Um espaço aberto para o leitor

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Não fazem mais música como antigamente - por Vicente Pimentero

E não fazem mesmo. E nem falo do antigamente de Bethoven, Mozart, Bach. Falo de um antigo mais recente, dos anos 50, 60 e 70. Falo dessas vertentes inglesas do rock e por tudo que se fez nesses anos mundo afora. Bastou me deter por alguns minutos nas reprises dos shows de Queen e Rod Stewart no Rock in Rio, que a ficha caiu como uma moeda saltitante na lataria de uma juke box. E eu ainda tive a sorte de conhecer uma máquina dessas que tocava vinil, numa sorveteria, em Montevidéu, como é bom ser velho. O vocalista que jamais tentou substituir o insubstituível Freddie Mercury, Adam Sandler, emocionou e deu gás ao legendário grupo timbrado pela inconfundível guitarra de Brian May e às músicas do Queen, enquanto Rod Stewart, por sua vez, enalteceu a participação das mulheres em seu show, os bateristas charmozões, de ambas as bandas, mostraram por que o rock ecoa gerações com a elegância de um dos estilos de música e de vida mais clássicos da nossa história recente.

Voltando pros fones de ouvido e a madrugada que silencia, enquanto o Miles observa os De Johnets da vida ou os MacLaughin fazerem misérias nas campanhas harmônicas no jazz inevitável do trompetista, me ponho a escrever sobre a riqueza e a seriedade com que se via e sentia a música naqueles tempos. Hoje eu vejo muito isso em algumas bandas de rock argentino ou alguns músicos amigos e hermanos nos circuitos em qual circulo, mas de um livro que já citei, do André Midani, 'Do Vinil ao Download' vem a triste realidade de exprimir a música da atualidade, que se arrasta desde o fim dos 80, como uma música banal, preguiçosa, quase inútil. Até as vezes comparo as arquiteturas de séculos passados com a minimalidade atual. Mesmo morando em caixas de pedra, madeira e vidro, que aparentam requinte e modernidade, é na preguiça do artífice ou na monotonia do autor que a arte vai morrendo.

E assim vejo que a cada dia se comercializa mais a parada. Sem falar nos recursos atuais que a tecnologia nos proporciona. Vai explicar um caso desses pro Stevie Ray Vaughan. Só por que ele já se remexe no caixão há muito tempo vendo tanta coisa ruim chamada rock. Como se fosse a intrépida apropriação do funk setentista comparado com o estilo bate estaca das periferias. Mas o povo quer dançar, a alegria está em primeiro lugar, foda-se o rock, né? Nananinanana, o rock sobrevive nas guitarras dos guitarristas infiltrados em bandas de qualquer estilo, está estampado no suor dos bateristas boicotando a serenidade de qualquer balada, no grito estonteante dos vocalistas que reverberam a altura dos auto falantes, o rock não se veste de rock, seu traje é um talagaço de uísque à moda caubói, sem gelo.

No entanto, vá até o bar mais próximo e se estiver tocando rock sinta-se no cenário ideal, o rock é o amigo de balcão, o rock é o futebol do dia anterior, na canha, na cancha ou na torcida sempre tem um ampli por perto.

Para aqueles que querem entender um pouco mais sobre o que estou querendo dizer, escute um disco inteiro do Queen, do Rod, do Deep Purple, de preferência o Machine Head, um Herbie Hancock, ou o House of the Holy do Led, o meu preferido, ou qualquer do Led. Põe na vitrola ou no teu emepêtrês um ACDC, sente a energia. Mas se quiseres ouvir rock brasileiro até um Raul serve, daqueles bem desprolixos e barulhentos ou curte os cogumelos dos Mutantes, por que rock é uma mistura de alma (blues) improviso (jazz) e energia (magnetismo).

Deixo uma lista essencial para se criar no mundo do rock, para que no seas un bolu de esos que gritan yeah.


Elvis, Beatles, Stones, Cult, Van Halen, Secos e Molhados, Kiss, Guns, Sabbath, Joe Cocker, Janis, Ten Years After, Pink Floyd, Metallica, Iron Maiden, Police, Doors, Rush, Jetro Thull, James Brown, Fleetwood Mac, Cream, Aerosmith, Dire Straits, David Bowie, Divididos, Red Hot Chilli Peppers, entre inúmeros mitos vivos ou lendas vivas do estilo.

Edição de 30/09/2015 Ano VI nº 232