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quinta-feira, 18 de junho de 2015

Medidas propostas pelo governo do estado podem acabar em greve na educação e segurança pública

O governo do Estado encaminhou um pacote com 11 projetos à Assembleia Legislativa, no começo da tarde do dia 03 de junho. Segundo o Executivo gaúcho, o objetivo é estancar a crise financeira. Há medidas que aumentam a alíquota sobre doações e heranças, mexe em conquistas de servidores e proíbe, por exemplo, que um governo conceda reajuste e deixe para a próxima gestão pagar. Das 11 propostas, apenas uma foi em regime de urgência e poderá trancar a pauta da Assembleia. É o projeto que altera os critérios de promoção dos oficiais da Brigada Militar. A maioria das medidas, se aprovadas, vale para 2016.

O pacote chamado pelo governo de “ajuste fiscal gaúcho – fase 2 -”, foi apresentado pelo chefe da Casa Civil, Márcio Biolchi, que estava acompanhado dos secretários Geral, Carlos Búrigo, e da Fazenda, Giovani Feltes. Com as medidas que aumentam a receita, o governo projeta uma arrecadação de R$ 400 milhões por ano no futuro, já que os projetos, se aprovados pelos deputados, passavam a valer em 2016. Questionado se o nome do pacote é uma tentativa para sensibilizar a oposição, principalmente o PT (já que o Governo Federal, petista, também tenta promover um ajuste fiscal), Biolchi foi taxativo: “Não é uma estratégia, nós precisamos fazer um ajuste fiscal de verdade”. “É uma necessidade”, completou Feltes.

Além dos projetos, o governo do Estado apresentou três decretos, que serão publicados posteriormente no Diário Oficial. O primeiro deles prorroga por mais 180 dias o documento em vigor desde janeiro de 2015 e que corta diárias e horas-extras e suspende o pagamento de fornecedores. A medida deve gerar uma economia de R$ 1,07 bilhão neste ano. O segundo cria o Programa de Reorganização, Aperfeiçoamento e Promoção da Eficiência da Administração Pública Estadual. Já o último trata da publicação nominal dos salários dos servidores em cumprimento à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

Alguns das medidas devem provocar polêmica na Assembleia Legislativa e entre as diferentes categorias de servidores. Uma delas é a Lei Estadual de Responsabilidade Fiscal que proíbe que o administrar faça compromissos para o futuro gestor. Isso vetaria, por exemplo, os reajustes concedidos pelo governo Tarso Genro (PT) ao funcionalismo, já que foi parcelado. “Ela não traz uma política fiscal de governo, mas uma política de Estado”, afirmou o chefe da Casa Civil, ressaltando que essa legislação possibilitará somente os reajustes “que se tem condições”. “Entendemos que esse é um dos principais projeto de alcance perene”, acrescentou ele, apesar de não ter impacto financeiro.

Outro projeto que deve gerar polêmica é o que transforma a licença prêmio em licença capacitação e retira o caráter cumulativo e indenizatório. Na justificativa, o governo argumenta que as despesas com indenização dessas licenças aumentaram “de forma considerável” nos últimos anos. Como se trata de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), em caso de ser aprovada, a PEC não atingirá só os servidores do governo, mas dos outros poderes do Estado.

Também deve repercutir a proposta que põe fim à incorporação da Função Gratificada (FG) que os servidores adquirem ao trabalhar em outros poderes, como Assembleia Legislativa, Poder Judiciário e Ministério Público. A medida, conforme Biolchi, reduzirá o número de cedências e também os gastos futuros do Estado com aposentadorias. “Ele conquista o benefício por um lado e manda a conta para outro Poder. Certamente aumentamos o passivo de aposentadorias”, argumentou o chefe da Casa Civil. Questionado se o projeto não causaria descontentamento entre servidores, ele afirmou que não, ao contrário, uma vez que é uma minoria beneficiada. “Nem todos têm a oportunidade de incorporar FG na carreira”, justificou Biolchi.

Ainda em relação a conquistas dos servidores, o governo propõe o fim da promoção por merecimento dos policiais militares. Hoje, os brigadianos que trabalham em órgãos do governo, como a Secretaria de Segurança, ou em outros poderes têm direito à promoção. “Julgo uma boa inovação que faz com que privilegie quem está em atividade”, avaliou o chefe da Casa Civil, referindo-se ao trabalho específico na área de segurança.

Presidente da Associação dos Cabos e Soldados, Leonel Lucas disse que recebeu “com preocupação” o pacote do governo e que as medidas anunciadas só prejudicam a segurança pública e, em consequência, a sociedade. “O governo não está dando bola para a segurança pública ao não chamar os concursados”, argumentou ele, sobre os 2 mil concursados que aguardam nomeações. Sobre o projeto para trazer os inativos de volta, ele acredita que não irá ocorrer, porque os atrativos não compensam ao contrário do que, conforme Lucas, renderia “os bicos” feito pelos aposentados. “O incentivo é muito pouco”, completou ele.
Mas o projeto que mais desagradou o presidente da associação foi o que transforma a licença prêmio em licença capacitação. “Isso nós não concordamos, isso é direito nosso e nós não perderemos”, adiantou Lucas, destacando que os policiais irão se mobilizar contra parte do pacote.

Policiais Civis aprovam estado de greve em assembleia

Os policiais civis entraram em estado de greve. A decisão foi aprovada na assembleia convocada pelo Sindicato de Escrivães, Inspetores e Investigadores da Polícia (Ugeirm) e realizada na tarde desta segunda-feira (8). Cerca de 100 lideranças da categoria de todo o Estado participaram do encontro.

O estado de greve, explica o presidente da Ugeirm, Isaac Ortiz, significa que os policiais civis podem paralisar “a qualquer momento”, caso o governo José Ivo Sartori (PMDB) encaminhe à Assembleia Legislativa projetos que retirem direitos ou conquistas da categoria. “Se precisar entrar em greve, vamos entrar sem muita delonga”, avisa o sindicalista.

“Vemos com muita preocupação (o pacote), só vem deixar o policial mais intranquilo do que ele já estava”, diz Ortiz. Uma delas é a prorrogação por mais 180 dias do decreto em vigor desde janeiro e que corta despesas, diárias e horas extras, além de suspender contratações de servidores e a realização de concursos. “O que nos assusta mais é a falta de segurança, o risco aumenta cada vez mais. Antes de sermos policiais, somo cidadãos”, argumenta o presidente da Ugeirm, sobre a fragilização da área devido aos cortes feitos pelo governo.

“Ele (Sartori) não pode deixar a banalização da vida como está ocorrendo”, sustenta Ortiz, referindo-se aos riscos aos quais as pessoas estão expostas devido ao aumento da criminalidade e que o reforço da segurança não pode esperar o governo “acertar as contas ou fazer ajuste fiscal”. A decisão tomada na assembleia desta segunda-feira será informada ao governo pelo sindicato, que pedirá uma agenda com o comando da Segurança.

Além do estado de greve e “assembleia permanente”, os policiais civis de todo o Estado – hoje, são mais de cinco mil – irão fazer uma marcha no dia 7 de julho com saída do Palácio da Polícia até o Piratini, que terá também a participação de brigadianos e de funcionários da Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) e do Instituto Geral de Perícias (IGP).

Cpers critica pacote e começa caravana pelo Interior

Vieira da Cunha esquece professores ao falar de metas e projetos da SEC
A direção do Centro dos Professores do Rio Grande do Sul (Cpers/Sindicato) também se reuniu na tarde desta segunda-feira para avaliar o pacote. Presidente da entidade, Helenir Aguiar Schürer critica a Lei Estadual de Responsabilidade Fiscal, uma das propostas do conjunto de medidas apresentadas por Sartori. O projeto barra, por exemplo, reajustes para pagamento dos sucessores em caso de a receita não comportar. Além disso, limita em 75% os gastos com custeio e investimentos e 25 com a folha de pagamento. Para a professora, a lei “poderá deixar” os servidores sem aumento.

Também foi alvo de críticas da presidente do Cpers,  a proposta que transforma a licença-prêmio em licença-capacitação concedida a cada cinco anos pelo período de três meses. Pelo projeto, o servidor terá que usar o período para capacitação e não receberá mais indenização. “É um absurdo! Vai nos tirar direitos, o que temos é melhor”, protestou Helenir, referindo-se à licença-capacitação indenizada e de até um ano garantida no plano de carreira dos professores.

A representante do sindicato demonstrou preocupação ainda com a suspensão de nomeações de professores devido à prorrogação do decreto. “Hoje, faltam professores. Não sei o que o Estado está pensando em relação à falta de professores. Vamos denunciar isso no interior”, afirmou a professora. A presidente do Cpers se refere à Caravana da Educação pelo Interior do Estado, que começa nesta terça-feira (9), para discutir com os núcleos atos com o objetivo de garantir que os direitos de professores e dos funcionários de escola “não sejam atacados” pelo governo Sartori. A comitiva focará, além das medidas do pacote, na defesa do plano de carreira da categoria e no pagamento do piso nacional do magistério. No roteiro, o comando do sindicato também já deve mobilizar os núcleos para uma possível greve.



Edição de 10/06/2015 Ano VI nº 216



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