Um espaço aberto para o leitor

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Coluna Gente Fronteiriça - A Comédia de Norma

Por Octávio Amaral Machado

-Norma morrera! Maria estava a dormir quando sobre este sobressalto acordou-se e presumiu que o anunciador de tal notícia era seu filho Agenor, pois via-se a sua silhueta à luz da manhã resplandecente sob a janela. Respondera para si com tamanho abalo: -Céus, como pôde? Tão moça... Retirou-se prontamente do leito visando seu reflexo ao espelho, e refletindo a passagem da vida para certas criaturas, e da sua: seria breve como a de um roedor ou vagarosa como a de um réptil? Caminhando sobre o assoalho olhou ao relógio, já estava na hora da Missa dominical.

 Prontamente meteu-se em seu vestido, apanhou seu véu e chegando à soleira da Igreja os rumores sobre a morte de Norma era assunto máximo. Todos os que estavam ali a olhavam com certo desdém, pois, Maria despreocupada e desinteressada com certos modelos, de tudo vivia como antiquada. Ao fim do rito, muito melancólica e atordoada passeava sobre os ladrilhos intermináveis do paço quando lembrou-se de comprar algumas rosas no mercado público e entregar-lhe postumamente sobre os rígidos carvalhos. -Pobre Maria- comentavam os alheios-, anda tristonha comprar-lhe rosas... À tarde tomou seu chá compassivamente, fitando seu piano alemão que ganhara de seu pai. -Que tens minha senhora? - questionou sua aia. -Sentindo odores de morte no ar. -Cruz, perigo!- replicou sua aia com um típico sotaque africano, retirando-se. 

A morte de Norma para ela, a senhora da qual conto essa história, resumiu um sensível sentir dolorido, gélido e transcendente, pois não lhe cabia mais a vida. À tardinha resolveu visitar os parentes do cadáver e a receberam com certo espanto ao ver seu semblante. -Estamos em luto certamente, meus amigos... Olharam-se os pais da moça e demais. Maria tomou por ver as vestes vivas e duvidou. -Meus pêsames- fortificando a fala. Olharam-se novamente e riram. -Não entendo-questionou o pai de Norma-, não há morte nesta casa há três décadas! Maria de tanto corar e sentir-se afrontada, deixou cair as flores ao pés e apressou os passos até sua casa temendo cair por seu calçado impróprio para tal ato. Ao deparar-se com seu filho , exclamou raivosa: -Agenor, Agenor, venha cá! - o sangue lhe fervia- Angelicalmente, seu filho lhe aparece persuadido de que sua mãe enlouquecera. -Não tinhas dito tu que Norma morrera? -Sim...A da novela de folhetim em que leio, olhe, um romance fresco... Sem deixar seu filho responder, atropelou a senhora: -E por que não me disse? -A senhora embriagou-se por seus próprios sentimentos e paralisou, temi incomodar e fui-me... Maria, inconformada deitou-se sobre um divã e reformulou o dia tubuloso perdoando seu filho Agenor por tamanho desentendimento. 

Edição de 12/08/2015 Ano VI nº 225