Um espaço aberto para o leitor

sábado, 28 de março de 2015

Coluna Gente Fronteiriça - Um Brasil Que Se Revela


Por Lau Siqueira*

Sinceramente gostaria muito de ter participado da manifestação do último dia 15. Caso fosse mesmo uma manifestação popular e espontânea contra a corrupção. Estaria nas ruas se não corresse o risco de encontrar alguém segurando uma faixa pedindo a volta da ditadura. Afinal, as ditaduras apenas escondem a corrupção. Estaria onde as pessoas não estivessem majoritária e contraditoriamente vestidas com a camisa da corrupta CBF. Também iria se não fosse para encontrar tantos políticos acusados de corrupção. Se não se tratasse de uma manifestação seletiva que foca apenas na corrupção da Petrobrás. Se não fosse uma manifestação tragicamente ressentida de quem tinha certeza que o Aécio Neves (citado na operação Lava-jato) venceria as eleições.

No dia 15 o Brasil acordou estranho. Muito estranho. O Partido dos Trabalhadores é o maior partido da América do Sul. Um dos maiores do mundo. Uma agremiação cheia de mazelas, com algumas administrações descaracterizadas. Seja pela mesmice conservadora, ou pela mediocridade. Mas, como negar as virtudes? Como negar os avanços sociais e econômicos do país? Dói na alma associarem o PT ao comunismo. O PT não tem absolutamente nada de comunista. É um partido fundamentado na velha social democracia europeia, transformando excluídos em consumidores. Isso é puro capitalismo!

Todavia está difícil criticar o PT neste momento. Basta um grama de bom senso para verificarmos que o desafio é outro. Pois do outro lado estão movimentos que se dizem apartidários, mas rezam nas piores cartilhas. Movimentos que sequer fazem questão de esconder seus reais interesses. A estar desse lado, sem qualquer noção da história do nosso país, prefiro apenas defender a legitimidade de uma presidente eleita pelo voto livre e direto. Afinal, a democracia é a maior conquista do povo brasileiro.

O Brasil que se revela manipulado e raivoso não se contrapõe aos petistas ou não petistas envolvidos em corrupção. Se iguala. Mais parece um país de pessoas revoltadas porque não estão levando vantagem. É um país que quer um impeachment apenas para voltar para a frente da televisão e assistir novos casos de corrupção, de impunidade, de violência, enquanto espera a novela das oito. O Brasil que foi para as ruas no dia 15 é um país que quer mudança no governo, mas não quer mudar uma vírgula da história. Um país de pessoas que não merecem vencer porque não sabem perder. Um país de pessoas que se dizem apolíticas, mas cujas atitudes são eminentemente políticas. Um país despetalando raivosamente o futuro. Mas, as manifestações do dia 15 também são fruto da democracia. Ainda bem, pois só a democracia nos permitirá seguir em frente.


* Lau Siqueira, jaguarense radicado em João Pessoa. Poeta, ativista cultural, atualmente ocupa o cargo de Secretário de Cultura do Estado da Paraíba.

Edição de 25/03/2015  Ano IV nº 205



Semana de Turismo

 Turistas uruguaios encaram imensa fila para ingressar no Brasil pela fronteira de Jaguarão 

Neste sábado pela manhã , 28 de março, véspera do inicio da Semana de Turismo no Uruguay,imensa fila de turistas do país vizinho aguardavam  liberação da Polícia Federal, no setor de imigração,  para ingressar no Brasil pela fronteira de Jaguarão. 

Certamente, além de um destino repleto de atrações e destino preferido da maioria dos turistas do Mercosul,   o valor em queda do real em relação ao dólar e ao peso uruguaio é um atrativo a mais para os turistas que visitam o País. 

É de se perguntar se não seria  conveniente por parte dos Ministérios do Turismo e Justiça estudar uma forma de agilizar as formalidades de ingresso ao país por parte de turistas oriundos do Mercosul. Talvez uma declaração de entrada no País que possa ser efetuada pela internet, evitando assim o transtorno e atraso para milhares de turistas em nossas fronteiras. Afinal, o Mercosul existe para integração e eliminação de barreiras, muitas delas , burocráticas. E o incremento do turismo beneficia de sobremaneira a economia.      



O CAMINHO DE FERRO

Por Jayme Langlois Pirez Lameiro 
Turismo Universidade Federal do Pampa

Seis horas da manhã soava o apito do trem no tilintar do sino que dava a partida deixando para trás a estação, devagar rufada do vapor e sonidos ringindo pelos trilhos no caminho de ferro. A plataforma alta, com dezenas de pessoas acenando para quem partia. Lentamente seguia o trem. Podia ver a cidade que ficava pouco mais distante, suas luminárias ainda cobertas pela cerração desenhavam um outono úmido. Logo o agente de terno e quepe marinho, vinha equilibrado pelo encosto dos assentos, ticket-ticket nos boletos de passagem.

Na curva do capão reúno, pela janela do trem, os campos exibiam uma áurea de luminosidade, sinal que o dia amanhecia. O alambrado corria do lado dos vagões parecendo viajar junto. As coxilhas da ramada esverdeavam a paisagem que, a os poucos deixava o sol nascer. Na primeira parada, estação Joaquim Caetano, o negrinho Floriano abraçado ao cesto de vime entre um vagão e outro, andava de pés descalços vendendo rapadurinhas e pasteis, havia sempre alguém que o conhecia da cancha reta de carreira bem acima do corte nos trilhos. Os capins davam sinal que, há muito tempo deixaram de correr cavalos e petiços aos domingos. A tapera do rancho que sorvia aguardente no balcão do boliche permanece há tempos na sombra das acácias.

O galpão sem palhas mostrava o esqueleto do sustento nas varas de eucalipto que cobria seu teto, e o trem dava partida...

A Caixinha d’água, como era conhecida, suspensa por estacas de madeira pintadas na cor negra, esguichava pela manga que mais parecia um elefante abastecendo o reservatório da máquina a vapor. Ficava bem a os fundos do campo de meu avô. Muitos foram às vezes por ali à tardinha, corriam pelos campos entre macega alta e carquejas para ver o trem voltar outro dia.

A trilha do caminho, sinuosa e estreita, fazia a vegetação bater na janela dos vagões, hora podia estar alguns pontilhões cruzando vertentes dos cerros que se aproxima.

O sol já ia alto, quando na estação Mauá, parava o comboio em estilhaços de ferro pelos trilhos. A velha figueira entrelaçada por ervas daninha parasitas deixava cair folhas pelo chão. Muitas foram às vezes nos dias quentes de verão, acolheu na sua sombra viajante a espera do trem.

Desponta entre o mato a pequena Capela do padre Neves, branca do cal e amarelada pelo tempo, deixando em seus registros batizados e casamentos, entre alguma missa e outra, a benção pelo campo. Plantações e pomares com galhos secos dão sinal outonal. A ponte de pedra e o ferro sobre os dormentes da madeira, ainda mostram sinal de firmeza quando lentamente se passava para não descarrila ladeira a baixo, pois o penhasco inclinava na vegetação baixa podendo ver o musgo.

Trabalhadores ferroviários à beira dos trilhos debruçam nos piques do alambrado o suor esticado pelo tempo. Das pequenas casas de madeira pintadas de amarelo queimado, crianças e mulheres acenam em alvoroço. Humildes quadros e retratos enfeitam salas com pequenas mesas cobertas de toalhas estampadas.
A porteira estava aberta sobre a encruzilhada, ao longe se via o corredor sumindo entre a sanga e o curral. Chaves gigantes no cruzamento dos trilhos e algum vagão boiadeiro, esperando a carga dos animais.

As folhas já começaram a cair, sopra o vento mais forte. São quatro horas mais ou menos. O Sol deve estar bem por cima do morro e, se há brisa, as ondulações do açude estarão vibrando nos seus reflexos... Os paraísos cresceram muito nestes últimos anos. Alguma coisa mudou, mas ainda podia sentir-se o perfume e o sabor do butiá maduro por toda a Vila Basilio. Pelo caminho da estreita ruazinha, cachos caídos pelo chão, verdes, maduros e outros apodrecendo.

O Caminho de Ferro chega ao destino de sua baldeação. Esperava agora o próximo trem. Cai a tarde. Encostado num banco de madeira com pregos crivados a martelo, fazia mirar ao longe o crepúsculo da noite sumindo vagarosamente entre as árvores.

Os matizes cambiantes do outono, bancos de estações, trabalhadores e suas famílias, fez retornar... Com a chegada do frio, pelos baixos do clima já se podia sentir constantes madrugadas geladas e ver o campo esbranquiçado, desfalecida, bem invernal. Janelas fechadas, vidros embaçados pela chuva fria que caía no amanhecer, o fogão a lenha, aquecem, criando um clima especial e nostálgico na simplicidade dos casarios. Fez muito tempo, as férias de julho. Corriam agasalhadas na cobertura da estação, arteiras gurizadas esperando o trem.

Entre um potreiro e outro as flores do campo. Passarada ecoando tons de primavera cruzava o céu azul. As flores nos jardins davam nova forma de vida, até a própria figueira à beira do caminho, vestia-se de um manto verde acre para a sombra do verão. Nisto o viajante observa que o campo a vida fica mais exposta sobre o caminho de ferro, ele resume tudo, porque além da geografia privilegiada, é a vida que renasce.
Nesta breve pintura, quando o verde das coxilhas ao longe, prende-se ao horizonte. Revela-se o matrimônio insólito, entre o momento preciso das estações e a suavidade da paisagem.

O Caminho de Ferro podia mostrar a possível contribuição da atividade turística para a preservação paisagística, histórica e poética de uma região, e isto ocorrendo possa ser de extrema relevância, pois muitas paisagens possuem valores simbólicos sobre a história, a cultura e o modo de vida de um povo.

Edição de 25/03/2015  Ano IV nº 205





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Edição de 25/03/2015  Ano IV nº 205