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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Coluna Gente Fronteiriça - A propósito de receitas

Por Wenceslau Gonçalves

 Sem medo de errar podemos dizer que, em relação a crises, todas elas acabam se tornando socioeconômicas, tendo em vista o grau de entrelaçamento que esses setores costumam apresentar. A de agora, mesmo em termos internacionais, não é diferente. Onde começa um problema econômico e quando passa a confundir-se com a questão política é uma coisa muito difícil de definir, se é que se consegue. As decisões a serem tomadas para enfrentar-se uma crise econômica são, obrigatoriamente, políticas. A simplicidade de que possa ser tomada esta ou aquela medida para sanar-se um problema apresentado como econômico é, geralmente, turbada por consequências relacionadas à questão política. Exemplos existem aos milhares. Basta examinarmos os jornais do dia, que estão repletos deles.

Reduzindo a questão ao cenário brasileiro, tanto no âmbito federal quanto no estadual, podemos enquadrá-lo no que acabamos de comentar no parágrafo anterior. Temos ouvido diversas declarações de lideranças, tanto políticas quanto empresariais ou mesmo de segmentos de categorias de trabalhadores, e todos têm apontado soluções que, a primeira vista, podem parecer tão óbvias quanto pueris. Algumas completamente inseridas no terreno da utopia, quanto outras que podem ser incluídas na categoria de impossíveis, dado o número de “se” (condicional) que apresentam e dos quais dependeriam para que fossem minimamente viáveis.

Não sou especialista na matéria, mas considero que algumas providências poderiam ser tomadas que, certamente, carreariam considerável valor monetário às combalidas finanças dos entes financeiros do Estado (sentido amplo). O leitor pode pensar que caí em minha própria armadilha. Em que classificação estariam enquadradas minhas sugestões, que passarei a definir? Modestamente, reconheço que as incluiria entre as que dependem apenas do “se” houver vontade política do Governo, obviamente seguida, também, da vontade política do Congresso Nacional. A meu favor, reconheço que existe um “clima favorável” dada as circunstâncias pelas quais estamos atravessando.
Vejamos, então, algumas sugestões para apreciação e debate daqueles que têm a paciência de acompanhar-me até aqui, que poderiam contribuir para uma sensível melhoria das finanças públicas do País.

1 – Por que, até hoje, não foram legalizados os chamados jogos de azar que, em alguns casos, é a principal fonte de receita de alguns países, além de concorrerem para o desenvolvimento do turismo regional e a ampliação do mercado de trabalho? Alguém já calculou quanto o País perde por ano por não explorar essa fonte de divisas? Haverá alguma coisa que não conhecemos que determina que existam vários projetos que simplesmente se encontram engavetados no Congresso Nacional?

2 – Imposto sobre Grandes Fortunas. Está questão só é polêmica porque implica onerar uma pequeníssima parcela da população que detém ou domina a maior parte da renda nacional, encastelada em seus privilégios, que se negam a dar sua contribuição para solucionar a questão. Também sobre o tema já existe um (ou mais) projetos trancados no Parlamento por óbvios interesses daqueles que têm poder de decidir sobre a vontade política de grande parte de nossos representantes em Brasília.


3 – Contribuição sobre Movimentação Financeira. Este imposto - talvez o mais justo que foi instituído até hoje no Brasil - carrega uma pecha, erradamente, de ser um tributo que prejudica toda a população. Isto é o que foi inventado para a elite justificar sua extinção, com o apoio de um grupo de parlamentares que também se sentia prejudicado pela sua existência. Nada mais mentiroso. A CPMF só era aplicado a partir de um determinado valor, mas servia sim, para que fosse exercido um controle sobre valores que não passavam pelo crivo da Receita Federal. Isto significa que servia para “dedurar” a circulação de grandes capitais – legais ou não - que não pagavam o tributo devido. Era, também, uma forma exitosa de reprimir a chamada “lavagem de dinheiro”, que tanto mal causa à população. Por isso foi suprimido. A alíquota relativamente baixa - se não me falha a memória, de 0,038% – era o suficiente para produzir uma arrecadação de 20 bilhões de reais/ano que foram suprimidos da receita do País e servia para minimizar a estúpida má distribuição contributiva mantida no Brasil através de um sistema onde quem menos ganha é quem mais contribui.

Edição de 19/08/2015 Ano VI nº 226