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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

O veneno está na mesa

Por Andréa Lima

No domingo assisti a um programa em um canal, que aborda temas sobre o meio ambiente, e vi uma reportagem sobre o uso de venenos agrícolas, onde se falava sobre o Brasil ser o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Peraí, é isso mesmo, estamos ouvindo bem. Embora o dado não seja novo, pois desde 2008 ocupamos esta posição, penso que não demos, ainda, a devida importância a ele. Estamos consumindo, todos os dias, veneno pra caramba!

Está em nossa mesa, afetando diariamente a nossa saúde, nos legumes e hortaliças, nas frutas que comemos e damos para nossas crianças, na expectativa de ter uma alimentação de qualidade. Também atinge muitas fontes de água e desequilibra a fauna e a flora, com a extinção de diversas espécies e a proliferação de doenças, sobre as quais ainda sabemos pouco.

Apenas para ilustrar a gravidade do problema, vamos para os dados.
O Brasil se destaca como o maior consumidor mundial de agrotóxicos, seguido pelos Estados Unidos, de acordo com um estudo da Universidade de Oxford. Em oito anos, a quantidade utilizada por área plantada no Brasil mais do que dobrou, passando de 70 kg por hectare em 1992 para mais de 150 kg por hectare em 2010, segundo o relatório “Indicadores de Desenvolvimento Sustentável – Brasil 2012”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Estes dados estão diretamente associados à alta produtividade e a importância do agronegócio em nossas terras, que também são muito marcadas pelo monocultivo. Somos líderes mundiais na produção de cana de açúcar, laranja, café, entre outras, e o segundo lugar na produção de soja, onde nosso Estado se destaca e Jaguarão tem um papel importante. O pimentão está no topo da lista dos alimentos mais atingidos pelos compostos químicos e mais de 90% de sua produção apresenta taxas de contaminação inadequadas para o consumo, de acordo com a Anvisa.
Outro problema que nos atinge é a precariedade na fiscalização. Embora o uso de agrotóxicos seja regulado principalmente pela Lei nº 7802/89, que rege o processo de registro de um produto agrotóxico, regulamentada pelo Decreto nº 4074/02, não temos condições de monitorar o uso adequado e de controlar e avaliar, realmente, os impactos na saúde. Também nos deparamos com a necessidade de revisão da permissão de entrada de alguns produtos no mercado, por conta da toxicidade de algumas substâncias, que já foram proibidas em diversos países em função de danos ambientais, sociais, econômicos, mas que ainda são permitidas no Brasil.
Não quero, aqui, mostrar apenas um lado da moeda, pois se trata de um debate complexo, com muitas questões que devem ser levadas em conta, quando se trata da produção de alimentos em larga escala. Mas não me agrada nem um pouco pensar que eu e você, leitor, consumimos, em média, 5, 2 litros de veneno por ano.
Precisamos dar passos mais firmes em direção ao fomento de pesquisas na área do plantio, no desenvolvimento da Agroecologia e dos incentivos à agricultura familiar. Devemos, também, repensar as decisões políticas que o nosso país adota, já que muitas campanhas são, ainda, financiadas pelo empresariado do alto escalão do agronegócio. Talvez, assim, seja possível descortinar o véu que nos leva sempre a seguir o mesmo caminho, quando podemos radicalizar e ousar lutar por um mundo com menos poluentes. Do contrário, conforme anuncia o saber popular, “quando a última árvore for cortada, quando o último rio for poluído, quando o último peixe for pescado, veremos que dinheiro não se come”
Edição de 11/02/2015  Ano IV nº200 

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