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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

MOCHILADA SEM FRONTEIRAS - México e a Cultura da Festa dos Mortos


Por Guilherme Larrosa

Acabei de voltar de uma viagem onde percorri o interior do México por um mês. Resolvi viajar justo na data da Festa do Dia de Los Muertos, o nosso feriado de finados aqui do Brasil. No México, a morte tem outro significado, eles celebram o retorno dos mortos queridos, festejando nas suas lápides e altares cheios de flores, frutas e comidas. Decidi passar uma semana na capital mexicana, 10 dias no estado de Oaxaca e 10 dias na península de Yucatan, no golfo do México.

Essa viagem vai render umas 3 colunas, pois o país é rico em cultura, história e coisas para fazer. Começando pela Cidade do México, eu achava que seria uma cidade mais caótica que São Paulo, por ser uma das maiores cidades do mundo. Me surpreendi, a capital é sim gigantesca e sua desigualdade social é assustadora, porém o centro da Cidade do México me pareceu menos caótico que eu imaginava. Eu cheguei com a minha mochila no aeroporto as 6h da manhã e meu couchsurfer estava numa região mais ao sul, ou seja, metrô ABARROTADO era a minha visão naquele momento. Depois de 1h pulando de linha em linha cheguei a minha casa mexicana.

Fiquei na casa de uma família que veio do norte do México, me receberam com frijoles (feijão) e abacate, comida rara para começar o dia. A " señora" me explicou sobre a cultura da festa dos mortos, afinal, na casa havia um altar todo decorado com pertences e mimos do pai falecido. Diz ela, que o altar é montado para receber os espíritos no dia 31 de Outubro e a comida não deve ser tocada nem consumida, pois é para o visitante. A Cidade do México é muito bonita, muito espanhola porém com aquele toque latino americano exagerado, que dá nossa identidade. O mais impressionante é ver as ruínas aztecas espalhados pela cidade e pensar que aquela civilização, tão desenvolvida, foi posta abaixo pelos espanhóis. No centro histórico de DF, a cidade azteca está soterrada por anos de inundações arquitetadas pelos espanhóis, após perderem a primeira batalha.

Dizem que quando abriram os túneis do metrô, encontraram os palacetes cheios de pertences intactos, acredito que o maior tesouro da América esteja ali embaixo. Impossível ir a Cidade do México e não ir ao Museu de Antropologia - Ali se aprende tudo sobre nosso continente e sobre todas as civilizações da América central e América do sul, com peças originais e monumentais de cair o queixo. Difícil de não citar também o Mercado de Sonora, um grande mercadão que vende tudo que pode imaginar, eu disse tudo. Quase voltei com uma coruja embaixo do braço.

Visite também o bairro antigo de Coyoacan, onde está a casa de Frida Khalo e suas praças bucólicas e também os bairros modernos de Roma e Condesa.

Ponto forte da viagem: A comida. Prepare-se para ingerir todos os anticorpos possíveis, pois uma viagem ao México, seu corpo vai voltar imune. Tem muita comida de rua, umas muito boas e outras bem assustadoras. Realmente tem todos os tipos de pimenta, desde a mais fraca até lava vulcânica, vale a experiência de comer " los chapulines" que são grilos temperados na pimenta. Nada muito incrível, gosto de inseto.


Por fim, a cidade de Teotihuacan deve ser visitada sim ou sim, ela fica 1h de DF e é uma aula real sobre a cultura Azteca. Não saia de lá sem subir os 300 degraus da Pirâmide do Sol e ver o alinhamento geometrico que desenha a cidade habitada pelos grandes Aztecas.


Edição de 07/01/2015

Coluna Gente Fronteiriça: Florêncio, Vigário pelos quatro costados

Dedico a coluna desta semana a um grande amigo de meu pai e minha família, meu Padrinho, Padre Florêncio Lunelli. 

Para regozijo da comunidade de Jaguarão, querido e admirado por todos,  ele retornou à nossa cidade para fixar moradia na Casa Paroquial da Matriz do Divino. Recupera-se com êxito de alguns problemas de saúde. Nada demais, velhice, disse-me ele.  

Há alguns dias, manuseava seu livro, “Memórias de um vigário”  editado em 1990 e planejei publicar um de seus contos aqui no Gente Fronteriça. E nada melhor do que faze-lo agora, quando está aqui conosco, na terra que tanto ama. 

Reproduzo as palavras do saudoso Cura Vicente  Ramos no prefácio do citado livro, para definir o Padre Florencio. “Es vigário por los cuatro costados. Ser vigário no es una profesión, es una vida, es un sublime destino y un verdadero desafío. Quizá una de las vocaciones más comprometidas y profundamente humanas, porque el vigário no tiene horarios, no se aposenta, y todos sus minutos están envueltos y dominados por su sublime misión”.    

Vamos ao causo escolhido,  o qual revela um dos seus grandes divertimentos, a pescaria, e que tem por título: 

Põe Cachorro Nisso!

Um dos fracos do vigário é a pescaria. Se os deveres lhe permitissem, iria pescar pela manhã e, se o convidassem à tardinha, ou à noite, lá estaria correndo de novo.

Com seu companheiro Joãozinho, de mais  de oitenta anos, hoje falecido, lá foi ele para as bandas do Juncal, no açude de um grande amigo. Com a devida licença e prazer do dono, se instalaram  nas suas margens. Lançadas as linhas, presas aos guizos e sininhos que indicavam as primeiras “mamadas” do peixe e fazem o pescador atento à disparada para a fisgada, foram surpreendidos pela chegada do proprietário, seu Edgard. Trazia-lhes além da costela, o assador. Que cavalheirismo, delicadeza e amizade.

É claro que, enquanto assava a apetitosa carne de ovelha o seu Xisto (este o nome do empregado) mandava os seus tragos de caipirinha. Faz parte do ritual.

E entre os “causos” que se contavam, narrou: “Certa feita, lá pelas alturas de São Diogo (fronteira do Uruguai com Herval) apareceu tanto cachorro comedor de ovelhas, que, escondido num mato, matei pra lá de cem”! Foi então que o seu Joãozinho não se conteve e numa risada gostosa que quebrou as trevas da noite, arrematava: “eta mundo velho, bota cachorro nisso”!

Sempre se ouve contar que caçador e pescador são mentirosos. Não é que mintam. É que, “quem conta um conto, sempre acrescenta um ponto”. Daí, porque tanto os números, quanto as medidas e os tamanhos aumentam.

Aliás, quem passaria uma noite, às vezes em meio a uma mosquitama furiosa, inconveniente e perseverante, sem contar as suas estórias, espantando o sono e esperando o tilintar das campainhas, anunciando que um jundiá ou uma traíra estão querendo disparar?  

Jorge Passos   

Publicado na coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 14/01/2015

CANAL DE COMUNICAÇÃO: Eu sou Charlie

Por Arnoni Lenz

De um momento para outro todo o mundo está consternado com o que aconteceu ao jornal francês CHARLIE EBDO com o ataque bárbaro, radical de descentes de povos árabes que nada tem de islamitas e usam a religião para justificar sua barbárie. O Alcorão, bíblia do Islam, nunca pregou a violência. Alá, o Deus deles, muito menos. As normas seguidas pelo EI não tem uma única referência nas pregações de Maomé, seu principal profeta e que pode ser comparado com o profeta dos católicos que não é nada menos do que Jesus. Portanto não é por atitudes de grupos isolados, radicais e violentos que podemos isolar um povo ou uma raça. O Brasil muito deve aos descendentes árabes que para cá vieram e ajudam nosso país a crescer. Criam suas famílias aqui, casam com brasileiras e são muito bem quistos pelos brasileiros que carinhosamente e às vezes erroneamente os chamam de turcos. Turco é originário da Turquia e palestinos, a maioria dos que aqui vivem, ou outros povos, pois são inúmeros os países de  origem árabe, são como a própria palavra diz: árabes. 

Mas o motivo desse assunto não é exatamente colocar cada um no seu lugar e sim dizer da minha consternação em ver que só agora quando houve um ataque que matou doze pessoas, de um jornal importante, de um país importante e que atingiu a imprensa, ou melhor, a mídia, é que se verificam atitudes mundiais, de autoridades mundiais, de tomada de atitudes de segurança nunca antes vistas. É claro que também repudio esses atos de terror, mas porque o mundo, os países, as autoridades principais do planeta não tomaram ou continuam tomando atitudes semelhantes quando é público e notório que isso e muito pior que isso vem acontecendo por todo o mundo, desde sempre. Ou vamos tapar os olhos para o que vem acontecendo na Síria, onde milhares de pessoas, incluindo mulheres e crianças são trucidadas diariamente, e o que é pior, por dinheiro e poder. Assim poderíamos enumerar dezenas de países onde a situação é semelhante, não haveria papel nem espaço para nos referirmos a todos. O que é que está sendo feito como um todo contra o atual EI, grupo que vem aterrorizando o mundo. E para esses, podem crer que não acredito em atitudes sociais, diálogos, ou seja, o que for. Reconheço que violência gera mais violência, mas citem uma atitude real, plausível que possa pelo menos minimizar todo esse mal. 

No Brasil a coisa não é muito diferente, mas aqui ainda os do mal estão sendo protegidos pela mídia, não sei até quando. Os casos de roubos, falcatruas e sem-vergonhices estão sendo apresentados aos poucos. É só nos lembrarmos da Petrobras, do leite, dos políticos na quase totalidade e agora na saúde e na classe médica. Vou precisar de uma edição completa do meu jornal para me referir a tudo. Para encerrar uma reflexão: SERÁ MESMO QUE A HUMANIDADE FOI CRIADA  À IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS

Publicado na edição de 14/01/2015