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quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A polícia que mata

Por Andréa Lima

Entre as notícias de destaque da semana estão os dados do relatório da Anistia Internacional sobre a violência policial, publicados nesta segunda-feira (07). Os números alarmantes corroboram a truculência e a face mais dura das corporações policiais, trazendo à ordem do dia o que há muito tempo vem sendo denunciado pelos moradores das comunidades e locais mais pobres do país: a polícia brasileira é a que mais mata no mundo.

O Brasil aparece como o campeão de homicídios em um índice geral e, somente no ano de 2014, de acordo com o levantamento, 15,6% dos assassinatos, por aqui, foram de autoria de policiais. Em 2012, pasmem, chegaram a 56 mil os homicídios cometidos por agentes de segurança.

A Anistia Internacional afirma que a força policial brasileira atira nas pessoas mesmo depois que elas já se renderam, que estão feridas sem condições de reagir e que, muitas vezes, não usam nenhum tipo de advertência em sua abordagem, que seja capaz informar ao suspeito de maneira clara e objetiva, fazendo com que ele se entregue.

As balas têm como principal alvo a população negra. Segundo a pesquisa, entre as vítimas fatais da violência policial do RJ, entre os anos de 2010 e 2013, 95% eram homens. Deste total, aproximadamente 80% negros e, três em cada quatro, com idade entre 15 e 29 anos, configurando um verdadeiro genocídio.

Nos EUA, a situação é semelhante, e as forças policiais estão entre as três mais violentas do mundo.

Enquanto a polícia mata, a impunidade arremata. Das 220 investigações que a Anistia Internacional acompanha desde 2011, em apenas uma delas o policial chegou a ser acusado pela justiça. Geralmente, eles sabem que não serão punidos. Em 2015, dos 220 casos que correm na justiça, 183 não tiveram o inquérito concluído até o fechamento do relatório.

O estudo sugere a criação de ferramentas para reduzir as mortes por violência policial: que as investigações sejam realizadas de forma independente, a certeza de punição em casos de abuso, uma maior rigidez sobre a atuação dos agentes da lei e estatutos que deixem claro quando o uso da força se justifica.

Para alguns estudiosos da área, existe a necessidade premente de desmilitarização da polícia no Brasil que, em sua atuação, nos remete, ainda, ao tempo da ditadura.

Esta proposta consiste na mudança da constituição, por meio de Emenda, de forma que as polícias militar e civil constituam um novo grupo policial, que seja julgado pela justiça comum e que tenha treinamento adequado e formação civil, de forma a preservar e respeitar os direitos da população.

Embora ainda sejam necessários muitos debates e o avanço na legislação, uma pesquisa feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Ministério da Justiça, mostra que 73,7% dos policiais apóiam a desmilitarização. Entre os policiais militares, o índice sobe para 76,1%. A sociedade, sem sombra de dúvida, está cansada de ser atacada por quem tem o papel de protegê-la...


Quantas Cláudias e Amarildos ainda serão assassinados para enfrentarmos este problema?

Edição de 09/09/2015 Ano VI nº 229



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