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sábado, 17 de junho de 2017

Diálogos pela Democracia no Clube 24 de Agosto


O projeto Diálogos pela Democracia nasce da necessidade de mobilizar, debater e fortalecer uma rede de resistência frente à onda fascista e antidemocrática que tem tomado conta do Brasil e também da América Latina. Este Movimento conta com a participação del 'Frente Amplio"  do Uruguai, a fim de manter os laços com o país hermano.

Serão três encontros promovidos por movimentos sociais e partidos políticos, contando com convidados ilustres. Os três eixos centrais serão o Golpe no Brasil e seu impacto na América Latina, Direitos Humanos e Os rumos da esquerda.

O primeiro acontece no dia 30 de junho, às 19h, no Ponto de Cultura Clube 24 de Agosto, com a presença do cientista político Renato Della Vechia, da professora e militante dos Direitos Humanos Lilian Celiberti, e da socióloga, militante do Movimento de Luta pela Moradia e integrante da Frente Brasil Popular, Suelen Aires Gonçalves.

Junto ao debate também haverá a participação de poetas e militantes da cultura, do coletivo Mandinga, que realizarão o Sarau #PoesiaPelaDemocracia.


O evento acontece no dia da segunda greve geral no Brasil, protagonizada por diversos movimentos sociais que lutam pela deposição do presidente ilegítimo Michel Temer, as Diretas Já e a não aprovação das (anti) Reformas da Previdência e Trabalhista.




quinta-feira, 16 de março de 2017

É preciso falar sobre a Reforma da Previdência


Por  Maria Fernanda Passos das Neves  

Nas esquinas, nas casas, nos bares, nas escolas....é preciso falar sobre o significado da Reforma da Previdência na vida dos brasileiros e no empobrecimento das cidades.

A Reforma da Previdência é um dos maiores ataques aos nossos direitos, com requintes de crueldade. Roubar, talvez, uma das únicas heranças do trabalhador é uma ameaça ao estado do bem estar social, é o retorno a barbárie. Muitos famílias resistem com dignidade em função da pensão que um dos familiares, pais e mães, deixaram. A herança do trabalho. Se essa reforma, por uma tragédia (ou por descuido nosso) passar....

Ontem,  as mulheres de Jaguarão e Rio Branco, proporcionaram um belo momento de elucidação, acúmulo sobre o tema e de planejamento de ação urgente para "segurar" essa avalanche. A auditora fiscal da Receita Federal, há 33 anos, Josete Vignolle apresentou dados que comprovam que a Previdência Social não é deficitária, pois existem várias fontes de receitas que a alimentam, para além da contribuição dos trabalhadores.

Já partimos para o primeiro ponto. O porquê desta reforma então?

As companheiras uruguaias Julia Melgares e Maria Julia, ambas sindicalistas, de gerações diferentes nos falaram sobre a luta atual dos trabalhadores vizinhos, para recuperar os direitos perdidos após a reforma de 1996 na Seguridad Social do país. Naquele momento foram criadas as AFAPS, agências privadas, e o direito a aposentadoria foi atrelado ao privado atingindo principalmente os "cinquentenários". Aqueles que hoje poderiam se aposentar aos cinquenta e não possuem tempo de contribuição suficiente para as AFAP's. Nossos hermanos exigem hoje o fim desse sistema das agências privadas e buscam corrigir outras injustiças, como por exemplo, a lei 18.395 que visa garantir o direito a contar para a aposentadoria das mulheres um ano para cada filho, biológico ou adotivo, em um máximo de cinco anos.

Plenária Direito das Mulheres e Reforma Previdenciária ocorreu na Câmara de
Vereadores com a presença da auditora Josete Vignolle, sindicalista Júlia Melgares, 
ativista Maria de los Angeles, Deputada Miriam Marroni,  painelistas 
    
Aqui no Brasil, nós mulheres somos as primeiras a sofrer com a Reforma da Previdência, As professoras, que pela regra atual podem pedir a aposentadoria aos 50 anos de idade e 25 de contribuição, terão que trabalhar até 15 anos mais para receber o benefício do INSS, caso seja aprovada a idade mínima de aposentadoria de 65 anos, igual para homens e mulheres, servidores públicos e privados. Além disso, as mulheres, hoje, podem se aposentar cinco anos antes dos homens, justamente por causa da dupla jornada (ou tripla) que as mulheres exercem. Com a reforma, teremos que contribuir durante 49 anos. Ou seja, jamais nos aposentaremos com 50, 65, 70 anos de idade. Com muita sorte, longevidade e saúde perto dos 90 será possível.

Outro dado muito interessante é o quanto essa diminuição da previdência, da garantia desse direito primordial ao trabalhador, afeta a cidade onde a gente vive. Josete apresentou dados de cidades como Canguçu, onde os benefícios do INSS representam mais do que 60% do que o município arrecada com o FPM (Fundo de participação dos municípios), por exemplo. O levantamento apresentado por ela, também mostra que os benefícios do INSS são mais de 25% do PIB de 500 cidades brasileiras.

Portanto, é urgente que o dono do mercado local, o balconista, os dirigentes lojistas, atentem-se para o que significa essa reforma e não reproduzam o que as grandes corporações (que são as únicas que ganham com isso) querem. Com o achatamento da previdência, haverá empobrecimento e portanto menos condições de consumo. Afetando diretamente o desenvolvimento econômico e social do nosso lugar.

Porém o dado estarrecedor, apresentado pela auditora fiscal é de que cerca de 76% das pessoas não tem ideia do que seja a Reforma da Previdência. Não estão entendendo de fato o que isso significa, impacta e transforma a vida delas. Por isso precisamos falar deste tema, como falamos sobre o tempo, o preço do pão e perguntamos pelos filhos. Manifestações e protestos como vimos ontem por todos os cantos do país, unindo milhares de trabalhadores são muito importantes, porém a conversa miúda, com o vizinho, na porta de casa é fundamental.

Amanhã teremos mais uma oportunidade em Jaguarão de falarmos e nos apropriarmos sobre o tema. Na Biblioteca Pública,às 18h30, acontece uma Audiência sobre a reforma da Previdência com os deputados Henrique Fontana (PT) e Zé Nunes (PT), além de um advogado sindical.

Vamos participar, homens, mulheres, jovens,idosos, trabalhadores da cidade, do campo, pequenos empresários.

O que está em jogo é a nossa dignidade e a garantia de um lugar, com respeito, para se viver.




sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Cine Debate apresenta "Aquarius" no Theatro Esperança neste sábado

Aquarius, símbolo da resistência contra o Golpe no Brasil

Neste sábado, 18 de fevereiro, às 19 horas, o Theatro Esperança abre as portas para receber "Aquarius". Com direção do pernambucano Kleber Mendonça Filho ( o mesmo do premiado "O Som ao Redor) e a presença marcante da atriz Sônia Braga, o longa foi o primeiro filme brasileiro a participar da competição oficial de Cannes em 2016 depois de oito anos de jejum para o cinema nacional no Festival da Riviera Francesa .

Un Coup d'Etat - Um Golpe de Estado no Brasil - Equipe do Aquarius em Cannes
O Filme, aclamado pela crítica,  é considerado o símbolo da resistencia internacional contra o Golpe de Estado que efetivou o impedimento da Presidenta Dilma Roussef,  devido ao protesto do elenco e diretores após a exibição em Cannes. 

Devido ao Ato de Protesto,  o filme tem sofrido perseguição por parte da Secretaria do AudioVisual do governo usurpador, tendo sido primeiramente classificado impróprio para menores de 18 anos (o que já foi revertido diante dos repercussões negativas) e depois, apesar da projeção internacional e do prêmio no Festival de Sidney na Austrália, alijado da participação brasileira nos filmes que concorrerão ao Oscar deste ano como melhor filme estrangeiro. 

Logo após a sessão no Theatro Esperança, haverá um debate promovido pelo convidado Luis Rubira, professor do Depto. de Filosofia da UFPel e coordenador do Cine Filo. 

O Ingresso - 1 (um) litro de leite, destinado à Santa Casa de Caridade de Jaguarão

O Apoio é da Secult  e Santa Casa de Caridade de Jaguarão

PDV da Caixa: cláusula de quitação de direitos é prejudicial ao trabalhador


Ataque aos Bancos Públicos pelo governo Temer. O Plano de Demissão Voluntária é caminho para privatização da Caixa. 


O Plano de Demissão Voluntária Extraordinária – PDVE da Caixa Econômica Federal, lançado no dia 6 de fevereiro, e que projeta uma adesão de até 10 mil funcionários, está sendo questionado em sua cláusula terceira, primeiro parágrafo, por mencionar a renúncia de direitos passados e futuros do trabalhador.  

Na última sexta-feira, 10/02, a Procuradoria Regional do Trabalho – PRT do Ministério Público do Trabalho de Curitiba (PR) recebeu denúncia contra a Caixa referente à cláusula terceira e a procuradora Adriane Perini Artivon emitiu nota determinando a instauração de inquérito civil e prazo de dez dias para manifestação da instituição bancária. Em Recife (PE), o Sindicato dos Bancários ingressou com ação na Vara do Trabalho questionando a mesma cláusula. Também em Florianópolis (SC), o Sindicato dos Bancários do estado entrou com pedido de tutela provisória na 4ª Vara do Trabalho do TRT da 12º Região, que foi deferia na sexta,10, determinando a suspensão da referida cláusula.   
A possibilidade da existência de cláusulas que impedem o trabalhador de reivindicar judicialmente direitos ao assinar o termo de adesão de um Plano de Demissão Voluntária já foi alertada pelo FFA Advogados. “Infelizmente é uma prática comum nos PDVs das instituições bancárias. A cláusula em questão impede, por exemplo, de o trabalhador buscar na justiça o pagamento de horas extras, intervalo intrajornada, adicional de periculosidade, dentre outros pleitos”, explica Felipe Daltro, do FFA Advogados Belo Horizonte, que complementa: “Desta forma, resta evidente a atitude da Caixa em prejudicar os seus funcionários ao lançar um plano de demissão que não permite ao trabalhador ingressar com uma futura reclamação trabalhista questionando os seus direitos. Estamos discutindo sobre funcionários com contratos de trabalho com mais de 30 anos de serviços prestados”, avalia.
O advogado lembra ainda que a legislação é bastante transparente sobre este tema, conforme expõe a Orientação Jurisprudencial 270 do Tribunal Superior do Trabalho, no sentido de que os direitos trabalhistas são indisponíveis e irrenunciáveis. “A quitação somente libera o empregador das parcelas especificadas no recibo, como prevê o artigo 477, parágrafo 2º, da CLT e não como a Caixa quer impor com a quitação geral”, explica. A orientação do FFA Advogados é que aqueles que têm interesse em aderir ao plano consultem especialistas para terem resguardados seus direitos.
O que diz a Cláusula Terceira, Parágrafo Primeiro:
...
CLÁUSULA TERCEIRA – INDENIZAÇÃO – (…)
Parágrafo Primeiro – Neste ato o (a) empregado (a) uma vez recebendo a importância em moeda corrente do país nesta data, bem como assinando este termo, dá a CAIXA, plena e geral quitação, para nada mais reclamar em época alguma, seja a que título for, em relação aos direitos ou obrigações presentes ou futuras, em se tratando não somente do mencionado Contrato de Trabalho, mas também de todo período que ficou para trás da data deste termo.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Discurso da Presidenta Dilma ao Senado: Só Temo a Morte da Democracia


Em sua defesa no Senado na manhã desta segunda-feira 29, no dia do julgamento final do processo de impeachment, a presidente Dilma Rousseff afirma ter sido sempre uma defensora da Constituição brasileira. "Sempre acreditei na democracia e no Estado de direito, e vi na Constituição de 1988 uma das grandes conquistas do nosso povo", disse Dilma.
"Diante das acusações que contra mim são dirigidas, não posso deixar de sentir novamente o gosto amargo da injustiça e do arbítrio. Mas como no passado, resisto. Não esperem de mim o obsequioso silêncio dos covardes", discursou.
A presidente denuncia “provas produzidas”, a “frágil retórica jurídica” do processo de seu afastamento e os "pretextos" usados para tirar do poder um governo eleito por mais de 54 milhões de brasileiros. Ela chora ao falar da Olimpíada e denuncia o que virá "caso prospere o impeachment sem crime de responsabilidade": o retrocesso e a retirada de direitos por um governo usurpador.
Ela fala ainda do apoio escancarado de setores da mídia ao golpe e da chantagem explícita do ex-presidente da Câmara e deputado afastado Eduardo Cunha, réu no Supremo Tribunal Federal.
A íntegra do Discurso histórico ao Senado e ao povo Brasileiro:
Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski
Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Federal Renan Calheiros,
Excelentíssimas Senhoras Senadoras e Excelentíssimos Senhores Senadores,
Cidadãs e Cidadãos de meu amado Brasil,
No dia 1° de janeiro de 2015 assumi meu segundo mandato à Presidência da República Federativa do Brasil. Fui eleita por mais de 54 milhões de votos.

Na minha posse, assumi o compromisso de manter, defender e cumprir a Constituição, bem como o de observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil.

Ao exercer a Presidência da República respeitei fielmente o compromisso que assumi perante a nação e aos que me elegeram. E me orgulho disso. Sempre acreditei na democracia e no Estado de direito, e sempre vi na Constituição de 1988 uma das grandes conquistas do nosso povo.

Jamais atentaria contra o que acredito ou praticaria atos contrários aos interesses daqueles que me elegeram.

Nesta jornada para me defender do impeachment me aproximei mais do povo, tive oportunidade de ouvir seu reconhecimento, de receber seu carinho. Ouvi também críticas duras ao meu governo, a erros que foram cometidos e a medidas e políticas que não foram adotadas. Acolho essas críticas com humildade.

Até porque, como todos, tenho defeitos e cometo erros.

Entre os meus defeitos não está a deslealdade e a covardia. Não traio os compromissos que assumo, os princípios que defendo ou os que lutam ao meu lado. Na luta contra a ditadura, recebi no meu corpo as marcas da tortura. Amarguei por anos o sofrimento da prisão. Vi companheiros e companheiras sendo violentados, e até assassinados.

Na época, eu era muito jovem. Tinha muito a esperar da vida. Tinha medo da morte, das sequelas da tortura no meu corpo e na minha alma. Mas não cedi. Resisti. Resisti à tempestade de terror que começava a me engolir, na escuridão dos tempos amargos em que o país vivia. Não mudei de lado. Apesar de receber o peso da injustiça nos meus ombros, continuei lutando pela democracia.

Dediquei todos esses anos da minha vida à luta por uma sociedade sem ódios e intolerância. Lutei por uma sociedade livre de preconceitos e de discriminações. Lutei por uma sociedade onde não houvesse miséria ou excluídos. Lutei por um Brasil soberano, mais igual e onde houvesse justiça.

Disso tenho orgulho. Quem acredita, luta.

Aos quase setenta anos de idade, não seria agora, após ser mãe e avó, que abdicaria dos princípios que sempre me guiaram.

Exercendo a Presidência da República tenho honrado o compromisso com o meu país, com a Democracia, com o Estado de Direito. Tenho sido intransigente na defesa da honestidade na gestão da coisa pública.

Por isso, diante das acusações que contra mim são dirigidas neste processo, não posso deixar de sentir, na boca, novamente, o gosto áspero e amargo da injustiça e do arbítrio.

E por isso, como no passado, resisto.

Não esperem de mim o obsequioso silêncio dos covardes. No passado, com as armas, e hoje, com a retórica jurídica, pretendem novamente atentar contra a democracia e contra o Estado do Direito.

Se alguns rasgam o seu passado e negociam as benesses do presente, que respondam perante a sua consciência e perante a história pelos atos que praticam. A mim cabe lamentar pelo que foram e pelo que se tornaram.

E resistir. Resistir sempre. Resistir para acordar as consciências ainda adormecidas para que, juntos, finquemos o pé no terreno que está do lado certo da história, mesmo que o chão trema e ameace de novo nos engolir.

Não luto pelo meu mandato por vaidade ou por apego ao poder, como é próprio dos que não tem caráter, princípios ou utopias a conquistar. Luto pela democracia, pela verdade e pela justiça. Luto pelo povo do meu País, pelo seu bem-estar.

Muitos hoje me perguntam de onde vem a minha energia para prosseguir. Vem do que acredito. Posso olhar para trás e ver tudo o que fizemos. Olhar para a frente e ver tudo o que ainda precisamos e podemos fazer. O mais importante é que posso olhar para mim mesma e ver a face de alguém que, mesmo marcada pelo tempo, tem forças para defender suas ideias e seus direitos.

Sei que, em breve, e mais uma vez na vida, serei julgada. E é por ter a minha consciência absolutamente tranquila em relação ao que fiz, no exercício da Presidência da República que venho pessoalmente à presença dos que me julgarão. Venho para olhar diretamente nos olhos de Vossas Excelências, e dizer, com a serenidade dos que nada tem a esconder que não cometi nenhum crime de responsabilidade. Não cometi os crimes dos quais sou acusada injusta e arbitrariamente.

Hoje o Brasil, o mundo e a história nos observam e aguardam o desfecho deste processo de impeachment.

No passado da América Latina e do Brasil, sempre que interesses de setores da elite econômica e política foram feridos pelas urnas, e não existiam razões jurídicas para uma destituição legítima, conspirações eram tramadas resultando em golpes de estado.

O Presidente Getúlio Vargas, que nos legou a CLT e a defesa do patrimônio nacional, sofreu uma implacável perseguição; a hedionda trama orquestrada pela chamada "República do Galeão, que o levou ao suicídio.

O Presidente Juscelino Kubitscheck, que contruiu essa cidade, foi vítima de constantes e fracassadas tentativas de golpe, como ocorreu no episódio de Aragarças.

O presidente João Goulart, defensor da democracia, dos direitos dos trabalhadores e das Reformas de Base, superou o golpe do parlamentarismo mas foi deposto e instaurou-se a ditadura militar, em 1964. Durante 20 anos, vivemos o silêncio imposto pelo arbítrio e a democracia foi varrida de nosso País. Milhões de brasileiros lutaram e reconquistaram o direito a eleições diretas.
Hoje, mais uma vez, ao serem contrariados e feridos nas urnas os interesses de setores da elite econômica e política nos vemos diante do risco de uma ruptura democrática. Os padrões políticos dominantes no mundo repelem a violência explícita. Agora, a ruptura democrática se dá por meio da violência moral e de pretextos constitucionais para que se empreste aparência de legitimidade ao governo que assume sem o amparo das urnas. Invoca-se a Constituição para que o mundo das aparências encubra hipocritamente o mundo dos fatos.

As provas produzidas deixam claro e inconteste que as acusações contra mim dirigidas são meros pretextos, embasados por uma frágil retórica jurídica.

Nos últimos dias, novos fatos evidenciaram outro aspecto da trama que caracteriza este processo de impeachment. O autor da representação junto ao Tribunal de Contas da União que motivou as acusações discutidas nesse processo, foi reconhecido como suspeito pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal. Soube-se ainda, pelo depoimento do auditor responsável pelo parecer técnico, que ele havia ajudado a elaborar a própria representação que auditou. Fica claro o vício da parcialidade, a trama, na construção das teses por eles defendidas.

São pretextos, apenas pretextos, para derrubar, por meio de um processo de impeachment sem crime de responsabilidade, um governo legítimo, escolhido em eleição direta com a participação de 110 milhões de brasileiros e brasileiras. O governo de uma mulher que ousou ganhar duas eleições presidenciais consecutivas.

São pretextos para viabilizar um golpe na Constituição. Um golpe que, se consumado, resultará na eleição indireta de um governo usurpador.

A eleição indireta de um governo que, já na sua interinidade, não tem mulheres comandando seus ministérios, quando o povo, nas urnas, escolheu uma mulher para comandar o país. Um governo que dispensa os negros na sua composição ministerial e já revelou um profundo desprezo pelo programa escolhido pelo povo em 2014.

Fui eleita presidenta por 54 milhões e meio de votos para cumprir um programa cuja síntese está gravada nas palavras "nenhum direito a menos".

O que está em jogo no processo de impeachment não é apenas o meu mandato. O que está em jogo é o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição.

O que está em jogo são as conquistas dos últimos 13 anos: os ganhos da população, das pessoas mais pobres e da classe média; a proteção às crianças; os jovens chegando às universidades e às escolas técnicas; a valorização do salário mínimo; os médicos atendendo a população; a realização do sonho da casa própria.

O que está em jogo é o investimento em obras para garantir a convivência com a seca no semiárido, é a conclusão do sonhado e esperado projeto de integração do São Francisco. O que está em jogo é, também, a grande descoberta do Brasil, o pré-sal. O que está em jogo é a inserção soberana de nosso País no cenário internacional, pautada pela ética e pela busca de interesses comuns.

O que está em jogo é a auto-estima dos brasileiros e brasileiras, que resistiram aos ataques dos pessimistas de plantão à capacidade do País de realizar, com sucesso, a Copa do Mundo e as Olimpíadas e Paraolimpíadas.

O que está em jogo é a conquista da estabilidade, que busca o equilíbrio fiscal mas não abre mão de programas sociais para a nossa população.

O que está em jogo é o futuro do País, a oportunidade e a esperança de avançar sempre mais.

Senhoras e senhores senadores,
No presidencialismo previsto em nossa Constituição, não basta a eventual perda de maioria parlamentar para afastar um Presidente. Há que se configurar crime de responsabilidade. E está claro que não houve tal crime.

Não é legítimo, como querem os meus acusadores, afastar o chefe de Estado e de governo pelo "conjunto da obra". Quem afasta o Presidente pelo "conjunto da obra" é o povo e, só o povo, nas eleições. E nas eleições o programa de governo vencedor não foi este agora ensaiado e desenhado pelo Governo interino e defendido pelos meus acusadores.

O que pretende o governo interino, se transmudado em efetivo, é um verdadeiro ataque às conquistas dos últimos anos.

Desvincular o piso das aposentadorias e pensões do salário mínimo será a destruição do maior instrumento de distribuição de renda do país, que é a Previdência Social. O resultado será mais pobreza, mais mortalidade infantil e a decadência dos pequenos municípios.

A revisão dos direitos e garantias sociais previstos na CLT e a proibição do saque do FGTS na demissão do trabalhador são ameaças que pairam sobre a população brasileira caso prospere o impeachment sem crime de responsabilidade.

Conquistas importantes para as mulheres, os negros e as populações LGBT estarão comprometidas pela submissão a princípios ultraconservadores.
O nosso patrimônio estará em questão, com os recursos do pré-sal, as riquezas naturais e minerárias sendo privatizadas.

A ameaça mais assustadora desse processo de impeachment sem crime de responsabilidade é congelar por inacreditáveis 20 anos todas as despesas com saúde, educação, saneamento, habitação. É impedir que, por 20 anos, mais crianças e jovens tenham acesso às escolas; que, por 20 anos, as pessoas possam ter melhor atendimento à saúde; que, por 20 anos, as famílias possam sonhar com casa própria.

Senhor Presidente Ricardo Lewandowski, Sras. e Srs. Senadores,

A verdade é que o resultado eleitoral de 2014 foi um rude golpe em setores da elite conservadora brasileira.

Desde a proclamação dos resultados eleitorais, os partidos que apoiavam o candidato derrotado nas eleições fizeram de tudo para impedir a minha posse e a estabilidade do meu governo. Disseram que as eleições haviam sido fraudadas, pediram auditoria nas urnas, impugnaram minhas contas eleitorais, e após a minha posse, buscaram de forma desmedida quaisquer fatos que pudessem justificar retoricamente um processo de impeachment.

Como é próprio das elites conservadoras e autoritárias, não viam na vontade do povo o elemento legitimador de um governo. Queriam o poder a qualquer preço.
Tudo fizeram para desestabilizar a mim e ao meu governo.

Só é possível compreender a gravidade da crise que assola o Brasil desde 2015, levando-se em consideração a instabilidade política aguda que, desde a minha reeleição, tem caracterizado o ambiente em que ocorrem o investimento e a produção de bens e serviços.

Não se procurou discutir e aprovar uma melhor proposta para o País. O que se pretendeu permanentemente foi a afirmação do "quanto pior melhor", na busca obsessiva de se desgastar o governo, pouco importando os resultados danosos desta questionável ação política para toda a população.

A possibilidade de impeachment tornou-se assunto central da pauta política e jornalística apenas dois meses após minha reeleição, apesar da evidente improcedência dos motivos para justificar esse movimento radical.

Nesse ambiente de turbulências e incertezas, o risco político permanente provocado pelo ativismo de parcela considerável da oposição acabou sendo um elemento central para a retração do investimento e para o aprofundamento da crise econômica.

Deve ser também ressaltado que a busca do reequilíbrio fiscal, desde 2015, encontrou uma forte resistência na Câmara dos Deputados, à época presidida pelo Deputado Eduardo Cunha. Os projetos enviados pelo governo foram rejeitados, parcial ou integralmente. Pautas bombas foram apresentadas e algumas aprovadas.

As comissões permanentes da Câmara, em 2016, só funcionaram a partir do dia 5 de maio, ou seja, uma semana antes da aceitação do processo de impeachment pela Comissão do Senado Federal. Os Srs. e as Sras. Senadores sabem que o funcionamento dessas Comissões era e é absolutamente indispensável para a aprovação de matérias que interferem no cenário fiscal e encaminhar a saída da crise.

Foi criado assim o desejado ambiente de instabilidade política, propício a abertura do processo de impeachment sem crime de responsabilidade.

Sem essas ações, o Brasil certamente estaria hoje em outra situação política, econômica e fiscal.

Muitos articularam e votaram contra propostas que durante toda a vida defenderam, sem pensar nas consequências que seus gestos trariam para o país e para o povo brasileiro. Queriam aproveitar a crise econômica, porque sabiam que assim que o meu governo viesse a superá-la, sua aspiração de acesso ao poder haveria de ficar sepultada por mais um longo período.

Mas, a bem da verdade, as forças oposicionistas somente conseguiram levar adiante o seu intento quando outra poderosa força política a elas se agregou: a força política dos que queriam evitar a continuidade da "sangria" de setores da classe política brasileira, motivada pelas investigações sobre a corrupção e o desvio de dinheiro público.

É notório que durante o meu governo e o do Pr Lula foram dadas todas as condições para que estas investigações fossem realizadas. Propusemos importantes leis que dotaram os órgãos competentes de condições para investigar e punir os culpados.
Assegurei a autonomia do Ministério Público, nomeando como Procurador Geral da República o primeiro nome da lista indicado pelos próprios membros da instituição. Não permiti qualquer interferência política na atuação da Polícia Federal.

Contrariei, com essa minha postura, muitos interesses. Por isso, paguei e pago um elevado preço pessoal pela postura que tive.

Arquitetaram a minha destituição, independentemente da existência de quaisquer fatos que pudesse justificá-la perante a nossa Constituição.

Encontraram, na pessoa do ex-Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha o vértice da sua aliança golpista.

Articularam e viabilizaram a perda da maioria parlamentar do governo. Situações foram criadas, com apoio escancarado de setores da mídia, para construir o clima político necessário para a desconstituição do resultado eleitoral de 2014.

Todos sabem que este processo de impeachment foi aberto por uma "chantagem explícita" do ex-Presidente da Câmara, Eduardo Cunha, como chegou a reconhecer em declarações à imprensa um dos próprios denunciantes. Exigia aquele parlamentar que eu intercedesse para que deputados do meu partido não votassem pela abertura do seu processo de cassação.​

Nunca aceitei na minha vida ameaças ou chantagens. Se não o fiz antes, não o faria na condição de Presidenta da República. É fato, porém, que não ter me curvado a esta chantagem motivou o recebimento da denúncia por crime de responsabilidade e a abertura deste d processo, sob o aplauso dos derrotados em 2014 e dos temerosos pelas investigações.

Se eu tivesse me acumpliciado com a improbidade e com o que há de pior na política brasileira, como muitos até hoje parecem não ter o menor pudor em fazê-lo, eu não correria o risco de ser condenada injustamente.

Quem se acumplicia ao imoral e ao ilícito, não tem respeitabilidade para governar o Brasil. Quem age para poupar ou adiar o julgamento de uma pessoa que é acusada de enriquecer às custas do Estado brasileiro e do povo que paga impostos, cedo ou tarde, acabará pagando perante a sociedade e a história o preço do seu descompromisso com a ética.

Todos sabem que não enriqueci no exercício de cargos públicos, que não desviei dinheiro público em meu proveito próprio, nem de meus familiares, e que não possuo contas ou imóveis no exterior. Sempre agi com absoluta probidade nos cargos públicos que ocupei ao longo da minha vida.

Curiosamente, serei julgada, por crimes que não cometi, antes do julgamento do ex-presidente da Câmara, acusado de ter praticado gravíssimos atos ilícitos e que liderou as tramas e os ardis que alavancaram as ações voltadas à minha destituição.
Ironia da história? Não, de forma nenhuma. Trata-se de uma ação deliberada que conta com o silêncio cúmplice de setores da grande mídia brasileira.

Viola-se a democracia e pune-se uma inocente. Este é o pano de fundo que marca o julgamento que será realizado pela vontade dos que lançam contra mim pretextos acusatórios infundados.

Estamos a um passo da consumação de uma grave ruptura institucional. Estamos a um passo da concretização de um verdadeiro golpe de Estado.

Senhoras e Senhores Senadores,
Vamos aos autos deste processo. Do que sou acusada? Quais foram os atentados à Constituição que cometi? Quais foram os crimes hediondos que pratiquei?

A primeira acusação refere-se à edição de três decretos de crédito suplementar sem autorização legislativa. Ao longo de todo o processo, mostramos que a edição desses decretos seguiu todas as regras legais. Respeitamos a previsão contida na Constituição, a meta definida na LDO e as autorizações estabelecidas no artigo 4° da Lei Orçamentária de 2015, aprovadas pelo Congresso Nacional.

Todas essas previsões legais foram respeitadas em relação aos 3 decretos. Eles apenas ofereceram alternativas para alocação dos mesmos limites, de empenho e financeiro, estabelecidos pelo decreto de contingenciamento, que não foram alterados. Por isso, não afetaram em nada a meta fiscal.

Ademais, desde 2014, por iniciativa do Executivo, o Congresso aprovou a inclusão, na LDO, da obrigatoriedade que qualquer crédito aberto deve ter sua execução subordinada ao decreto de contingenciamento, editado segundo as normas estabelecidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal. E isso foi precisamente respeitado.

Não sei se por incompreensão ou por estratégia, as acusações feitas neste processo buscam atribuir a esses decretos nossos problemas fiscais. Ignoram ou escondem que os resultados fiscais negativos são consequência da desaceleração econômica e não a sua causa.
Escondem que, em 2015, com o agravamento da crise, tivemos uma expressiva queda da receita ao longo do ano – foram R$ 180 bilhões a menos que o previsto na Lei Orçamentária.
Fazem questão de ignorar que realizamos, em 2015, o maior contingenciamento de nossa história. Cobram que, quando enviei ao Congresso Nacional, em julho de 2015, o pedido de autorização para reduzir a meta fiscal, deveria ter imediatamente realizado um novo contingenciamento. Não o fiz porque segui o procedimento que não foi questionado pelo Tribunal de Contas da União ou pelo Congresso Nacional na análise das contas de 2009.
Além disso, a responsabilidade com a população justifica também nossa decisão. Se aplicássemos, em julho, o contingenciamento proposto pelos nossos acusadores cortaríamos 96% do total de recursos disponíveis para as despesas da União. Isto representaria um corte radical em todas as dotações orçamentárias dos órgãos federais. Ministérios seriam paralisados, universidades fechariam suas portas, o Mais Médicos seria interrompido, a compra de medicamentos seria prejudicada, as agências reguladoras deixariam de funcionar. Na verdade, o ano de 2015 teria, orçamentariamente, acabado em julho.
Volto a dizer: ao editar estes decretos de crédito suplementar, agi em conformidade plena com a legislação vigente. Em nenhum desses atos, o Congresso Nacional foi desrespeitado. Aliás, este foi o comportamento que adotei em meus dois mandatos.

Somente depois que assinei estes decretos é que o Tribunal de Contas da União mudou a posição que sempre teve a respeito da matéria. É importante que a população brasileira seja esclarecida sobre este ponto: os decretos foram editados em julho e agosto de 2015 e somente em outubro de 2015 o TCU aprovou a nova interpretação.
O TCU recomendou a aprovação das contas de todos os presidentes que editaram decretos idênticos aos que editei. Nunca levantaram qualquer problema técnico ou apresentaram a interpretação que passaram a ter depois que assinei estes atos.
Querem me condenar por ter assinado decretos que atendiam a demandas de diversos órgãos, inclusive do próprio Poder Judiciário, com base no mesmo procedimento adotado desde a entrada em vigor da Lei de Responsabilidade Fiscal, em 2001?
Por ter assinado decretos que somados, não implicaram, como provado nos autos, em nenhum centavo de gastos a mais para prejudicar a meta fiscal?
A segunda denúncia dirigida contra mim neste processo também é injusta e frágil. Afirma-se que o alegado atraso nos pagamentos das subvenções econômicas devidas ao Banco do Brasil, no âmbito da execução do programa de crédito rural Plano Safra, equivale a uma "operação de crédito", o que estaria vedado pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
Como minha defesa e várias testemunhas já relataram, a execução do Plano Safra é regida por uma lei de 1992, que atribui ao Ministério da Fazenda a competência de sua normatização, inclusive em relação à atuação do Banco do Brasil. A Presidenta da República não pratica nenhum ato em relação à execução do Plano Safra. Parece óbvio, além de juridicamente justo, que eu não seja acusada por um ato inexistente.

A controvérsia quanto a existência de operação de crédito surgiu de uma mudança de interpretação do TCU, cuja decisão definitiva foi emitida em dezembro de 2015. Novamente, há uma tentativa de dizer que cometi um crime antes da definição da tese de que haveria um crime. Uma tese que nunca havia surgido antes e que, como todas as senhoras e senhores senadores souberam em dias recentes, foi urdida especialmente para esta ocasião.
Lembro ainda a decisão recente do Ministério Público Federal, que arquivou inquérito exatamente sobre esta questão. Afirmou não caber falar em ofensa à lei de responsabilidade fiscal porque eventuais atrasos de pagamento em contratos de prestação de serviços entre a União e instituições financeiras públicas não são operações de crédito.
Insisto, senhoras senadoras e senhores senadores: não sou eu nem tampouco minha defesa que fazemos estas alegações. É o Ministério Público Federal que se recusou a dar sequência ao processo, pela inexistência de crime.
Sobre a mudança de interpretação do TCU, lembro que, ainda antes da decisão final, agi de forma preventiva. Solicitei ao Congresso Nacional a autorização para pagamento dos passivos e defini em decreto prazos de pagamento para as subvenções devidas. Em dezembro de 2015, após a decisão definitiva do TCU e com a autorização do Congresso, saldamos todos os débitos existentes.
Não é possível que não se veja aqui também o arbítrio deste processo e a injustiça também desta acusação.
Este processo de impeachment não é legítimo. Eu não atentei, em nada, em absolutamente nada contra qualquer dos dispositivos da Constituição que, como Presidenta da República, jurei cumprir. Não pratiquei ato ilícito. Está provado que não agi dolosamente em nada. Os atos praticados estavam inteiramente voltados aos interesses da sociedade. Nenhuma lesão trouxeram ao erário ou ao patrimônio público.

Volto a afirmar, como o fez a minha defesa durante todo o tempo, que este processo está marcado, do início ao fim, por um clamoroso desvio de poder.
É isto que explica a absoluta fragilidade das acusações que contra mim são dirigidas.
Tem-se afirmado que este processo de impeachment seria legítimo porque os ritos e prazos teriam sido respeitados. No entanto, para que seja feita justiça e a democracia se imponha, a forma só não basta. É necessário que o conteúdo de uma sentença também seja justo. E no caso, jamais haverá justiça na minha condenação.
Ouso dizer que em vários momentos este processo se desviou, clamorosamente, daquilo que a Constituição e os juristas denominam de "devido processo legal".
Não há respeito ao devido processo legal quando a opinião condenatória de grande parte dos julgadores é divulgada e registrada pela grande imprensa, antes do exercício final do direito de defesa.
Não há respeito ao devido processo legal quando julgadores afirmam que a condenação não passa de uma questão de tempo, porque votarão contra mim de qualquer jeito.
Nesse caso, o direito de defesa será exercido apenas formalmente, mas não será apreciado substantivamente nos seus argumentos e nas suas provas. A forma existirá apenas para dar aparência de legitimidade ao que é ilegítimo na essência.
Senhoras e senhores senadores,
Nesses meses, me perguntaram inúmeras vezes porque eu não renunciava, para encurtar este capítulo tão difícil de minha vida.
Jamais o faria porque tenho compromisso inarredável com o Estado Democrático de Direito.
Jamais o faria porque nunca renuncio à luta.

Confesso a Vossas Excelências, no entanto, que a traição, as agressões verbais e a violência do preconceito me assombraram e, em alguns momentos, até me magoaram. Mas foram sempre superados, em muito, pela solidariedade, pelo apoio e pela disposição de luta de milhões de brasileiras e brasileiros pelo País afora. Por meio de manifestações de rua, reuniões, seminários, livros, shows, mobilizações na internet, nosso povo esbanjou criatividade e disposição para a luta contra o golpe.
As mulheres brasileiras têm sido, neste período, um esteio fundamental para minha resistência. Me cobriram de flores e me protegeram com sua solidariedade. Parceiras incansáveis de uma batalha em que a misoginia e o preconceito mostraram suas garras, as brasileiras expressaram, neste combate pela democracia e pelos direitos, sua força e resiliência. Bravas mulheres brasileiras, que tenho a honra e o dever de representar como primeira mulher Presidenta do Brasil.
Chego à última etapa desse processo comprometida com a realização de uma demanda da maioria dos brasileiros: convocá-los a decidir, nas urnas, sobre o futuro de nosso País. Diálogo, participação e voto direto e livre são as melhores armas que temos para a preservação da democracia.
Confio que as senhoras senadoras e os senhores senadores farão justiça. Tenho a consciência tranquila. Não pratiquei nenhum crime de responsabilidade. As acusações dirigidas contra mim são injustas e descabidas. Cassar em definitivo meu mandato é como me submeter a uma pena de morte política.
Este é o segundo julgamento a que sou submetida em que a democracia tem assento, junto comigo, no banco dos réus. Na primeira vez, fui condenada por um tribunal de exceção. Daquela época, além das marcas dolorosas da tortura, ficou o registro, em uma foto, da minha presença diante de meus algozes, num momento em que eu os olhava de cabeça erguida enquanto eles escondiam os rostos, com medo de serem reconhecidos e julgados pela história.

Hoje, quatro décadas depois, não há prisão ilegal, não há tortura, meus julgadores chegaram aqui pelo mesmo voto popular que me conduziu à Presidência. Tenho por todos o maior respeito, mas continuo de cabeça erguida, olhando nos olhos dos meus julgadores.
Apesar das diferenças, sofro de novo com o sentimento de injustiça e o receio de que, mais uma vez, a democracia seja condenada junto comigo. E não tenho dúvida que, também desta vez, todos nós seremos julgados pela história.
Por duas vezes vi de perto a face da morte: quando fui torturada por dias seguidos, submetida a sevícias que nos fazem duvidar da humanidade e do próprio sentido da vida; e quando uma doença grave e extremamente dolorosa poderia ter abreviado minha existência.
Hoje eu só temo a morte da democracia, pela qual muitos de nós, aqui neste plenário, lutamos com o melhor dos nossos esforços.
Reitero: respeito os meus julgadores.
Não nutro rancor por aqueles que votarão pela minha destituição.
Respeito e tenho especial apreço por aqueles que têm lutado bravamente pela minha absolvição, aos quais serei eternamente grata.
Neste momento, quero me dirigir aos senadores que, mesmo sendo de oposição a mim e ao meu governo, estão indecisos.
Lembrem-se que, no regime presidencialista e sob a égide da nossa Constituição, uma condenação política exige obrigatoriamente a ocorrência de um crime de responsabilidade, cometido dolosamente e comprovado de forma cabal.
Lembrem-se do terrível precedente que a decisão pode abrir para outros presidentes, governadores e prefeitos. Condenar sem provas substantivas. Condenar um inocente.
Faço um apelo final a todos os senadores: não aceitem um golpe que, em vez de solucionar, agravará a crise brasileira.

Peço que façam justiça a uma presidenta honesta, que jamais cometeu qualquer ato ilegal, na vida pessoal ou nas funções públicas que exerceu. Votem sem ressentimento. O que cada senador sente por mim e o que nós sentimos uns pelos outros importa menos, neste momento, do que aquilo que todos sentimos pelo país e pelo povo brasileiro.
Peço: votem contra o impeachment. Votem pela democracia.
Muito obrigada.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

O Brasil está cansado dos desleais e dos traidores


Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante cerimônia de abertura da 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres

Centro de Convenções Ulysses Guimarães – Brasília/DF, 10 de maio de 2016

Boa  tarde. Boa tarde, queridas companheiras. Boa tarde para todas as mulheres que estão aqui e que representam as mulheres brasileiras de todo o Brasil, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, do interior. As mulheres lá da Amazônia, do Rio Grande do Sul, as mulheres de todos os 27 estados. As mulheres no Nordeste, lá no Centro-Oeste, enfim, as mulheres desse País. As mulheres do Ceará, as mulheres de Sergipe, as mulheres de Pernambuco, as baianas, as mineiras, as matogrossenses, as matogrossenses do Sul, as goianas, as mulheres aqui do DF, as mulheres que vivem no Norte do País, Rondônia, Roraima, Acre, Amapá, as de Santa Catarina, as do Paraná, as de São Paulo, as do Rio de Janeiro, as do Espírito Santo, Maranhão, Alagoas, Rio Grande do Norte, Piauí… minha filha, a fronteira é imensa, um País imenso com uma fronteira imensa. Bom, falei todos os estados. A Amazônia eu já falei!

Eu queria aqui cumprimentar Rosemary Maria Vieira Teles e por meio da Rosemary eu cumprimento todas as companheiras aqui presentes, as conselheiras.

Queria também cumprimentar aqui as ministras, cumprimentando a ministra Nilma Lino Gomes, das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos. A nossa querida Eleonora Menicucci, secretária especial das Mulheres. Cumprimentar a Tereza Campello, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a ministra do Bolsa Família. A Inês Magalhães, das Cidades, que é responsável pelo programa Minha Casa Minha Vida.

Queria cumprimentar a embaixadora dos Estados Unidos da América no Brasil, a embaixadora Liliane Ayalde,

Cumprimentar as ministras das mulheres ao longo dos ultimos 13 anos, responsáveis por tudo que nós construímos: a Emília Fernandes, a Iriny Lopes, a Nilcea Freire.

Queria cumprimentar as nossas aguerridas senadoras: Angela Portela, Fátima Bezerra, Gleisi Hoffmann, Regina Souza, Vanessa Graziotim.

Queria cumprimentar os deputados estaduais e as deputadas estaduais aqui presentes: a Ana Peruguni, a Angela Albino, a Benedita da Silva, a Érica Kokay, o Helder Salomão, a Jandira Feghali, a Jô Moraes, Lidiane Lins, a Luciana Santos, a Maria do Rosário, a Margarida Salomao, o Paulão, a professora Marcivânia,

Cumprimentar aqui dois secretários especiais: o Ronaldo Barros, da Promoção da Igualdade Racial, e o Rogério Sottilli, dos Direitos Humanos.

Queria cumprimentar também a presidenta da Caixa Econômica Federal, a Miriam Belchior,

Queria cumprimentar representantes de organismos internacionais: a Laisa Abramo, diretora da Unidade de Direito da Cepal; a Luísa Carvalho, diretora regional da ONU; a Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres no Brasil,

Queria dirigir um cumprimento especial à deputada federal Alice Portugal. Vejam vocês, não botaram ela aqui, mas ela ganhou um cumprimento especial.

A Moeminha Gramacho.

Bom, todas vocês eles esqueceram de botar. Um abraço para todas.

A Neuza Geralda Tito, coordenadora-executiva da 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres,

Queria cumprimentar as jornalistas, fotógrafas, as cinegrafistas e também os jornalistas, os fotógrafos e os cinegrafistas.

Olha gente, para mim é um momento muito importante, é um momento decisivo. É um momento decisivo para a democracia brasileira esse momento que nós estamos vivendo hoje. Sem dúvida, nós estamos num momento em que a gente sente que nós estamos fazendo a história desse País.

E para mim é muito importante que hoje eu participe aqui da 4ª Conferência das Mulheres com cada uma de vocês. Eu não poderia estar em um lugar melhor do que esse. Um lugar em que eu sinto a energia de vocês, sinto o acolhimento de vocês e sinto essa imensa capacidade de luta, de resistência e a determinação das mulheres brasileiras.

A história ainda vai dizer quanto da violência contra a mulher, quanto de preconceito contra a mulher tem nesse processo de impeachment golpista. Nós sabemos que um dos componentes desse processo tem sempre uma base no fato de eu ser a primeira presidenta eleita pelo voto popular, a primeira presidenta eleita do Brasil.

E eu quero dizer para vocês que uma parte muito importante da minha capacidade de resistir decorre do fato de eu ser mulher. Mas, além disso, decorre do fato de eu ter plena consciência que eu tenho de honrar as mulheres do meu País, mostrando que nós somos capazes de resistir e de enfrentar. Nós temos uma força que não se confunde com a brutalidade. A nossa força não está em sermos ferozes, em sermos irascíveis, raivosas. A nossa força está em sermos lutadoras, guerreiras e extremamente sensíveis e capazes de amar,  até porque temos essa imensa capacidade que é dar a vida.

Então a história vai mostrar, e vai mostrar como o fato de eu ser mulher me tornou mais resiliente, mais lutadora. E muitas vezes como até hoje, queriam que eu renunciasse. Jamais passou a renúncia pela minha cabeça. A renúncia passa pela cabeça deles, não pela minha. Por que eu digo isso? Porque eu sou uma figura incômoda, porque enquanto eu me manter de pé, de cabeça erguida, honrando as mulheres, ficará claro que cometeram contra mim uma inominável injustiça, enorme injustiça. A renúncia é algo que satisfaz a eles, não a nós. A nós o que satisfaz é a luta, é isso que nos satisfaz, é a luta.

Eu asseguro, portanto, a vocês que eu vou lutar com todas as minhas forças, usando todos os meios disponíveis, meios legais, meios de luta, vou participar de todos os atos e as ações que me chamarem. Quero dizer a vocês que, para mim, o último dia previsto do meu mandato é o dia 31 de dezembro de 2018. Eu quero dizer a vocês que eu não estou cansada de lutar, eu estou cansado é dos desleais e dos traidores. E tenho certeza que o Brasil também está cansado dos desleais e dos traidores.  E é esse cansaço dos desleais e dos traidores que impulsiona a mim a lutar cada dia mais.

Eles, portanto, quando propõem a minha renúncia, têm dois objetivos. O primeiro deles: eles querem, de todas as formas, evitar que eu continue falando com vocês e denunciando o golpe. Querem também disseminar uma ideia: “Ah, ela é mulher, ela não tem capacidade de resistir”.

Pois bem, eu quero dizer a vocês que a minha capacidade é enorme. Eu  carrego comigo a força das mulheres e também dos homens que  se tornaram protagonistas de seus direitos, sujeitos de seus direitos, nesses últimos 13 anos. Eu carrego em mim a força de vida dos 36 milhões de brasileiros e brasileiras que saíram da pobreza.  Eu carrego em mim os 11 milhões que moram em casa própria do Minha Casa Minha Vida. Eu carrego comigo os 63 milhões de brasileiros e de brasileiras que não tinham atendimento médico e agora têm, pelo Mais Médicos. Carrego os 9 milhões e 500 mil do Pronatec. O Pronatec, um programa de formação profissional no qual as  mulheres são a maioria. Carrego também todos os mais de 4 milhões que fizeram ProUni, que fizeram Fies, que entraram na universidade. E carrego todos aqueles filhos de pedreiros que viraram doutores. Todos aqueles que tiveram acesso à educação pela política de cotas. Por isso é que eu não, jamais vou desistir.

Quero dizer a vocês que os golpistas carregam outro tipo de promessa com eles mesmos. Eles carregam promessas que nós não votamos nelas. Elas foram derrotados nas urnas em 2014. Eles carregam com eles a promessa de retrocesso. Prometem eliminar a obrigatoriedade dos gastos em saúde e educação. Prometem desvincular os benefícios do salário mínimo, principalmente os previdenciários. Prometem privatizar tudo que for possível. Prometem acabar com o pré-sal. E é isso que nos diferencia. Eu não fui eleita para isso. Eu fui eleita com a força de vocês para garantir os programas sociais. Eles que prometem focar e flexibilizar, eles que abrem uma CPI da UNE, eles que perseguem todos os que são capazes de lutar a favor da diversidade e contra o preconceito, eles são os golpistas.

Nós temos um lado, o nosso lado é o lado que garante que as mulheres hoje sejam aquelas que recebem o cartão do Bolsa Família, que dá prioridade à titularidade da mulher no Minha Casa Minha Vida, que combate a violência contra a mulher, que aprovou a Lei do Feminicídio. Nós somos aquelas que queremos a casa da mulher brasileira porque queremos uma forma eficaz, efetiva, de garantir acolhimento, proteção às mulheres vítimas de violência. Nós queremos um País em que a intolerância, em que o preconceito não tenha espaço para crescer. Nós queremos um País em que sejamos cidadãos diferentes, porém não desiguais. É esse o país pelo qual todos nós lutamos.

Eu quero dizer a vocês que o povo brasileiro votou em mim duas vezes, e agora eu quero dizer que esses 54 milhões de votos que eu recebi das urnas no ano de 2014, eu vou honrá-los. Por isso eu quero dizer a vocês que esse processo de impeachment é um golpe, é golpe contra tudo isso que eu acabo de dizer. É um golpe.

Muitos deles dizem: “Ah”... Quando eles dizem: “Olha, na Constituição Brasileira está previsto o impeachment”. O que eles estão fazendo é contar só uma parte, uma parte da verdade. Eles ocultam que a Constituição Brasileira diz que impeachment só pode ocorrer se houver crime de responsabilidade. E eu não cometi crime de responsabilidade. Eles me acusam de seis decretos e uma transferência para o Plano Safra. Os seis decretos dos quais eles me acusam não são decretos feitos para beneficiar a Presidência da República, a minha pessoa ou quem quer que seja. São decretos de funcionamento do governo, decretos feitos pelos presidentes que me antecederam, como esses foram feitos 27 no governo de ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. E se naquela época não era crime, não é crime hoje também.

E eu vou dizer para vocês que tipo de decretos são esses. Não são decretos difíceis de entender. Um deles, por exemplo, diz respeito a pedido do Tribunal Superior Eleitoral, não tem nada a ver com Executivo. O Tribunal pede que nós aumentemos, suplementemos a verba de que ele possui por quê? Porque ele teve um excesso de arrecadação, porque arrecadou mais fazendo concurso público. Então, pedi a suplementação.

O outro pedido é do MEC, do Ministério da Educação, que pedia suplementação para hospitais federais. O outro, por exemplo,  é do Ministério da Justiça, que pedia para suplementar verbas para escoltas. Nenhum deles tem nenhum traço de irregularidade. O que eles questionam é que nós não poderíamos suplementar, que nós tínhamos de cortar despesas. É isso que eles questionam. Mas acontece que nós já tínhamos cortado as despesas. Então, há uma manipulação clara nesse caso.

E eu quero dizer a vocês: não tem nenhuma acusação, não tem nenhuma acusação de usar indevidamente o dinheiro público. Todos os decretos diziam respeito a ações e práticas limpas, límpidas, corretas. Se aplicado este mesmo princípio, vários governadores do Brasil teriam também de sofrer processo de impeachment. Isso é um absurdo, é um expediente que usam contra mim.

Agora, ainda pior é a acusação sobre o Plano Safra. O Brasil faz e financia, e financia - e nós temos orgulho disso: financiamos, financiamos, sim, a agricultura brasileira. Ela gera empregos, ela bota comida na mesa. E, portanto, o Plano Safra, ele é feito pelo Banco do Brasil. O governo, num período, atrasou o pagamento ao Plano Safra. E eles falam que esse atraso de pagamento é uma espécie de empréstimo que o Banco do Brasil fez para o governo, e isso não pode ocorrer. Eu nunca ouvi dizer que atraso de pagamento é empréstimo. Quando qualquer pessoa atrasa seu aluguel ou seu pagamento, ela não está pegando um empréstimo, até porque ela vai pagar juros  e multa pelo atraso. Nós pagamos. E tem mais, o que é pior ainda: eu, pela  lei, desde 1994, por essa lei, nenhum presidente da República executa o Plano Safra. Não somos nós que executamos o PLano Safra. Não tem uma assinatura minha nesse processo.

Então, eu estou sendo acusada por uma coisa que não é crime. E além de não ser crime, eu não estava presente nos atos. Não porque não queira, porque a lei assim prevê. E eles sabem disso. Por isso que isso é um golpe, o mais deslavado golpe. Mas não é um golpe qualquer. É um golpe que nós temos de entender a natureza dele. Esse pessoal não consegue chegar à Presidência da República por meio do voto popular, porque não vamos votar no projeto deles, que é um projeto de desmonte do Brasil. Então, eles usam esse processo do impeachment para fazer uma espécie de eleição indireta da qual o povo está alijado e não participa.

É isso que está em curso no Brasil: uma verdadeira eleição indireta. E nós temos de dar nomes aos bois. Esse é um processo conduzido pelo ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em aliança com o vice-presidente da República. Os dois proporcionaram ao País esta espécie moderna de golpe. Um golpe feito não com as armas, um golpe feito não com baionetas, um golpe feito rasgando a nossa Constituição.

Eu tenho certeza que essa é uma luta pela democracia, é uma luta por essa democracia brasileira ainda jovem, ainda frágil, mas que está nas nossas mãos fortalecer. Como na vida das pessoas as crises servem para que cresçamos, para que avancemos, para que nos tornemos mais fortes. Da mesma forma num país um processo como esse deve servir para garantir que nós sejamos capazes de defender aquilo que conquistamos. Seja aquilo que conquistamos no plano da cidadania, seja aquilo que nós conquistamos no plano dos nossos direitos e das nossas lutas.

Vejam vocês, cada um de nós é diferente dos outros. E no Brasil essa diferença serviu para condenar alguns à escravidão, serviu para alijar a grande maioria do povo dos benefícios desse enorme, rico e cheio país, desse país imenso, continental.

Porém, o que nós fizemos, nos últimos 13 anos, foi mudar esse processo e mudar por um caminho: nós reconhecemos a diversidade, nos achamos que ela nos dá força, que ela nos dá vida. Mas nós sabemos que as oportunidades têm de ser iguais. As oportunidades. Quando as pessoas cantam que o filho do pedreiro vai virar doutor, que o filho da empregada doméstica vai se transformar em um médico, esse é o caminho pelo qual nós lutamos nos últimos 13 anos. É essa nossa proposta: a mudança radical em relação às oportunidades.

E aí nós vimos isso ocorrer. Nós vimos isso ocorrer quando quem nunca viajava de avião passou a viajar de avião. Muitos olharam e falaram: “O que esse pessoal está fazendo nesse lugar que era só nosso?” Esse lugar não é mais só deles, esse lugar é de todos nós.  Essa foi a maior revolução pacífica feita num país. E a força dela está em que nós provamos juntos, em cada uma das conferências, em cada um dos nossos diálogos, em cada uma das políticas que implementamos, que era possível mudar a realidade.

E quando se mostra que é possível mudar a realidade ninguém, ninguém, vai deixar de garantir que ela continue mudando. O que nós conquistamos, nós temos de ter clareza, foi só o começo. Tem muito para conquistar. Foi só um começo.

É óbvio que num país que há pouco tempo era um país escravista, um país que estava acostumado a um nível de diferença e de desigualdade social gigantesca, este foi um processo que trouxe descontentamentos de várias pessoas, não é de uma maioria, é de uma minoria. Daqui para frente nós vamos ter de assegurar também a nossa democracia, porque esse processo é um processo virtuoso, porque foi feito dentro da legalidade, sem violência. E nós vamos assegurar que a nossa democracia continue viabilizando, garantindo as oportunidades, construindo a participação de homens e mulheres.

E no nosso caso específico, no caso da desigualdade de gênero, nenhum fundamentalismo vai impedir que a nossa perspectiva de gênero se afirma cada vez mais. Nós sabemos o quanto existe, o quanto existe de misoginia, o quanto existe de machismo em algumas visões. Nós vamos reafirmar a nossa perspectiva de gênero. E eu tenho certeza que uma conferência desse porte, desse tamanho, dessa envergadura é, sem dúvida, uma das nossas mais importantes plataformas de luta.

Eu quero finalizar dizendo o seguinte para vocês: eu me sinto injustiçada, sim. Eu sou vítima de uma injustiça. Mas eu sou um tipo de vítima como nós brasileiros e brasileiras somos, principalmente nós brasileiras, vítimas, porém lutadoras, vítimas que não desistem, vítimas com consciência, vítimas com capacidade de luta.

Muito obrigada e um beijo em todas vocês.