Um espaço aberto para o leitor

domingo, 26 de abril de 2015

A EDUCAÇÃO TAMBÉM IRÁ RETROCEDER?

Por Jônatas Marques Caratti*

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/03/onu-responde-manifestantes-que-pediram-basta-de-paulo-freire.htmlVivemos tempos difíceis. Tempos de manifestações contundentes, porém vazias de propostas, escondidas atrás de bandeiras e camisetas verde-amarelas. Vivemos tempos de retrocesso: trabalhadores perdem seus direitos e adolescentes são encarcerados ao invés de irem às escolas. Em particular, me assustou um movimento chamado “Dogma” que pede o retorno da educação tradicional às escolas. Sua principal crítica é a ideologização dos escritos de Paulo Freire na educação. 
 
A educação tradicional, criticada por Paulo Freire em sua conhecida obra “ Pedagogia do oprimido”, desenvolve questões muito pertinentes e atuais. Para Freire, na educação tradicional o aluno é um ser passivo, alheio a sua existência. O professor expõem conteúdos que são apenas retalhos da realidade, desconexos do mundo do estudante. Nesta concepção o professor é o sujeito do processo. Só ele dá aula, enquanto os educandos são meros objetos. Portanto, a educação tradicional faz o aluno se adaptar ao status quo da sociedade. O conhecimento não o liberta. O acomoda.
 
Por isso Paulo Freire trouxe, em meados da década de 1960, uma nova concepção sobre a educação: a educação problematizadora. Esta concepção pretende conscientizar os educandos da realidade em que vivem. Mostrar que são protagonistas, que podem buscar uma sociedade mais justa. Paulo Freire diria que o trabalho do educador só é efetivo quando fazemos os educandos pensarem. Portanto, a educação não é o ato superior e hierárquico do professor para com o aluno. A educação é um ato de amor, de companheirismo, em que ambos, educador e educando, aprendem e ensinam.
 
Não estou aqui defendendo um professor ideologizado. As Leis e Diretrizes e Bases da Educação (1996) estão bem claras: o professor deve contribuir para o “desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico” do aluno. Espero que o movimento Dogma dialogue com a universidade e perceba os grandes avanços que a educação obteve nas últimas décadas, frutos de pesquisa científica séria e comprometida.

*Professor Assistente do curso de História da Unipampa.

Edição de 22/04/2015 Ano VI nº 209