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terça-feira, 11 de agosto de 2015

Denúncia por maus tratos e negligência levam à interdição de asilo

“Ele já havia se queixado de maus tratos. Disse que davam banho gelado. Quando via um dos funcionários começava a gritar, pedindo que o tirassem dali. Em seguida ele veio a falecer, no atestado de óbito consta desidratação e anemia, pura negligência”, contou um familiar do senhor Francisco Melgar, um dos internos do asilo Lar Cantinho dos Idosos, localizado na Rua Uruguai, no bairro Kennedy, que foi interditado na quinta-feira (30). No momento foi determinado o prazo de sete dias para a devolução dos idosos aos seus familiares, porém em função da suspeita de um dos idosos estar com traumatismo craniano, o MP encaminhou a retirada imediata dos idosos do local. Eles forma encaminhados à Santa Casa enquanto aguardam a decisão dos parentes para a sua destinação. A ação foi movida pelo Ministério Público e executado pela Vigilância Sanitária do município.

Depois de quatro mortes no mês de julho de idosos residentes do local e de diversas denúncias de maus tratos e negligência, o Ministério Público notificou a Vigilância Sanitária do Município para que o local fosse averiguado e fossem tomadas as devidas providências. “Há algum tempo a equipe da vigilância sanitária, junto à Secretaria de Desenvolvimento Social, vem acompanhando a situação deste asilo. Quando situado à Avenida 27 de Janeiro realizamos um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) para que a residência fosse adequada para abrigar os idosos. Na ocasião encontramos medicação na mesma geladeira dos alimentos, piso sem proteção antiderrapante e banheiro sem aparadores”, contou a Coordenadora da Vigilância Sanitária, Patrícia Lisiane da Silva Silveira.

A proprietária do local, Betti Raquel, optou então por mudar-se para uma casa na Rua Uruguai, que, de acordo com Patrícia, contava com uma melhor estrutura. “A estrutura foi aprovada, houve algumas pequenas modificações e o compromisso de ir melhorando. Porém, passado algum tempo, as denúncias começaram a surgir. Depois aconteceram as mortes e pessoas que estavam com medo, começaram a ter coragem para denunciar”, afirma.

Atualmente a Polícia Civil investiga os casos para ver se os óbitos foram ocasionados por morte natural, ou foram fruto de negligência e maus tratos. “Existe um processo criminal que está sendo conduzido pelo Ministério Público e outro administrativo, conduzido pela Prefeitura”, destaca Patrícia.

A proprietária se diz surpresa com a decisão, pois ainda não recebeu nenhuma intimação. “Os idosos saíram daqui chorando, querendo ficar. Não consigo entender o que está acontecendo”. 

Patrícia diz que sempre procurou manter contato com Betti e com a equipe que atuava na casa através de reuniões para que ela adequasse o local e o tratamento para com os idosos, porém isso não acontecia, pelo contrário, a situação vinha piorando. “Nas últimas visitas já encontramos a casa mais abandonada. Uma enfermeira do município que foi realizar a vacinação nos idosos constatou que todos estavam com sarna. Fomos investigar e as roupas eram lavadas todas juntas, sem levar em conta um cronograma adequado”.

O médico responsável pelo local, Fávio Telis, diz que nunca percebeu nada de errado com os idosos. “Assinei como médico responsável, mas fiz isso como voluntário. Comparecia ao local quando me chamavam ou quando precisavam de algum medicamento. Nunca presenciei maus tratos”. Segundo o médico não havia uma rotina de visitas, ele ia quando solicitado e eventualmente realizava visitas espontâneas. Sobre os óbitos, Favio diz acreditar que todos eles foram por causas naturais, já que os pacientes eram idosos e sofriam de doenças crônicas. “Essa é uma acusação muito dura e que precisa de uma investigação a fundo. Não acredito que tenham sido ocasionadas por negligência e sim por condições naturais da velhice”.
Ele ainda ressaltou que nunca houve reclamação por parte dos familiares, mas que concorda que o local precisava de uma estrutura melhor e da contratação de alguns profissionais, como uma nutricionista, por exemplo. “Entendo que faltava algumas adequações importantes, mas maus tratos ou negligência, nunca constatei”, finalizou.

Edição de 06/08/2015 Ano VI nº 224 


 

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