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quarta-feira, 18 de março de 2015

A miscigenação das ideias - por vicentepimentero

@pimenterojazz

Não é de hoje que o continente brasileiro, por assim definir a imensidão do território nacional e suas diversas culturas, etnias, e formações de identidades, vive em caos de contradição com sua própria evolução. Desde todo o sempre a independência do povo deixa a desejar e se auto flagela pondo-se em xeque quando o assunto trata-se de interesses, sejam eles políticos, sociais ou da própria formação de sua identidade. Se formos analisar profundamente, o brasileiro confunde-se ao citar a música que o representa, o biotipo e o protótipo que o caracteriza, e ainda, o que quer, para onde vai e o porque? Isto se deve à imponente área que ocupa, sua diversidade climatológica e principalmente, pela história peculiar de cada região, até aí, é de se entender. Numa terra de ninguém ou de muitos alguns, a pátria amada adormece sem saber o dia de amanhã. 

Num episódio recente, pudemos ter certeza disso, depois de uma eleição à presidência, nos deparamos com o circo das incertezas, mostrando que as afirmativas citadas nas primeiras linhas deste texto tudo tem a ver com a discrepância de um povo que não tem medo de fumaça, como diz a canção, mas tem medo de si próprio e as mesmas incertezas que o acalantam no coração da América Latina. A meu ver, o Brasil não vai pra frente, por que o brasileiro impede e se boicota no dia a dia, seu comportamento, sua contradição e seu desentendimento consigo mesmo, fazem, vagarosamente, pôr por água abaixo todas as conquistas conseguidas no decorrer de sua história. Inúmeros pensadores, artistas, cientistas, entre gente sem celebridades que construíram o Brasil a pele, osso e pelo. Qualquer assunto que venha à tona sempre terá um gás de negatividade por conta da sua imensa gama de comunidades, sejam elas reais ou perigosamente virtuais, nos dias de hoje, sempre haverá um freio de mão puxado quando se sobe a ladeira do progresso.

Assim é quando se fala em homo afetividade, na legalização da maconha, e da legalização do aborto, e na escravatura, ainda escondida pelas sombras da sociedade. Recentemente um dos nossos vizinhos pulou essa etapa e caminha para frente. Quando se fala em política social, ainda uma prática contemporânea na Terra Brazilis, parte de um grupo da sociedade, viciado em políticas retrógradas de exclusão, vem à tona questionar tão absurdo comportamento, pois a seu ver, temos ainda que eternizar a cultura de domínio que nos precedeu na triste história do país. Ainda nesta semana, pudemos assistir em HD uma cena deplorável, pela tv e pelas redes sociais, no episódio de uma apresentadora de uma tal rede televisiva, onde, depois de ser convidada a se retirar de uma universidade do Rio de Janeiro, voltamos no tempo, e num piscar de olhos assistimos à uma reconstituição da triste história da escravidão, onde uma assessora acompanhava-a segurando um guarda sol, trazendo à vida real, um pouco dos tempos de Sinhá. Mas o que mais entristece nessa cena, é que não trata-se de um caso isolado, em pleno século XXI, a escravidão física e mental está a serviço de uma nação com mais de duzentos milhões de habitantes, isso é de embebedar qualquer um, contrapondo-se ao progresso. 

Na cachaça surreal da mídia também existem frontes políticos, pois o jornalismo falido do país do futebol e do carnaval é um dos principais formadores de opinião daquelas pessoas complacentes com antigos métodos de governar. Se por um lado, há uma parte da sociedade, indignada com alguns aspectos da política, principalmente com a corrupção, mas levemente colorindo a miscigenação das ideias, por outro lado alimenta-se uma parcela de cães raivosos intelectual e radicalmente falando, pois somos os responsáveis em harmonizar a tensão, com ideias práticas, de reformas, não só políticas, mas de seres humanos. Prova disso é o ódio que cria-se em torno a um país que se diz de braços abertos, onde o desrespeito e a liberdade de expressão, venenosa, letal, ou nociva, comprova que, se realmente Deus existe, está longe de ser brasileiro. Embora devamos respeitar a soberania de cada país, não pode se admitir que um jornal da relevante importância como O Globo, no dia internacional da mulher publique uma afronta como publicou na charge de Caruso, diminuindo a então Senhora eleita Presidenta da República a uma vítima do terrorismo, mais uma vez comprova-se o ódio que se alimenta, por parte da sociedade. Há uma versão de que o chargista tenha escrito pelas mesmas linhas tortas de Deus, mas perdeu a oportunidade de ficar imune às críticas, ou foi oportunista, o que afirma as duas versões. Essas e outras posturas de grande parte da classe média e das caronas doentias de parte da população, é que fazem contradizer um país que deveria ser exemplo para as Américas e para o Mundo. Em parte já o é, pelas vitórias internacionalmente reconhecidas que conseguiu nestes últimos 20 anos, amenizar nas tensões prioritárias, principalmente a fome.

Contudo, arma-se uma passeata sem diretrizes, aparentemente sem partidos e empresas que assumam, embora financiem, monetária ou intelectualmente, um golpe a si mesmo. Os revolucionários do panelaço de apartamento sairão para desaprovar uma porção de coisas, sem ter conhecimento do foco cívico ou das vias em que correm os problemas e as soluções. Aqueles que compactuam com a sórdida lâmina da vingança adormecida, onde seu voto não vingou, sem conseguir mudar o Brasil ao seu jeito e agora não consegue ver o jeito, do seu jeito de governar, e que me caiba a redundância, e de igual a igual, que custe o que custar. Ainda há de relevar que as indignações e as culpas jorradas sobre um eventual partido político, sobressaem e caem na responsabilidade de vários partidos políticos também, inclusive dos pseudo militantes da vez, mas a ignorância é vizinha da maldade e profetizando o dia de amanhã, vou citar novamente Sartre, depois de me citar, O POVO SOMOS NÓS, O INFERNO SÃO OS OUTROS. A todos um bom domingo de descanso e reflexão, aos que realmente amam a pátria e se orgulham do direito democrático de escolher aqueles que nos fazem bem.

Edição de 11/03/2015  Ano IV nº 203





MOCHILADA SEM FRONTEIRAS - Precisa-se uma Central Telefônica


Por Guilherme Larrosa

A equipe já está a todo vapor na produção deste filme, estamos recorrendo as cidades pequenas da serra gaúcha para conseguir mais informações de bons fornecedores e pessoas com acervos próprios. Encontramos pessoas que tem esse hábito de acumular antiguidades de muitas gerações, afinal, o nosso filme se passa na década de 60 e isso cai como uma luva.

Gravaremos em algumas cidades da Serra, para compor os universos da história, por isso a riqueza de objetos e mobiliários coloniais encontrados aqui são um verdadeiro tesouro para nossa produção.

Esta semana tive uma missão de tentar encontrar uma central telefônica de época, aquelas mesas grandes de madeira com muitos pinos e fios que se usavam na década de 60. Encontrar esse tipo de objeto não é nada fácil, mas com a ajuda do povo da serra, consegui muitas informações. Entrei em contato com muitas prefeituras locais e descobri que muitas foram leiloadas, roubadas e até mesmo, abandonadas.

Resumo da história, conheci quase todas as telefonistas da CRT da época, indo de casa em casa, tomando um mate e comendo um biscoito de polvilho com muita conversa e histórias engraçadissimas. Ainda não encontrei essa central, mas acho que deve estar por perto. Aliás, se alguém souber de algo, pode entrar em contato comigo, ajuda sempre é bem vinda.


Nosso ritmo de trabalho começa a mudar a cada semana, pois o nosso tempo de pré produção vai encurtando e temos que estar com nosso acervo completamente cheio para o início da montagem dos cenários. E claro, cada dia que passa chega uma demanda nova de detalhes que fazem toda a diferença, tecido para cortinas, mesa de restaurante, trilho de mesa, talheres da época, enfim. Tudo que se vê na tela, foi pensado e escolhido dentre várias opções para que a composição seja realmente idealizada. Um trabalho árduo e detalhado, mas que é eterno.

Edição de 11/03/2015  Ano IV nº 203