Um espaço aberto para o leitor

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A Magia da Lagoa

Foto: Portal del Lago

por Vicentepimentero
O apêndice da Lagoa Mirim que nos pertence como balneário de uruguaios e brasileiros no país vizinho, esconde-se em um dos paraísos mais incríveis e naturais por que não dizer da América Latina. É claro que, padrões estéticos à parte, poderia ser um destino turístico melhor balanceado, ora por sua capacidade de carga, ora pelo respeito ao meio ambiente.
Há contradições quanto a suas belezas naturais justamente pelo impacto irreversível desse turismo de massa, que passa pela vida sem dar-se de conta, assim como pela lagoa, sem dar a ela o merecido valor. Mas como tudo na vida não são flores, ainda convivemos com essas afrontas de comportamento social que destoam com o que se quer para o nosso entorno. Quando digo o que se quer, me auto intitulo porta voz daqueles que vivem a lagoa desta maneira apaixonada, onde a relação homem e natureza atravessa os limites da preservação, seja ela, através do respeito à dita natureza ou, apenas, à contemplação da mesma.
Fraldas usadas e jogadas na areia à parte, pode se dizer que a Laguna continua apaixonando a todos e as quantidades de famílias e pessoas que escolhem o balneário como sua casa, decidem ir morar por lá, crescem dia a dia a diversidade de sua vegetação, seja ela nativa, de médio ou grande porte, seja ela caseira, através de plantas, jardins, e amor ao meio em que se vive.
Na lagoa a regressão de pássaros, a diversidade biológica, e o contato explícito com a natureza fazem com que qualquer pessoa se encante à primeira vista, olhar, sentir, cintilar. Os poucos quilômetros que separam o charco d'água doce do mar, trazem um ar holístico com energia pampeana que apazígua qualquer alma batida que por ali se aprochegue. O luar, assim como o pôr do sol são os mais lindos que já vi, e olha que me dedico a isso. Na lagoa o tempo é outro, naquele rinconcito al este del Uruguay, as plantas florescem com sabor a vida pura, os mais lindos pássaros te visitam na hora do chimarrão, e quando a madrugada entra os jovens se entorpecem de noite na areia tíbia onde abunda a água límpida pelos juncos.
Para ser Lagunero basta somente saber algumas coisas, entre elas, que ali habitam seres totalmente apaixonados e entrelaçados com a natureza. Vou usar uma frase que meu caro amigo Odyr publicou, há muitos anos atrás, quando falava do meu primeiro bar, lá na cidade de Pelotas...."vá, mas não avise os Alliens"
Publicado na edição de 07/01/2014

Os 118 anos do Teatro Esperança

Em 2009 iniciou o restauro, ação do IPHAN e Prefeitura, com recursos do PAC Cidades Históricas

por Andréa Lima

Enquanto escrevo este texto, imagino o quanto a cidade estaria em polvorosa há 118 anos , com a inauguração do Teatro Esperança.

Com certeza este seria o assunto mais falado nos bares, lares, vielas e esquinas.

A construção teria iniciado dez anos antes, no ano de 1887, e a noite de 13 de janeiro de 1897 prometia um fabuloso espetáculo com a Companhia Lírica e Operetas Cartocci.

Não foi o primeiro teatro da cidade, mas o grande fluxo de artistas vindos dos grandes centros do país em direção ao Uruguay e à Argentina exigia uma casa de espetáculos à altura. Também eram muitas as companhias rio-pratenses que ingressavam ao Brasil pela fronteira Jaguarão-Rio Branco e que, por aqui, se apresentavam e angariavam fundos para seguir viagem.

Nos primeiros tempos, não havia a ponte, e os artistas desembarcavam dos vapores no porto, com suas vestes e trajes coloridos. Chamavam a atenção dos guris de calças curtas, ruborizavam as moças e, de uma forma ou de outra, mexiam um pouco com a vida de toda a população.

Eram muitos e diversos: cantores, mágicos, dançarinas e trupes circences, que promoviam rebuliço por onde quer que passassem. Talvez fosse por isso que o Teatro Esperança, no começo, possuía um tablado móvel, que poderia ser removido, transformando o espaço em um grande picadeiro.

Contam que além das apresentações artísticas, aí também eram realizadas festas e bailes de carnaval.

No Teatro havia um depósito de carbureto, utilizado como combustível de iluminação, arquibancadas, como acomodações típicas do formado polytheama, e uma cocheira, que ficava localizada aos fundos da edificação. O prédio possui uma acústica perfeita, considerada entre as melhores dos teatros decorativa mural.

Naqueles tempos não havia televisão e, talvez por isso, a casa passasse cheia. Em um período posterior, com o advento da sétima arte, o Teatro também funcionou como cinema, com os melhores filmes em cartaz. Com o passar do tempo e a estrutura se tornando precária, o local foi, aos poucos, se esvaziando. Faltavam recursos para as reformas tão necessárias e as verbas de seus proprietários não eram suficientes.

Em 1990 foi tombado como Patrimônio Histórico do Rio Grande do Sul e, em seu centenário, no ano de 1997, foi municipalizado.

Quando era criança, frequentei muitas vezes o teatro, com as peças amadoras infantis e as promoções escolares. Na adolescência lembro muito bem dos agitos do Jaguararte, dos espetáculos de dança e dos números de teatro e música que, de vez em quando, aconteciam por aqui. Passei um tempo longe da cidade e, quando retornei, ainda pude acompanhar aquele que acho que foi seu último espetáculo antes do restauro, uma apresentação maravilhosa do “Caminhos de Si”.

Restauro em fase final - foto Fernanda Cassel
Em 2009, com uma ação articulada entre a Prefeitura Municipal e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, através do Programa PAC Cidades Históricas, começaram as obras de restauro do Bem.

Recuperou-se o telhado, a pintura mural e parte das galerias, que estavam em estado avançado de comprometimento. Com a segunda etapa do programa as obras prosseguiram e, apesar da demora e complexidade típicas de uma obra de restauro, o prédio em breve será devolvido em excelentes condições ao uso da comunidade.


Vida longa ao Teatro Esperança, desejamos mais 118 anos de história!


Edição de 14/01/2015
foto Fernanda Cassel