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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Por que apoiar a regulamentação da cannabis no Brasil?

Por Andréa Lima

Se tem um debate que precisa ser levado adiante em nosso país e que requer avanços na legislação é o da regulamentação do uso da planta cannabis sativa, a famigerada maconha. 

Diversos países já assumiram o compromisso de chamar para o Estado o seu controle, inclusive nosso vizinho, o Uruguai, mas o Brasil, pautado pelas bancadas conservadoras, ainda anda a passos de tartaruga no tocante a este tema.

Embora a grande mídia manipule as informações e forme a opinião pública para se posicionar radicalmente contra, basta trazermos à tona alguns dados e questões, para logo compreendermos o quanto seria vantajoso legalizar o uso da planta, seja de forma recreativa ou medicinal, até a aplicação do cânhamo na esfera industrial.

Ao proibir, alimentamos, hoje, o narcotráfico, pois é fato que existe um mercado consumidor e, francamente, conseguir a droga parece ser mais fácil que pão. A maconha é a terceira substância psicoativa mais consumida do planeta, perdendo, apenas, para o ácool e o tabaco e, segundo a ONU, cerca de 5% da população mundial recorre ao mercado ilegal para consumir drogas.

Se, por aqui, ousarmos regulamentar, ao invés de deixarmos como está, nas mãos dos traficantes, teremos uma grande economia, a começar pela redução dos gastos com a guerra às drogas e a repressão. 

Atualmente, em torno de 27% dos presos no Brasil respondem pelo crime de tráfico e, entre estes, muitos foram pegos apenas pelo porte da droga para consumo próprio, sem antecedentes criminais.

Os gastos anuais apenas com esse tipo de detenção giram em torno de 1,3 bilhão de reais. Será que estes recursos não seriam melhor investidos em políticas de educação, saúde e prevenção?

Tratando, em específico, dos possíveis riscos da maconha para os usuários, podemos compará-la com o álcool e o fumo então, que são liberados e amplamente consumidos. 

Custos relacionados com a saúde dos consumidores de álcool são oito vezes maiores que os relacionados aos consumidores de maconha. São inúmeras as pesquisas que demonstram que o álcool representa muito mais – e mais graves – problemas de saúde do que a cannabis, que pode ser usada, ainda, com fins medicinais.
Remédios produzidos à base da planta são atualmente aplicados em pacientes que sofrem de doenças como esclerose, fibromialgia, HIV- Aids, glaucoma, epilepsia e uma série de distúrbios. Ela também é utilizada em pessoas com câncer, para que tenham uma tolerância maior a tratamentos como a quimioterapia, por exemplo.
Como ainda não temos a regulamentação de seu uso, porém, a maioria dos medicamentos derivados da erva precisam ser importados, como é o caso do canabidiol, apresentando um alto custo para os pacientes, que poderiam ter um tratamento muito mais acessível com a permissão das pesquisas científicas e a produção medicinal no próprio país.
Tratando, por fim, da produção industrial, muitos postos de trabalho poderiam ser gerados com a exploração da planta, que é facilmente empregada na produção de papel, tecidos, materiais de construção, combustível e suplementos. O Brasil tem condições climáticas e solo ideais para o cultivo do cânhamo industrial, sendo um dos mais fortes e versáteis produtos agrícolas, usado em mais de 2.500 produtos e subprodutos.
Registros históricos informam que até as caravelas utilizadas por Pedro Álvares Cabral tinham suas velas e cordames produzidos com fibras de cânhamo, imaginem se o produto não era bom!
Edição de 23/09/2015 Ano VI nº 231
 
 
 






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