Um espaço aberto para o leitor

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Vida longa ao Clube Social 24 de Agosto!


Por Andréa Lima

O Patrimônio cultural, de forma simples, pode ser definido como um conjunto de bens ou valores, materiais ou imateriais, repassados de geração em geração, na trajetória de uma comunidade. É aquilo que faz sentido e por isso preservamos, de diferentes maneiras, nos identificamos e construímos relações simbólicas e de afetividade.

Pode ser o tradicional patrimônio edificado, de ”pedra e cal”, mas também abarca uma série de outras manifestações. São patrimônios os saberes e fazeres, como as receitas do tempo das nossas avós, algumas festas e celebrações, expressões, e também podem ser os lugares.
Jaguarão é uma cidade repleta de repertórios patrimoniais, basta andar por suas ruas para saber. Por conta de sua história e dos sítios preservados, é considerada Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, tombada pela União.

Nas leituras e olhares sobre a cidade, durante muito tempo privilegiou-se seu passado militar, os contornos portugueses e espanhóis, os referenciais euro-ocidentais. 

Enquanto determinados passados foram revolvidos e elevados à esfera patrimonial, outros tantos foram silenciados. Durante muito tempo, por aqui pouco se falou, por exemplo, da história, memória e das diversas expressões da cultura negra, apesar de sua importância para a cidade.

Esta situação começa aos poucos a mudar com o tombamento do Clube Social 24 de Agosto. Nem todo mundo sabe, mas o 24, que também é Ponto de Cultura, foi o primeiro clube negro a ser reconhecido como Patrimônio Histórico do Rio Grande do Sul, o que se deu no ano de 2012. 

O pedido de proteção do local como patrimônio cultural aconteceu diante da ameaça de perda da sede, que foi a leilão a partir de um processo muito questionável junto ao ECAD (Escritório Central de Arreacadação e Distribuição), que é um órgão responsável pelos Direitos Autorais.

A mobilização partiu da própria comunidade que, literalmente, abraçou o prédio, para poder preservá-lo como palco de tantas histórias.

O clube 24 foi formado no ano de 1918, por um grupo de amigos que fundaram a entidade visando a criação de um espaço de sociabilidade para a comunidade negra de Jaguarão. Neste período, como resquício de uma sociedade escravocrata e impregnada pelo racismo, eles eram impedidos de freqüentar, em função de sua cor, outros clubes sociais da cidade.

Ao invés de se resignar, esta comunidade construiu seu próprio espaço e, com o tempo, abriu as portas para todos, protagonizando os chamados “bailes da integração”, junto ao saudoso Clube Caixeiral. 

Hoje, além das tradicionais festas, o Clube 24 desenvolve uma série de outras atividades, como ações afirmativas, do campo da educação e da cidadania cultural. Parabéns pelos seus 97 anos! 

Minha singela homenagem em nome de seu Presidente, o seu Neir Madruga, e os sinceros agradecimentos por todos os aprendizados proporcionados neste espaço! Vida longa!

Edição de 26/08/2015 Ano VI nº 227
 



Nenhum comentário:

Postar um comentário