Um espaço aberto para o leitor

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Coluna Gente Fronteiriça - Um Sabiá no asfalto

Por Wenceslau Gonçalves

Ainda é madrugada na capital dos gaúchos. Reina um relativo silêncio no centro histórico que habito e onde, agora, tento completar meu período de repouso. De repente, assim como num passe de mágica, uma parte da natureza se rebela com os monstros de ferro e cimento que povoam esta nesga de terra cultuada por nossos ancestrais outrora coberta apenas de densa vegetação nativa. Uma manifestação melodiosa de um anônimo sabiá invade os apartamentos, atravessando as vidraças, vindo de algum lugar lá embaixo, onde a vista não alcança.

Na cidade, a vida quotidiana recém começa a estabelecer suas primeiras rotinas. Os cidadãos do bem recém despertaram; os do mal talvez ainda nem tenham repousado. A vida urbana retorna ao mesmo ciclo que encerrou ontem à noite.

Aqui, na semi-escuridão quase silenciosa de meu quarto, sou capaz de voltar no tempo revendo seus iguais que saltitavam libertos e felizes, exibindo o garbo matreiro próprio da espécie nos caminhos forrados de grama em busca de sua ração diária.

O que ouço são apenas algumas notas musicais. Por enquanto há somente a solidão da noite que se esvai em busca de sol. É apenas um pássaro quase comum das poucas matas que ainda nos restam, mas reparem no significado deste som para um urbano limitado em uma grande caixa de concreto junto a tantas outras também encurraladas por impedimentos que eles mesmos criaram para si. É apenas um sabiá que, sem se personificar, apenas se anuncia pelo que tem de mais belo em seu viver: seu canto mavioso e envolvente, consolador e plangente, que acaba ferindo o sentimento de quem o escuta com atenção. Não há como não reparar.

As árvores são tão poucas por aqui, que me é mais fácil imaginá-lo pousado em um contêiner ou talvez na carcaça de um automóvel abandonado em uma viela qualquer das proximidades. Ou - quem sabe? – em uma daquelas réstias de praça espremidas entre gigantes de circulação que, de um momento para outro, fica lotada de pequenos monstrinhos barulhentos e bebedores de combustível que emporcalham o ar que precisamos para respirar.

A natureza se rebela em parte porque estamos acabando com os poros da terra. Acho que o homem também vai acabar se transformando também em um ser sem poros, como tem desenvolvido seus agrupamentos urbanos. Com uma alma sem poros, não há também sentimentos e passam a ocorrer episódios não só como aqueles que resultaram na morte de um menino – tão anunciada pela mídia - mas muitos mais que são sacrificados diariamente pela cobiça e a vaidade de alguns poucos que conseguem transformar o mundo em um lugar impróprio para a beleza e a vida.

Voltando ao sabiá depois das digressões. Encerro sem conseguir desfazer uma dúvida atroz que permeia minha exposição. O sabiá do asfalto saltitará livre em busca de uma companheira a quem dedicará seu canto maravilhoso? Ou estará enjaulado, vítima de algum sádico que se deleita vendo seu lamento através das grades? Confesso que não sei. Vou continuar buscando localizar o meu despertador melódico. Espero que a resposta seja a melhor para o caso. Afinal, o dia já está quase começando novamente e, provavelmente, vou esquecer-me dele, envolvido que vou estar com outras questões que podem não ter a mesma importância do que valorizar pequenas coisas, como esta. Só espero que ele, mesmo sem saber, volte a trazer-me mais alguns momentos de encanto como os desta madrugada.

 Edição de 23/09/2015 Ano VI nº 231




CANAL DE COMUNICAÇÃO - Manchetes

Por Arnoni Lenz

Há órgãos governamentais que tomam decisões dúbias a cada pouco tempo. Às vezes são totalmente contraditórias e criam enormes problemas para todo mundo. Existem situações tão absurdas que além de serem causadoras de enormes despesas para todos que tem um mínimo de participação com o assunto, criam inclusive problemas legais. Hoje tenho a total certeza que a intenção não é de resguardar a população, mas sim extorqui-la. Os que tomam as decisões são certamente beneficiados com as famosas propinas ou presentes que tem muita influência nessas mesmas decisões. Para isso não é preciso que sejam políticos, que o assunto tenha que ser votado, ele pode simplesmente ser decidido pelo órgão determinador das medidas. O que interessa é que o povo, sempre ele, compre determinada coisa exigida e que em poucos dias será revogada. 

Nas decisões do DENATRAM temos exemplos recentes e característicos. Houve um tempo em que o “quite saúde” foi obrigatório, dava multa e outras penalidades. Não durou mais que o tempo de um carnaval. Foi abolido, mas muita gente já tinha comprado e repassado dinheiro beneficiando os amigos do rei. O cinto de segurança teve várias idas e vindas, hoje ele permanece como obrigatório e acredito, útil. O extintor de incêndio é uma piada. Era obrigatório, foi mudado com prazo para ser substituído e agora e opcional. Quando é que a justiça vai também fiscalizar esse órgão fiscalizador? E assim acontece em tudo e em todos os níveis governamentais. As manchetes de nossa mídia são ridículas, contraditórias e mentirosas. O governo pensa em permitir os jogos de azar. Sou totalmente favorável. Joga quem tem e quem quer e não criar impostos que atingem a todos e que além de penalizar vão ser igualmente desviados. As armas foram totalmente proibidas, para mim uma das leis mais ignorantes que já vi. O criminoso vai tranquilamente à tua casa, te toma o carro, o celular ou a carteira, pois está certo que não tens como te defender. Parece que algum dos poucos políticos que pensam, está querendo revogar a proibição, ou pelo menos tornar a lei mais branda. No mínimo deve ter tido um parente próximo ou ele mesmo foi atingido pela bandidagem. No tempo de Getúlio Vargas o jogo foi legalizado associado a espetáculos artísticos e criou a época áurea dos cassinos. Por treze anos, de 1933 até 1946 o jogo legalizado era uma grande fonte de renda para a Nação. Ainda nos resta como recordação o que foi chamado de “o maior cassino da América Latina”, O Quitandinha. Algumas autoridades da época principalmente o presidente Eurico Gaspar Dutra, decidiu proibir o jogo, pois o mesmo era um local conhecido como “fábrica do crime e do vício”.

Pois bem esse lugar agora não é determinado, todo lugar é lugar. Podem então voltar a existir os cassinos e as casas de jogo. Lula, pressionado criou normas proibindo bingos e caça-níqueis, pois não queria todo mundo se locupletando com dinheiro fácil. Até parece, né? Até agora as últimas notícias sobre o arrocho nas despesas federais, o cortar na própria carne, a diminuição de dez ministérios, tudo é mentira. Para solucionar em definitivo a causa deficitária no Brasil é muito fácil, insisto em dizer: é só cortar os altos salários dos poderes intocáveis, daqueles que ganham salários bem mais altos, mas bem mais altos mesmo, do que o teto e que só de penduricalhos e ajudas de custo recebem valores que nem podemos imaginar. É só diminuir o número de senadores e deputados e principalmente fiscalizar o que ganham e o que verdadeiramente recebem. Nós não tomamos conhecimento desses valores. Nem sonhamos o que eles ganham. Dá pena e preocupação com o que vai acontecer com o País e o Estado, mas não vejo saída. Não para minha época. De lá onde vou estar vou cuidar para ver como é que tudo se encaminhou e vou ver também quando foram iniciadas e principalmente terminadas as duas segundas pontes, do Guaíba e do Jaguarão.Muito se tem dito e prometido, mas...

A frase é de Baruch Spinoza: A EXPERIÊNCIA NOS TEM MOSTRADO QUE NADA É MAIS DIFÍCIL AO HOMEM DO QUE CONTROLAR SUA PRÓPRIA LINGUA.

Edição de 23/09/2015 Ano VI nº 231
 
 
 

Desfiando al Destino - por VicentePimentero

Sempre naquela paranoia de saber ou entender de onde viemos ou para quê e por que estamos nisso que chamamos vida (pois tudo na existência deve ter um nome, assim como todo nome deve ter uma existência) ou me perguntando para onde vamos ou temos vontade de ir, assim as quatro e pico decidi escrever esta crônica. Eu chamo assim, e nem me dei o luxo ou o tempo de pesquisar sobre a denominação 'crônica'. Da palavra ou da condução crônica, pois a cavalgada da escrita deixa paisagens para trás ou alvoradas jamais vistas, ou apenas guardadas na tal da memória, mas se foi chamada assim e tiver alguma coisa a ver com crânio é por que era coisa da cabeça. E ou, ou e, e a cabeça não para de pensar.

Mas nem todas as cabeças ou métodos de pensamento tem a fórmula certa para harmonizar o tal do bicho homem. Isso é mais do que vivo e notório, embora ignoremos esse desastroso detalhe da história da humanidade. E essa palavra é tão pequena e tão profunda para alguns milhões de crânios sós. Fica difícil mesmo de entender o que eu nem consigo dizer. Se existe uma explicação ou verdade ou coincidência em qualquer destas linhas confortavelmente lidas, mas incômodas ao passar, é por quê nada é tão incrível do que a falta de sentido verdadeiro de tudo.

Vou contar até três para não ser descoberto como filósofo, pois há guardiões preocupados em guardar algo naqueles bolsos costurados que precisam ser preenchidos, nem que seja com balas de gorjeta, ou nylons de proveta.

Paralelamente estou no Face. Preciso e prefiro ser lido, limpo ou queimado por aqui do que pactuar sobre a inércia dos que nunca foram ou voltaram e mesmo assim tiveram a inexplicável arte de não estar em lugar nenhum.

Estou impossível de escrever sobre cozinha, música ou literato. Acredito saber ou mentir sobre outras coisas. Sobre a louca poesia da vida, sobre tudo isto que é apenas um sonho.

Edição de 23/09/2015 Ano VI nº 231
 
 
 

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Edição de 23/09/2015 Ano VI nº 231