Um espaço aberto para o leitor

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Coluna Gente Fronteiriça - Amigo Fiel

Por Maria do Carmo Passos

Sou da mesma estirpe de Argos, fiel companheiro de Ulisses aguardando por sua volta ao lar no poema Odisseia de Homero . Apesar de ter ares de fidalgo, significando "filho de algo" todos me reconhecem pelo nome de Amigo. Sou querido e muito conceituado em nossa cidade. Modéstia à parte, todos me conhecem. De linhagem direta dos (RND) cujo significado é o seguinte: RACA NÃO DEFINIDA, tenho imenso orgulho de minha descendência canina.

Desconheço minha verdadeira origem; segundo o Carlinhos, artista e pintor profícuo de nossa cidade, fui adotado e criado por uma funcionária do Hotel Sinuelo, de jaguarão. O local pertencia à categoria dos estabelecimentos chics de nossa cidade, dando-me assim a oportunidade de obter informações de grande utilidade. Dentre elas, escapei do estigma de ser chamado de cão de rua. Outra façanha por exemplo e que merece grande destaque diz respeito aos animais de estimação. Não só cães. Nossas patinhas festivas representam um grande perigo para as malhas das meias das senhoras e para as calças masculinas. Portanto , toda aproximação tem de ser cautelosa e comedida.

Ao perder minha mãe adotiva, sai em busca de um local seguro em busca de proteção. Acostumado com determinado trajeto, circulava na maior parte do tempo entre a avenida 27 de janeiro e o Bar do Alemão . Ali encontrei abrigo junto ao proprietário, o Sr. Orlando e sua esposa, onde estabeleci moradia até os dias atuais. Floresceram entre nós apurados laços de amizade e aproximação.

No que se refere ao meu estado de saúde, raramente causo transtornos, conto com uma linhagem que tem me favorecido muito. Devo isso à grande imunidade inerente ao meu organismo, dificilmente sou vítima de qualquer doença, por mais grave que seja e que facilmente atinge diversos colegas pertencentes à minha categoria. Atualmente, junto aos meus pais, a quem dedico a maior parte do meu tempo, mantendo estreitos laços familiares, procuro manter com todos aqueles que nos cercam um grande , carinhoso e imenso afeto mesclados de amor e gratidão.

A relação com papai Orlando e mamãe Iracema, são mútuas e de extrema integridade. Todos sabem que o cão é o melhor e mais fiel amigo do ser humano.

Em raras ocasiões nos desentendemos, consigo acompanhá-los nas visitas, incluindo qualquer residência. Meu comportamento, modéstia à parte é de dar inveja a qualquer outro representante de minha raça. Costumo, durante a permanência na casa, quando acompanho meus amos, permanecer calado e nada escapa aos meus ouvidos apurados. Assemelho-me a um cão de porcelana, tamanha é minha discrição. Faço questão de não ser notado.

Hoje, felizmente encontrei meu verdadeiro lar, enquanto meus pais se distraem com alguma tarefa, aproveito a deixa e dou algumas escapadas, típicas de qualquer jovem de minha raça.

Entretanto, permaneço atento ao horário e raramente me atraso na chegada.

AMIGO, além de fidalgo jaguarense estou pronto a dar uma mão a todos aqueles que necessitam de minha ajuda. Afinal, sou um Cavalheiro e mesmo que não me peçam , lhes dou este conselho meu caro leitor ou leitora. Se estiver carente de companhia agradável olhe com carinho para os meus companheiros desafortunados que andam a esmo pelas ruas ou abrigados no Canil Municipal. Com certeza, em algum deles você poderá encontrar um fidalgo como eu.


Edição de 16/09/2015 Ano VI nº 230