Um espaço aberto para o leitor

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Coluna Gente Fronteiriça - O Triângulo do Patrimônio Histórico Brasileiro

Estampa de Camisetas  - Patrimônio presente na arte 
Por Jorge Passos

A literatura tem o poder de nos transportar a cidades como se andássemos por suas ruas. Elas são verdadeiras personagens em muitas narrativas. Como não associar Buenos Aires com Jorge Luiz Borges, Dublin com James Joyce, o Rio de Janeiro “velho” com Machado de Assis? Sem a mesma expressão ou fama desses autores, apesar de não menos importante no Cânone literário brasileiro, Josué Montello no seu romance histórico, Os Tambores de São Luís , retrata em pormenores a antiga capital do Maranhão na caminhada de Damião, o negro escravo que vira professor de Latim e ferrenho abolicionista. O romance traça um panorama cultural da sociedade escravocrata maranhense do século XIX com centenas de personagens extraídos da vida real. Trata-se de uma leitura daquelas que apaixona e não se pode parar.

Posso afirmar que esse livro foi um dos principais motivadores de minha viagem a São Luís, além do fascínio e admiração que tenho pelo nordeste, o clima sempre prazeroso e agradável, uma promoção de passagens áreas irrecusável e alguns dias de férias neste atípico morno mês de agosto nestes pagos do sul. Atravessando o Brasil em algumas horas, com saída em Porto Alegre à tardinha, alguma espera em Guarulhos, chegamos em São Luís na madrugada do dia seguinte. 

O turismo histórico é uma das principais fontes de recurso da capital maranhense. Vi muitos turistas europeus e um detalhe, na sua maioria jovens. Italianos, belgas, holandeses, franceses. Também chineses e coreanos. Quando visitávamos a Cafua , prisão de escravos, encontramos um casal , ele argentino , ela belga e o meu espanhol fronteiriço auxiliou bastante o guia encarregado do passeio pelo local. São Luís também é porta para um turismo mais ligado à natureza. A 260 Km dali ( multiplicado por dezenas de quebra-molas que encompridam a jornada) está situada a cidade de Barreirinhas ao lado dos lençóis Maranhenses. É um passeio para quem gosta de aventura e exige bastante preparo físico. Trilha em 4x4 corcoveando por 18 quilômetros de areia no meio da mata , um paredão de duna de 200 metros e mais uma caminhada de dois mil metros pela areia para chegar às lagoas formadas no meio das dunas. Mas a paisagem vale a pena.

Na maior parte do tempo fiquei pela São Luís de Josué Montello e do Damião. Rua da Inveja, da Estrela, Rua do Sol, do Mocambo. A capital maranhense conserva ainda hoje, num bom costume para as cidades históricas, o mesmo nome originário de suas ruas. A tradição não se perdeu em homenagens a figuras políticas passageiras. Ainda sonho em restaurarmos a nossa “Praça 13 de Maio” em Jaguarão.

Se traçássemos uma linha interligando São Luís , Ouro Preto e Jaguarão , teríamos um polígono que poderíamos denominar de Triângulo do Patrimônio Histórico Brasileiro. Três momentos históricos em três cidades diferentes .A primeira, mais antiga, século XVII, ligada ao ciclo do algodão, o "ouro branco", a segunda, século XVIII, ao ciclo da mineração, "Ouro Preto", e a terceira, mais recente, no século XIX, a fronteiriça Jaguarão, ao ciclo do charque, uma espécie de “ouro vermelho”.


Nossas potencialidades em relação ao turismo histórico são imensas assim como São Luís e Ouro Preto, que já usufruem desse legado. Resta para nós, melhor explorá-las.  

Edição de 02/09/2015 Ano VI nº 228