Um espaço aberto para o leitor

quinta-feira, 12 de março de 2015

Tempo de despertar - Por VicentePimentero

@pimenterojazz

Enquanto vejo as filas intermináveis nos postos de gasolina e a falta de alguns alimentos nas prateleiras de supermercados, e ainda o desespero geral fomentado por uma mídia golpista, percebo o despreparo da população para um eventual caos, que por ora não passa de uma sistemática articulação da oposição governista, mas que serve de laboratório para rever nossos conceitos, e nos deixa a pergunta, temos o antídoto para salvar-nos do nosso próprio veneno?

Geograficamente falando, temos a boa ventura e a sorte de viver numa região isenta de catástrofes climáticas e munida do nosso ouro mais valioso, a água. Milhões de pessoas vivem a mercê da falta de recursos, sejam eles hídricos, sejam eles de outras infraestruturas e/ou abastecimentos contínuos de alimentos. Observo também que, num momento como este, onde deveria haver união entre as pessoas, o que há é uma onda de egoísmo e egocentrismo. Cada um pensa em seus problemas isolando soluções coletivas com o intuito de amenizar essas tensões causadas pela desinformação e em partes pela indignação de alguns. Há poucas semanas, na cidade de Pelotas, para dar um exemplo, uma chuva torrencial deixou a cidade debaixo de água e a responsabilidade da administração urbana foi dividida com a responsabilidade da população, que assim como no resto do país, não se preocupa com o lixo, logo, sem saber administrar seus meios de comportamento social, também não sabe agir na hora do caos. 

Enquanto nas filas de supermercado e na sinfonia de comentários dos transeuntes somente se fala desses desesperos remotos, penso em voz baixa, para não esquentar a discussão, que a precipitação dessa ira egoísta poderia ser substituída pela precipitação do consumo desenfreado e da poluição desenfreada causada por nós mesmos. Ao invés de boicotar as estradas deveríamos boicotar essas práticas selvagens de consumismo que o capital gera entre nós e domina a lategadas desde as épocas das diretas. Penso nos orientais, em sua sabedoria de viver com pouco, penso nos cubanos, penso em que ao invés de dependermos e financiarmos a guerra do petróleo poderíamos usar outros meios, não só de locomoção mas de auto sustentação, logo de auto estima. 

Vivemos na cultura do latifúndio, mas cantamos com orgulho que em nossa terra tudo que se planta cresce e o que mais floresce é o amor, mentira. Ninguém planta nada, muito menos amor. Bastou viver esta interminável semana pós-carnaval para perceber que somos capachos de nossas próprias escolhas, somos inimigos de nós mesmos, boicotamos nossas vidas e por ventura nossos filhos. Acho que está na hora de reavaliarmo-nos como seres, preparar-nos para outros caos que estarão por vir e nada terão a ver com a política e sim com nossos meios de comportamento. Espero que, quando o verdadeiro caos chegar consigamos ao menos vestir nossas armaduras de Mad Max com sabedoria, senão viveremos nas catástrofes imaculadas e sensacionalistas do cinema ianque, mas desta vez sem conforto, sem pipoca. 

Edição de 04/03/2015  Ano IV nº 202



Jaguarão. Ontem, Hoje - EXEMPLO DE RESISTÊNCIA OU PERSISTÊNCIA

Por Cleomar Ferreira

Sempre que passo pela beira do rio, (Av. 20 de setembro, esq. Gen. Osório ), me chama atenção um “coqueiro” ali existente. Quase no final da fila, onde estão outros de sua espécie. Ao contrário dos outros, parece que luta para manter-se em pé. Seu caule tomado por alguma “doença” ou “parasita”, está longe de ter a mesma robustez dos outros. – É fino, parece frágil, talvez quebre a qualquer momento. Mas ele permanece ali, insistente, fazendo o seu papel na fila.

Quantos ventos e temporais já enfrentou em sua jornada, naquela avenida aberta?! – Mesmo na sua aparente fragilidade, ainda produz, ou ao menos tenta. Já esteve pior, quase seco. Persistiu e hoje está com folhas e frutos.

Passa despercebido, sem chamar atenção, mas segue seu ritmo, produz talvez para si. Para provar ou contrariar a natureza. Posso chama-lo de “Herói da Resistência”, pois para mim, comparando com os outros é assim. Para os outros, frondosos e fortes, é fácil produzir, mas e pra ele ?? –

É um bravo que não tem reconhecido o seu valor. Assim como o nosso rio, que desempenhou um importante papel na famosa data de “27 de Janeiro”, impedindo que o cerco a “Vila de Jaguarão fosse completo e com isso mudando certamente o rumo da história. No limite de suas forças, resiste assim como a Vila.

Essas coisas, plantadas no meio do caminho, sempre me chamam atenção. Não estão ali por acaso. Poderia ser um animal, um objeto qualquer. Nos mostram exemplos. Nos fazem enxergar que cada um pode ter seu ritmo próprio e mesmo assim fazer o mesmo papel dentro de uma sociedade ou na vida de um modo geral. Não adianta querermos ser os coqueiros fortes e frondosos se não enfrentarmos e vencermos primeiros as nossas limitações. Vencermos a nós mesmos é um grande desafio.

Deixo este texto como mensagem de reflexão aos amigos leitores desta coluna.
É isso aí, um abraço e até a próxima edição.


Edição de 04/03/2015  Ano IV nº 202