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sábado, 28 de março de 2015

O CAMINHO DE FERRO

Por Jayme Langlois Pirez Lameiro 
Turismo Universidade Federal do Pampa

Seis horas da manhã soava o apito do trem no tilintar do sino que dava a partida deixando para trás a estação, devagar rufada do vapor e sonidos ringindo pelos trilhos no caminho de ferro. A plataforma alta, com dezenas de pessoas acenando para quem partia. Lentamente seguia o trem. Podia ver a cidade que ficava pouco mais distante, suas luminárias ainda cobertas pela cerração desenhavam um outono úmido. Logo o agente de terno e quepe marinho, vinha equilibrado pelo encosto dos assentos, ticket-ticket nos boletos de passagem.

Na curva do capão reúno, pela janela do trem, os campos exibiam uma áurea de luminosidade, sinal que o dia amanhecia. O alambrado corria do lado dos vagões parecendo viajar junto. As coxilhas da ramada esverdeavam a paisagem que, a os poucos deixava o sol nascer. Na primeira parada, estação Joaquim Caetano, o negrinho Floriano abraçado ao cesto de vime entre um vagão e outro, andava de pés descalços vendendo rapadurinhas e pasteis, havia sempre alguém que o conhecia da cancha reta de carreira bem acima do corte nos trilhos. Os capins davam sinal que, há muito tempo deixaram de correr cavalos e petiços aos domingos. A tapera do rancho que sorvia aguardente no balcão do boliche permanece há tempos na sombra das acácias.

O galpão sem palhas mostrava o esqueleto do sustento nas varas de eucalipto que cobria seu teto, e o trem dava partida...

A Caixinha d’água, como era conhecida, suspensa por estacas de madeira pintadas na cor negra, esguichava pela manga que mais parecia um elefante abastecendo o reservatório da máquina a vapor. Ficava bem a os fundos do campo de meu avô. Muitos foram às vezes por ali à tardinha, corriam pelos campos entre macega alta e carquejas para ver o trem voltar outro dia.

A trilha do caminho, sinuosa e estreita, fazia a vegetação bater na janela dos vagões, hora podia estar alguns pontilhões cruzando vertentes dos cerros que se aproxima.

O sol já ia alto, quando na estação Mauá, parava o comboio em estilhaços de ferro pelos trilhos. A velha figueira entrelaçada por ervas daninha parasitas deixava cair folhas pelo chão. Muitas foram às vezes nos dias quentes de verão, acolheu na sua sombra viajante a espera do trem.

Desponta entre o mato a pequena Capela do padre Neves, branca do cal e amarelada pelo tempo, deixando em seus registros batizados e casamentos, entre alguma missa e outra, a benção pelo campo. Plantações e pomares com galhos secos dão sinal outonal. A ponte de pedra e o ferro sobre os dormentes da madeira, ainda mostram sinal de firmeza quando lentamente se passava para não descarrila ladeira a baixo, pois o penhasco inclinava na vegetação baixa podendo ver o musgo.

Trabalhadores ferroviários à beira dos trilhos debruçam nos piques do alambrado o suor esticado pelo tempo. Das pequenas casas de madeira pintadas de amarelo queimado, crianças e mulheres acenam em alvoroço. Humildes quadros e retratos enfeitam salas com pequenas mesas cobertas de toalhas estampadas.
A porteira estava aberta sobre a encruzilhada, ao longe se via o corredor sumindo entre a sanga e o curral. Chaves gigantes no cruzamento dos trilhos e algum vagão boiadeiro, esperando a carga dos animais.

As folhas já começaram a cair, sopra o vento mais forte. São quatro horas mais ou menos. O Sol deve estar bem por cima do morro e, se há brisa, as ondulações do açude estarão vibrando nos seus reflexos... Os paraísos cresceram muito nestes últimos anos. Alguma coisa mudou, mas ainda podia sentir-se o perfume e o sabor do butiá maduro por toda a Vila Basilio. Pelo caminho da estreita ruazinha, cachos caídos pelo chão, verdes, maduros e outros apodrecendo.

O Caminho de Ferro chega ao destino de sua baldeação. Esperava agora o próximo trem. Cai a tarde. Encostado num banco de madeira com pregos crivados a martelo, fazia mirar ao longe o crepúsculo da noite sumindo vagarosamente entre as árvores.

Os matizes cambiantes do outono, bancos de estações, trabalhadores e suas famílias, fez retornar... Com a chegada do frio, pelos baixos do clima já se podia sentir constantes madrugadas geladas e ver o campo esbranquiçado, desfalecida, bem invernal. Janelas fechadas, vidros embaçados pela chuva fria que caía no amanhecer, o fogão a lenha, aquecem, criando um clima especial e nostálgico na simplicidade dos casarios. Fez muito tempo, as férias de julho. Corriam agasalhadas na cobertura da estação, arteiras gurizadas esperando o trem.

Entre um potreiro e outro as flores do campo. Passarada ecoando tons de primavera cruzava o céu azul. As flores nos jardins davam nova forma de vida, até a própria figueira à beira do caminho, vestia-se de um manto verde acre para a sombra do verão. Nisto o viajante observa que o campo a vida fica mais exposta sobre o caminho de ferro, ele resume tudo, porque além da geografia privilegiada, é a vida que renasce.
Nesta breve pintura, quando o verde das coxilhas ao longe, prende-se ao horizonte. Revela-se o matrimônio insólito, entre o momento preciso das estações e a suavidade da paisagem.

O Caminho de Ferro podia mostrar a possível contribuição da atividade turística para a preservação paisagística, histórica e poética de uma região, e isto ocorrendo possa ser de extrema relevância, pois muitas paisagens possuem valores simbólicos sobre a história, a cultura e o modo de vida de um povo.

Edição de 25/03/2015  Ano IV nº 205





quarta-feira, 25 de março de 2015

Jaguarão. Ontem, hoje - Tempos Passados 1813 - 1900

Por Cleomar Ferreira

Existiu no terreno onde outrora funcionou a Estação Ferroviária a Capelinha de Nosso Senhor do Bom Fim. Em terreno doado pelo senhor Francisco Antônio da Silva Amaral.

Esta Capelinha foi edificada e posteriormente demolida em 10 de Dezembro de 1931 para dar lugar as obras da Estação Ferroviária. Quando da finalização das obras da Estação, foi entregue à Comissão encarregada da Capelinha o que sobrou do material da construção e mais um montante em dinheiro a título de indenização.

Existiu nas proximidades onde está localizado hoje o Cemitério Municipal, uma charqueada. Ainda hoje é possível observar vestígios do que afirmamos. Pertenceu à Francisco Antônio da Silva Amaral, português, nascido em 27 de Março de 1856 e radicado aqui quando ainda era um menino. Foi comerciante, fazendeiro e um dos primeiros introdutores do gado Hereford neste município. Faleceu em 07 de Fevereiro de 1910, tendo provocado a própria morte.

Em 26 de Março de 1876, a Lei Provincial nº 1008, reconheceu como de propriedade da Câmara Municipal de Jaguarão, os terrenos que dariam origem a cidade.
Este patrimônio foi doado pela Viscondessa de Magé – ( Maria Ignácia da Gama Freitas Berquó ) e por ela destinado à criação de um povoado.

Por volta do ano de 1846, já havia uma planta da Vila, dai ocorreram o surgimento das ruas com os antigos nomes que eram denominações colocadas pelos moradores. Exemplo: - Rua das Pombas, Pântano, Riacho, Prazeres, Trincheiras, Prado, Figueiras, etc.
A povoação resultou do aglomerado de casas de torrão e palha, levantadas nas imediações dos acampamentos militares.
O ponto inicial desses acampamentos foi a pequena guarda militar, colocada nas margens do rio Jaguarão, cerca de duas léguas da atual cidade.

Um dia já fomos conhecidos como “Guarda da Lagoa e do Cerrito”, isto de 1801 à 1812. – Depois passamos à Freguesia do Divino Espírito Santo de Jaguarão. – Em 06 de Julho de 1832, fomos elevados a categoria de Vila e Cidade em 23 de Novembro de 1855.

Em 24 de Março de 1873, a Freguesia de Arroio Grande que pertencia a Jaguarão é desligada do Município e elevada à categoria de Vila, pela Lei Provincial nº 843.

Você sabia ? Quando buscavam um local para a construção do Ginásio de Esportes Ferrujão, foi cogitado construí-lo na Praça Comendador Azevedo.

É isso aí, um abraço e até a próxima edição.
Fonte: Bibliot. Públ. Mun. Imprensa local- 1971.


Edição de 18/03/2015  Ano IV nº 204