Um espaço aberto para o leitor

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Falar do tempo é uma perda de tempo

por Vicentepimentero

 Cá estou, novamente, criticando os demais. Como Sartre dizia, o inferno são os outros. Se tem uma coisa que me irrita é forçar um assunto através das previsões climáticas. Papo de taxista, sala de espera, incompatibilidade de gênios ou não, por que somos tão óbvios? Por que somos tão cínicos? Por que não falamos de verdade? Bastou subir num táxi que o sujeito vai te falar do tempo. Tá quente hein? Sim né, é verão, respondo eu, o que querias, frio? Posso parecer arrogante ou mal educado, mas prefiro ser eu, prefiro ser sincero, a forçar um assunto que não te leva há nenhum lugar, apenas te faz passar pela vida como quem fica rodando em círculos e dependendo da Rede Globo para conduzir sua vida e seus pensamentos. É como o show de final de ano do Roberto Carlos, o Jornal Nacional, ou a novela das oito, que vida infeliz. 

Mas cada um sabe da sua, cada um sabe que se está mormaço vai chover, se chove vai molhar. Cada um sabe que a vida segue e que a natureza agradece e os ciclos da vida vão continuar iguais, o que pode ser diferente, somente você pode escolher para si, não é o tempo, não é a rede bobo, e muito menos os assuntos triviais e chatos do dia-a-dia ou da vizinha fofoqueira. Mais conteúdo pelo amor de Zeus. Se chove, o máximo que posso fazer é ir correndo ao varal para recolher as roupas quase secas que penduram-se por lá. Se faz sol, cai um temporal, ou o mundo, por que cargas d'água devo ficar comentando ou questionando? Obviamente, que quando organizo um churrasco no pátio de casa ou um evento ao ar livre devo me precaver e precaver aos outros, mas isso é outra coisa. Ficar puxando assunto através do tempo não é a minha, e sai de perto que te atiro com pedras de mal humor. Falar do tempo é uma perda de tempo. Quando do clima, é claro, por que falar do tempo das coisas é lindo, de quanto tempo falta para te ver, ou em quanto tempo realizaremos, materializaremos aquele sonho. Esses mesmos que se importam com o tempo, e enxergam o ciclo da natureza como um fenômeno desconhecido, são aqueles que quando vem uma chuvinha de verão saem correndo da praia como se tivesse chegado o Apocalipse. Os mesminhos que deixam de viver por que seus corpos feitos de açúcar podem se dissolver numa correnteza de beira de calçada, ou, ainda derreter no sol cancerígeno do meio dia. Os mesmos que, enquanto o louco assinala a Lua, eles observam a mão, sem entender que natureza é o todo e não o nada que eles se tornam. Os mesmos que jogam lixo nas ruas ou não cuidam do seu próprio lixo, que vira mais lixo, e entope suas mesmas ruas causando enchentes. A culpa não é da chuva, a chuva veio para esverdear, hidratar, molhar.

 Afortunados aqueles que se banham nas lágrimas do céu, que se queimam a pelo num escaldante dia de sol, que se jorram e se jogam à luz da lua e ficam contando estrelas, que aproveitam a aurora e o entardecer de cores múltiplas e céus inimagináveis. Sortudos, imunes, vivos. Não me venha falar do tempo, como um raio ou furacão, te deixarei estupefato, intacto na mediocridade da pergunta, da adulação ou da falta de criatividade. E eu ainda perdendo o tempo, escrevendo estas coisas.  

Edição de 21/01/2015


Jaguarão. – Ontem, Hoje: Homenagem ao Coronel Manoel Pereira Vargas

Manoel Pereira Vargas
Por Cleomar Ferreira


Por ocasião dos festejos de 27 de Janeiro. ( 1980 )

Ficou à cargo do Poeta Léo Santos Brum esta “charla” em homenagem a um dos heróis desta data, publicada na imprensa local em Janeiro de 1980.

“Vinte e Sete de Janeiro”, como um eco retumbante do passado, voltam os gaúchos remanescentes, pelo sangue e pela tradição dos heróis que te acompanharam na guapa resistência da Cidade de Jaguarão, nos longínquos anos de 1865, agora para trazer-te uma lembrança carinhosa e uma homenagem sincera e de gratidão, assim como a mereceram também aqueles que já tombaram e que deixaram marcada a sua passagem neste rincão, como lutadores pela preservação das crioulas tradições do pago, que foram os Patrões e Patrões Velho do Centro de Tradições Gaúchas “ Rincão da Fronteira”: Arnaldo Valdomiro Ferreira, Hermes Pintos Affonso, Izabel Garcia Tinoco, João Carlos Bandeira Affonso, Ourestes Paiva Coutinho e Walter Dutra da Silveira.

Pois estas flores nativas, que ainda trazem em suas pétalas e em seus talos, o cheiro e a seiva da terra das coxilhas e canhadas, terra riscada pelos cascos dos cavalos, montados pelos guerreiros no ímpeto das cargas de lanças, pelas rodas gemedoras das lentas carretas, que puxaram o progresso, pelo gado que firmou a riqueza do pampa e também pelos rastos de sangue valente dos gaúchos que tombaram nos entreveros e nos combates, em defesa dos ideais de liberdade e da posse do chão nativo, são assim, como um pedaço vivo da verdadeira tradição, que souberam cultuar e que tem em ti, Cel. Manoel Pereira Vargas, um dos maiores forjadores da têmpera que marcou os grandes homens do nosso passado fronteiriço.

Nesta hora de culto nativista em memória à esses velhos guerreiros, parece-nos que. . . . . há tremores sobre o pampa num arrepio de flexilhas, . . . ao lembrar-se velhas trilhas, da macheza do rincão, pois, . . . com cheiro de sangue e pasto, ficou demarcado o rasto desta “gaúcha tradição”,. . . a tradição jaguarense do 27 de Janeiro e do seu Vulto maior, o Cel. Manoel Pereira Vargas.

Aos guapos heróis da brava data de 27 de Janeiro a nossa reverência, admiração e gratidão.

É isso aí, um abraço e até a próxima edição.

Fonte : Bibl.Públ. Mun, Imprensa local – 1980.

Edição de 21/01/2015