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quinta-feira, 3 de março de 2016

A Crise na Saúde por Pablo Rodrigues


Coluna Magis - 29/02/2016
A Saúde no Rio Grande do Sul pede socorro. E parece não haver vontade alguma do governo do Estado em ajudá-la. Pelo contrário. A insensibilidade de José Ivo Sartori (PMDB) e de sua equipe atinge níveis inaceitáveis e assustadores, quase criminosos. Como se não bastassem as piadas infames do governador, que de tudo zomba, a ameaça aos descontentes passou a fazer parte da “agenda” do peemedebista.

A Santa Casa de Caridade de Jaguarão sabe bem. Na última sexta-feira, depois de anunciar a suspensão do atendimento pelo SUS por falta de repasses estaduais, a 3ª Coordenadoria Regional de Saúde emitiu ofício em que evoca questões contratuais e fala de sanções ao hospital caso o atendimento não seja retomado em 48 horas.

Absurda e impiedosamente, o Estado do Rio Grande do Sul busca instituir e legitimar, em flagrante retrocesso nas relações com a sociedade, uma espécie de escravidão institucional: aos prestadores de serviço, só restaria trabalhar. De boca calada, claro. Que ninguém ouse falar em pagamento pelo trabalho, questão secundária diante da crise econômica vivenciada. O governador e seus asseclas esquecem-se do fundamental: há vidas em jogo. Vidas dos pacientes e também dos profissionais da saúde, que amargam com os atrasos nos salários e com a falta de valorização.

Apoiar a Santa Casa de Jaguarão é dever de todos. As obrigações contratuais precisam ser cumpridas também pelo governo do Estado. Cobrar do hospital e ameaçá-lo, sem dar a contrapartida pelos atendimentos, é atitude de um déspota, não de governante em tempos de democracia - frágil e ameaçada, mas ainda assim democracia.

As santas casas de Canguçu e de Rio Grande também vivem situação semelhante à de Jaguarão. Em Pelotas, os quatro hospitais filantrópicos - Santa Casa, Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP/UCPel), Hospital Espírita e Beneficência Portuguesa - peleiam mensalmente para cumprir as obrigações e para receber os recursos devidos pelo governo estadual.

Sartori pode ter recebido o Estado falido. Mas recebeu porque quis. Ninguém o obrigou a concorrer. E hoje é dele a responsabilidade pelo bom andamento dos serviços públicos estaduais, o que não ocorre. É assustador olhar para o lado e constatar o abandono de áreas fundamentais como a Saúde e a Segurança. Com o efetivo cada vez menor e com infraestrutura precária, Brigada Militar e Polícia Civil se desdobram para não permitir que o caos se instaure. Políticas públicas de inclusão social, capazes de em certa medida diminuir a violência, praticamente inexistem no horizonte do governo do Rio Grande do Sul.

Talvez pior do que a situação crítica dos serviços públicos no Estado seja a desesperança que se abate nos gaúchos. Sartori não inspira confiança. Parece perdido como gestor. Na dúvida, segue a cartilha mais óbvia e cômoda em tempos de crise: repassar ao cidadão a conta da incapacidade política de gerenciar.

Aliás, em tempo: a partir desta terça-feira a gasolina e diesel terão os preços reajustados no Rio Grande do Sul. Mais um aumento. Quem aguenta?