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sexta-feira, 21 de agosto de 2015

A volta dos Mercados Públicos por Vicentepimentero

Restauro Mercado Público Jaguarão - foto Brasil Arquitetura

Existe um lugar onde o bem comum paira entre caixotes de verduras, artesanatos, secos e molhados, transeuntes e populares, e os aromas de temperos à céu aberto. São os Mercados Públicos. No coração das cidades esses centros foram sempre locais de abundância, novidades e principalmente, grandes locais de trabalho e geração de empregos. Em seus primórdios, navios e carroças chegavam abarrotados de mercadorias para abastecer esses grandes palácios do comércio, couros, grãos, aves, cestos, e todo tipo de mercadoria artesanal e orgânica eram despejados nesses templos que até hoje vivem e sobrevivem nas grandes e pequenas cidades históricas do país.

De norte a sul, os Mercados Públicos dão aquele charme arquitetônico e genuíno que destaca e traduz os poderes estéticos da cidade e de seu povo. É ali que se encontrarão a preços justos as iguarias ou objetos que caracterizam o seu povo. Se quisermos conhecer a cultura local nada melhor que uma visita ao Mercado de sua cidade, cachaças, melados, sandálias, especiarias, panelas, lembranças, berimbaus, tambores, frutas, hortaliças, poções, elixires, brinquedos, sais, incensos, e infinitas raridades se encontrarão nesses feirões entre ferro e paredes antigas. No Mercado antigo do Recife os peixes são expostos ali, à moda antiga, na intempérie e calor seco do nordeste, entre as bancas de caldo e buchadas, misturando os odores e remetendo-nos às mais antigas histórias, as mesmas que ajudaram e ajudam a construir, Brasil de tantas estórias. Na pele de seus vendedores o tempo é recíproco à velhice desses enormes casarões, o sol, as rugas, as mãos calejadas do trabalho árduo, tudo isso nos faz viver mutuamente a vida e a lida dos Mercados. Em São Paulo a imensidão de seus corredores abarrotados de conservas, anchovas, sucos, batidas, fiambres e queijos, dão lugar ao clássico sanduíche de mortadela, não há como visitar a cidade da garoa e não visitar seu Mercado Público, seria quase uma ofensa pro paulistano. Em Florianópolis a banca 35 e sua tradição em petiscos e folclore turístico, em Porto Alegre a salada de frutas da banca que não me lembro do número, mas que fica no térreo. O bar naval, os choppes, e os imigrantes que colonizam fielmente as lojas de insumos, delicatessen, umbandas, cafés.

Descendo ainda mais, chegamos ao Mercado Público de Pelotas, recém-aberto, nessa nova etapa depois da reforma. Em poucos meses ganhou novamente vida de Mercado. Feira da Pulga, Samba, Cafés, e a torre contemplada como nunca, seu desenho, sua luz, um símbolo para a Princesa do Sul. E têm frutos do mar, parrilla, pizza, temperos, cachaças, floriculturas, cabeleireiro, cheio, gentes interessantes, que escolhem um café para ler, contemplar, fotografar, e por que não dançar.

Ah que beleza a velha nova vida dos Mercados Públicos. E as figueiras de Jaguarão, suas sombras esperam ansiosamente que abram as portas do nosso velho e majestoso Mercado. Ali também teremos um tempo para parar um instante no tempo e apreciar aquilo que sempre nos pertenceu e que nos põe entre as cidades que desenham a história deste sofrido Brasil.

Um lugar para aproveitar, uma casa de vó, um Mercado só pra nós e pra aqueles que amam nossa cidade.


Em breve, muito breve, me verei escrevendo sobre esta cidade única bebericando um suco, um café, um chopp, e vendo que se existe história, existe um Mercado Público. Saúde!!

Edição de 12/08/2015 Ano VI nº 225