mental é necessária, interessar-se pelos problemas que causaram tudo isto, nessa tal de crise que nos vendem, vem de uma postura ética centenária, ou milenar, do caráter distorcido do ser humano.

Numa visão positiva, e já falei disso numa outra oportunidade, começa um tempo de despertar, de refletir, de buscar novas saídas para pequenos problemas sociais, misturando gerações que podem e devem deixar algo interessante na sua passagem pela história. A ciência precisa de comunidades articuladas para continuar a engrenagem dos desenvolvimentos que não agridam, nem as camadas sociais, nem o meio ambiente, e nem suas inter relações. A harmonia depende desse elo entre sociedade e tecnologia. A mente atual está em crise, não dialoga, interna ou externamente.

Concluo que a alquimia atual entre o homem e a terra desprende-se da sensatez, há uma forte onda negativa impossibilitando essa nova era de mudanças inteligentes, aonde o valor humano e a postura social conduzam a novas civilizações.

A crise está na gente.

Edição de 02/09/2015 Ano VI nº 228




sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Coluna Gente Fronteiriça - Memórias de um piano

Por Maria do Carmo Passos

Sou um piano. Fui idealizado e construído na Alemanha nos primórdios do século XX . Recebi o nome de MANEGOLD, em tradução livre para o português MEU OURO, o que repercutiu imensamente em minha existência já que, em tese, deveria ser entregue a alguém que realmente fizesse jus à minha reputação. Importado pelo Armazém de propriedade da família Cassal, situado na cidade portuária de Jaguarão, Brasil, Estado do RS, parti com a finalidade de encantar o lar dos Cassal, uma respeitada, conceituada e próspera família jaguarense dedicada ao comércio e adepta das artes, que abrigava em seu berço uma talentosa menina, chamada Clarita.

Fui cuidadosamente embalado, amarrado ao convés de um navio, garantindo assim que chegaria intacto ao meu destino. A viagem foi deveras assustadora, atravessando mares e oceanos, fazia mil conjecturas sobre meu futuro incerto e distante do continente europeu.

Aportando em jaguarão todo o meu espanto com o desconhecido desvaneceu-se. A cidade na qual chegara era encantadora, parecia tudo perfeito. A magia dominava o ambiente, o cais do porto estava repleto de gente linda e elegante, cenário perfeito para alguém como eu estabelecer moradia. Homens e mulheres vestidos ao estilo da época, portando chapéus, bengalas e esbanjando muito charme aguardavam a chegada de diversos produtos importados. Havia automobiles e carruagens circulando nas proximidades.

Porém, eu continuava apreensivo, chegando a pensar na hipótese de permanecer eternamente parado em uma residência fazendo parte da mobília de alguma casa servindo apenas de ornamento. O risco de ser apenas apreciado sem ser jamais tocado me aterrorizava.

Fiquei surpreso quando finalmente encontrei Clarita, uma bela e formosa jovem que prontamente me deu as boas vindas acariciando-me delicadamente. Juntos passamos a ter momentos muito especiais, enquanto Clarita explorava minhas teclas eu vibrava correspondendo ao seu entusiasmo e habilidade de pianista. Acabamos nos tornando quase inseparáveis, juntos tocávamos harmoniosamente em diversos saraus, frequentes na época, levando vida e alegria a muitos lares jaguarenses.

Entretanto, com o passar dos anos fui vendido para o sr. Ney Fernandes Passos, proprietário da Casa Aspiroz localizada em Rio Branco, Uruguay. A destinatária era sua filha, ainda menor, Maria do Carmo. Mais uma vez, fui obrigado a partir do país que já considerava minha pátria rumo a um país para mim desconhecido. Naturalmente sofri um grande desgaste emocional. Pensei que talvez pudesse ser vítima de uma garota mimada e consentida que me trataria como um objeto de seus caprichos.

Inicialmente passei a ter uma saudade, quase dolorida, de minha antiga proprietária. Entretanto, o tempo se encarrega de curar cicatrizes. Comecei timidamente a me entrosar com a pequena e voluntariosa menina. Percebi que seu objetivo era aprender a tocar piano às minhas custas e decidi colaborar. Juntos trabalhamos arduamente em busca da perfeição, meta costumeira para os adeptos da arte. Precisávamos treinar diariamente, sabíamos que a busca pela perfeição é um labirinto sem fim, quanto mais avançamos mais almejamos. Vivia a maior parte do meu tempo, sempre que fosse possível com minha dona, pois na sua concepção, tocar e ouvir música correspondia a rezar e encontrar-se no paraíso. Em inúmeras ocasiões a ouvi argumentando com seu pai, homem extremamente religioso, que ela não precisava ir à Missa Dominical porque já havia realizado suas preces quando tocava piano, tanto era sua convicção de que a música nos conecta com o universo e o divino.

Com o passar dos anos, estabelecemos entre nós um casamento, nossos destinos foram entrelaçados. Acabamos nos tornando amantes, companheiros, confidentes e até cúmplices em momentos difíceis que a vida nos apresenta. Num convívio de aproximadamente 60 anos, construímos lado a lado a carreira de seus filhos, em cujo êxito tive uma considerável parcela. Porém, como em qualquer relacionamento que se estende por tanto tempo, acabamos vítimas de um desgaste natural.

Ela já não acariciava meu teclado com o mesmo encanto e emoção de outrora, nos anos dourados de sua juventude e posterior maturidade. Concluída a tarefa de formar seus filhos e consequente partida dos mesmos, que tomaram rumos diferentes, Eu e minha Ama começamos a estreitar nossos laços prestando maior atenção em nós mesmos. O fim do outono e a proximidade derradeira do inverno, tornaram-se fatores decisivos em nossas existências. Seria ainda possível um futuro juntos? Quais as perspectivas? Chegara a hora de pensar e decidir sobre o que a vida nos aguardava e pensar na melhor estratégia para manter a nossa relação diante do que se apresentaria num futuro não muito distante. A perda seria inevitável.
Senti que, com sua partida, poderia ficar sozinho e parar em um asilo para móveis usados, sujeito a permanecer para sempre numa inércia mortal.

Em sonhos implorei para que ela me deixasse partir. Foi então que o destino conspirou a meu favor. Para nossa surpresa, apareceu na residência a visita inesperada de um jovem, com o nome de Octávio acompanhado de seu pai, Flávio. Logo em seguida tive a intuição de que o nome Octávio, era forte e combinava com Manegold. Apresentou-se como adepto de piano e minha companheira pediu para que ele me tocasse. Vibrei ao seu toque, entre uma nota e outra, renasci. Logo em seguida percebi que através de suas mãos alcançaria êxito. Além de intérprete, o jovem é compositor de originais e belas melodias. Seu estilo de natureza clássica, não impede que seu desempenho atravesse as fronteiras até chegar à música popular. Eu e minha companheira ficamos deslumbrados com o talento do rapaz e meu destino foi selado. Ela decidiu que eu deveria partir. Num sábado à tarde, fui transportado para a residência da família Machado, onde atualmente resido. 

Hoje posso dizer que me encontro feliz e faço jus a meu nome. Octávio é um rapaz alegre, criativo e muito carismático conseguindo facilmente penetrar no mundo enigmático da musica. Soma-se a isso o grande apoio que encontra em seus dedicados e orgulhosos pais Flávio e Andreia. Adepto das artes em geral, incluindo a literatura e pintura, um futuro de brilhante o aguarda.

Edição de 26/08/2015 Ano VI nº 227








sábado, 22 de agosto de 2015

Salve a vida!

Por Andréa Lima

Escrevo este texto do leito 9A, da Maternidade da Santa Casa de Jaguarão. Hoje completo uma semana de internação, com expectativa de alta, e me recupero de uma complicação grave que tive em minha terceira gestação, que poderia ter custado a minha vida e a da minha filha, conhecida como descolamento de placenta.

Escrevo cansada, mas com a alegria de quem nasceu de novo, nasceu mãe, pela terceira vez. Meu sentimento de gratidão se completa por minha filha ter sobrevivido e estar saudável, pois, mesmo muito pequena, precisou lutar para estar aqui.

E agora vivencio um momento de paz e tranqüilidade, ao vê-la dormir enrolada em seu cobertor rosa, saciada pela amamentação.

Passei bem durante toda a gravidez, mas ao chegar às 36 semanas fiquei com a pressão alta e tive orientação médica para fazer repouso. Estava, inclusive, alimentando a expectativa de ter um parto natural, depois de já ter passado por duas cesáreas. Li e me informei muito durante toda a gestação para evitar uma cirurgia desnecessária, mas neste caso ela foi fundamental e permitiu, em tempo, a nossa sobrevivência.

Tudo começou na semana passada, na terça-feira, onde durante todo o dia senti algo diferente, como se a bebê tivesse mais agitada e empurrando, de leve. Como já estava em idade gestacional avançada, achei que fosse um sintoma normal, pois, afinal, estava se aproximando a hora.

Quando fui dormir, notei que estava sangrando e só deu tempo de pegar a bolsa e correr para o hospital.

No caminho o sangramento se acentuou e, ao chegar à maternidade, já estava acompanhado de fortes dores, enjôo e da sensação de que iria desmaiar.

Como se tivesse combinado, encontrei minha obstetra à postos, de plantão. Ela logo diagnosticou o descolamento e fomos às pressas para o bloco cirúrgico.

Quando ocorre um descolamento, o suprimento de oxigênio e de nutrientes para o bebê fica comprometido e pode ocorrer um sangramento grave, perigoso para a mãe e para a criança.

Nos casos mais severos, como foi o meu, avaliadas as condições de prematuridade, o bebê deve ser retirado imediatamente do útero. Tive que ser submetida a uma anestesia geral, sem poder assistir ao nascimento da minha filha e sem saber ao certo se, ao acordar, iria encontrá-la viva.

Passada a cesárea e estancado o sangramento, acordei escutando um chorinho de bebê na sala. Ela nasceu praticamente inerte e passou por um momento de sofrimento, mas foi reanimada.

Quando fui para o bloco de recuperação, já a levaram para o meu lado e logo começamos a estimulá-la a mamar, ao que respondeu prontamente. A batizamos com o lindo nome de Isabela.

Durante o período em que estou aqui aconteceram muitas coisas... um dos meus rins  quase parou de funcionar, mas já está voltando ao normal, fiz transfusão de sangue, precisamos submeter minha filha a dezenas de exames, o leite demorou para descer, por conta da cesárea, mas, aos poucos, tudo vem dando certo e a vida pulsa e brota, voltando ao normal.

Os dias difíceis foram brindados pela alegria de ter o meu companheiro e a minha família sempre presentes, bem como o apoio de muitos amigos e amigas que, em alguns momentos, chegaram a encher o quarto do hospital.

Também quero destacar que, mesmo passando por uma severa crise desencadeada pelo não pagamento dos repasses assumidos pelo Governo do Estado, durante todo este tempo fui atendida com excelência pelas equipes da Santa Casa de Caridade de Jaguarão, com internação pelo SUS.

Meu agradecimento especial a minha obstetra, a Dra. Eunice, e a Dra Lélia, que vem acompanhando a família por vários e vários anos. Ao cumprimentá-las, agradeço o carinho de cada uma das enfermeiras, técnicas e de todos os trabalhadores e trabalhadoras dedicados da saúde. Valeu mesmo, de coração!

Edição de 12/08/2015 Ano VI nº 225





quarta-feira, 27 de maio de 2015

Futebol, os três clássicos mais importantes da América - Por vicentepimentero


Em menos de um mês jogaram-se os três principais clássicos da América, e não me venhas com fla-flus ou peladas paulistanas que na tríplice aliança os grandes clássicos do Mercosul ficam aqui, pra estas bandas cisplatinas. 

Não fosse a depredação de algumas cadeiras de alguns torcedores gremistas no Beira Rio, o clássico Gre-Nal ficou para a história por ter sido a primeira final com torcida mista. Pioneiros no mundo, os gaúchos se superaram em civilidade, além de mostrar um bom futebol. O inter vive um grande momento e dominou o primeiro tempo podendo liquidar aquele jogo que o Grêmio dificultou na segunda parte do certame mas que não pode sustentar a boa fase colorada. Dois elencos dispares, mas como todo clássico, nivelados pelo peso das camisas vermelhas e azuis. No final do jogo um espetáculo proporcionado pelo belo estádio mundialista e pela torcida do Inter, podendo comemorar o título de campeão gaúcho, que contracenou na bela iluminação do grande caldeirão vermelho.

Semanas depois se jogaria o clássico Argentino, já haviam se jogado dois River e Boca pelo campeonato argentino, mas este último, que ficou para história, infelizmente pela incitação à violência, era, também, pela Libertadores. Embora a punição do Boca Júnior, já que o jogo foi na Bombonera, esteja muito suspeita por parte da Conmebol, o clube e seus torcedores pagarão pela astúcia de um torcedor apenas, ou de uma facção organizada onde o crime está em primeiro lugar, e não o futebol. Isso criará um âmbito de desconfiança e incentivará a denúncia quando hajam atitudes suspeitas de um baderneiro. Para quem flutua na leitura explico que durante a saída para o segundo tempo, foi lançado no túnel do adversário River Plate uma substância similar a gás de pimenta onde feriu com queimaduras aos jogadores millonários, como são chamados os jogadores do River, e depois de quase uma hora o jogo foi suspenso e a classificação dada ao time visitante. Uma pena, uma vergonha vista a olho nu por todos os amantes do futebol.

Em Montevidéu a coisa foi distinta, do outro lado do charco, a segurança pública organizou um esquema invejável. Peñarolenses em sua maioria, por serem locatários, tiveram acesso ao Estádio Centenário por diferentes avenidas do que seus adversários. Não havia, em um perímetro de mais de dez quarteirões, como encontrar um torcedor rival. A entrada foi vagarosa por causa da mesma polícia que liberava as multidões aos poucos. Cinquenta mil torcedores puderam assistir a um dos clássicos mais antigos da América, e as torcidas fizeram a festa, como de costume no futebol uruguaio. Um empate de 1 a 1 também deixou o público morno ao final do encontro, evitando aglomerações tensas e a saída ocorreu tranquila e civilizadamente. O clássico uruguaio valia pela décima segunda rodada do campeonato clausura, e graças a outros empates no campeonato deixou o Peñarol perto do título do segundo turno, o que já aponta umas duas finais com o campeão do primeiro turno, justamente o Nacional. Teremos supostamente mais dois clássicos, enquanto no Brasil Inter e Grêmio devem se encontrar pelo brasileirão, não sabemos quando poderá acontecer novamente na Argentina. O que fica é o alerta, enquanto no Uruguai e no Rio Grande do Sul fizeram campanhas de boas vizinhanças, no país da Kirchner a poeira levanta num povo que ainda não soube separar a paixão pelo esporte, da insana rebeldia de usar a violência como rivalidade. A todos uma boa reflexão, ame seu time não odeie o outro.

Edição de 20/05/2015 Ano VI nº 213

segunda-feira, 25 de maio de 2015

OS LIVROS DO ESCRITÓRIO DE MEU AVÔ

Era um fim de tarde invernal. Sombras do crepúsculo caiam sobre os telhados. Portas altas e fechadas com trancas de ferro. As janelas escondidas pelas cortinas. No varal, não havia mais nenhuma peça de roupa, pendurada. Tudo era cinza, apenas a casinha do Totó, prendia o pescoço pela coleira arrastada corrente no pátio do quintal.

Acendeu a luz.

- Boa Noite!
Todos respondiam ao mesmo tempo. – Boa Noite! - Era um coro na conversa.

Meu tio Alaídes acabava de chegar do pago de Tacuarembó. Viajou no trem que vinha do Uruguai e trazia cartas de parentes de meu avô. Todas envelopadas e coladas com grude, para não haver violação dos escritos.

- Depois vou ler! Seguidas na direção do escritório. Meu avô guardou! Ali chaveadas junto com os livros que muito prezava.

Ficava no seu quarto trancado e sinalizado por um cincerro de bronze barulhento quando a porta era aberta.
Hora me fazia lembrar onde estavam todos os livros com os quais, dizia: “aqui todos aprenderam a ler e escrever”. Muitas histórias estavam ali, romances, cadernetas de apontamentos, livros de orações, recortes de jornais e documentos importantes. Que curiosidade que tinha, vasculhar tudo, mexer, folhar e poder usar a caneta de pena. Desenhar...

Varou a noite fria. Parecia que todos dormiam silêncio de um breve, nada estava como antes. A casa parecia vazia, desabitada pelas almas vivas que sumiram. Foi então, que aproveitando do momento sonolento dos vivos, pude entrar no quarto e abrir a tampa do escritório de meu avô.

Um susto!

Todos pularam em alvoroço. Uns agradeciam pela liberdade paginada da expressão, outros cantavam cantigas, cantigas antigas. Podia ver os números soltos das cadernetas de apontamentos, somando, diminuindo e alguns dividindo tudo aquilo que estava ali, trancado.

- Quem é você, menino?
- Neto do meu avô! (gargalhadas...) - Há neto de seu avô!
- Somos o pensamento vivo de seus avôs, pais, tios, tias, primos, primas e seus irmãos que à de vir. Somos o exemplo que se forma na cultura e sabedoria de uma família. Por isso somos gratos pela invasão.

O menino.

Mais gelado que a fria noite exclamou: - Invasão?
- Sim, invasão! Quando se penetra em uma escrivaninha, abrindo, vasculhando no sentido descobridor da curiosidade, cabe a todos nós (livros) agradecer o que nos sufoca prendido das prateleiras estantes, supostas estas expostas como troféu ao tempo.


Creio que, nesta noite, vazia, fria, adormecida pelos vultos da casa. Os livros de meu avô. Sim! Os livros de meu avô. Falaram comigo!

Jayme Langlois Pirez Lameiro
Graduado em Turismo - UNIPAMPA

Edição de 20/05/2015 Ano VI nº 213



quarta-feira, 20 de maio de 2015

CANAL DE COMUNICAÇÃO - Vida, Morte, Fé

Por Arnoni Lenz

Às vezes nos encontramos a pensar um pouco sobre nossa trajetória nessa mundo. Gente existe que se nega a pensar, conjeturar ou discutir sobre o assunto, sob a alegação de que nada vai adiantar, nada vai mudar. Penso que isso é uma posição muito simplista, mas não posso discordar que é uma verdade. Se formos tentar explicar ou até mesmo discorrer sobre o que é a vida nada mais temos a dizer do que: é o conjunto de atos vivenciais e existenciais que fazem nosso dia a dia. Será só isso? A vida se resume a trabalhar, procurar nos divertirmos um pouco, dormir, comer e novamente acordar para repetir a rotina? Alguns poucos privilegiados se dedicam a com o fruto do trabalho, ou por terem nascido em situação social mais avantajada, num bom português, numa família rica, viajar e se divertir ao máximo. Ninguém pode negar que viajar é ótimo. Comer bem é ótimo. Viver aproveitando tudo que é bom e tudo do melhor é uma das aspirações humanas. E ninguém de sã consciência pode condená-los, e se isso acontecer é por inveja, no mínimo. Outros dedicam sua vida às leituras, ao estudo, a praticar o bem ajudando os menos afortunados ou que tenham algum problema de saúde. É nisso que se resume a vida? Não sei. E a morte o que será? É o fim de tudo? Nascemos, vivemos cumprindo o que nos é imposto ou aquilo que escolhemos, se é que existe esse livre arbítrio e morremos. E cest fini? E o fim? Está realmente tudo terminado? Alguns dizem que sim. Outros acreditam numa reencarnação, uma volta a esse mundo de uma ou outra forma. Outros há que creem existir uma nova vida a qual recompensará aqueles que aqui foram bons, fizeram o bem, viveram segundo os preceitos da maioria, que logicamente não são os de todos, não são universais. Nosso planeta, e isso se nos referirmos só a ele, é tão grande que princípios que numa região são elogiáveis ou no mínimo aceitáveis, em outra são crimes. E creem também que aqueles que assim não agiram, que aqui só praticaram o mal, também com definições e conceitos totalmente diferentes de um lugar para outro, serão severamente castigados. Também não sei. É mais ou menos o que nos foi ensinado quando crianças, a existência de céu e inferno, com suas fases intermediárias, dependendo de nosso “comportamento”. Bem, aí que vem o último enfoque. Para tudo isso existe uma coisa determinada fé. Já disse alguém: fé é um salto no escuro para os braços de Deus. É como dizer: fé não se explica. Se aceita isso ou aquilo como um dogma. Aceitar dogmas é rejeitar nossa inteligência, nosso raciocínio, nossa capacidade de pensar e discernir. E sempre ouvi dizer que o homem é o único ser racional, isso quer dizer que pode e sabe raciocinar, pensar e escolher? Será que somos realmente racionais? O mundo está nos mostrando totalmente o contrário. A crueldade da humanidade é imensurável, não tem limites. Até parece que quanto piores forem as atitudes de certos povos ou pessoas, mais importantes se tornam, ou temidos. Por isso repito em dizer que é muito estranho dizer-se que o homem foi criado a imagem e semelhança de Deus. Aliás, Deus é também aceito e até adorado por muitos e posta em dúvida sua existência por outros. Isso não levando em conta suas mais diferentes denominações. Pessoalmente acredito que é mister que exista um ser superior que tenha criado esse mundo tão perfeito, tão cheio de dúvidas , mas onde sem doenças é muito bom viver, principalmente se existir ternura e muito amor.

A frase é Laure Conan: NADA É PEQUENO NO AMOR. QUEM ESPERA AS GRANDES OCASIÕES PARA PROVAR SUA TERNURA NÃO SABE AMAR.


Edição de 13/05/2015 Ano VI nº 212