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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Um Galeano para o Mundo por Vicentepimentero

Publicamente, desde a adolescência, Eduardo Galeano mostrou sua veia aberta para o socialismo.

Não imaginaria ele a magnitude de sua essência, não imaginaria ele que o mundo que criou para si, viria a atravessar uma metade de século, como uma flecha atemporal que gravita em todo o globo, e no cintilar da consciência de cada pensamento, sobre tudo, inventa um mundo sonhador e astutamente íntegro de liberdades.

Um intelectual, um ensaísta tenro, voraz, uma satírica e cuidadosa maneira de escrever que uniam, Galeano, de seu mundo e para o mundo, num dos historiadores mais incríveis que assomou a contemporaneidade.
Para Eduardo não houve fronteiras que o detivessem, atravessou oceanos e desertos na magnifica arte de encurtar as distâncias através da palavra.

Explicou e foi o porta voz de inúmeras gerações de ativistas sociais, se engajou em fazer frente às injustiças, com sua arma vital, jamais letal, a palavra, a escrita, o sentimento, o pensamento.

Frequentou problemáticas e dividiu visões políticas com escritores e colaboradores daquela ilustre geração, Benedetti, Llosa. Historiador e principalmente investigador nato, fez do seu jornalismo um instrumento de coesão ideológica em meio a uma cultura de domínio e barbárie que se escreve nas modernidades e antiguidades da história.

Esteve engajado na crítica inteligente em todos os períodos de sua carreira, e mesmo sendo alvo da incoerência ditatorial dos anos 70, soube, como muitos da sua época, reverter-se à sociedade livre como um expoente, opinador do comportamento e de regras e padrões sociais da nova era, pós ditadura.
Não se absteve em nenhum momento importante da realidade política social da América Latina, e incentivou a resistência e a luta das minorias.

Poetizou felicidades e desgraças, desenhou nas estrelas um mundo visto de cabeça para baixo, talvez mais divertido, contudo lúdico, louco, atrevido.

Atravessou etapas cruciais e dificultosamente diferentes no giro político e social dos últimos 50 anos.
Generoso, soube compartilhar seus ideais, deu coragem, deu afago, luz.

Homem do mundo trazia consigo uma marca que o delatava como charrua, amava o futebol, e como todas as coisas simples e populares falava dele como ninguém, sabia ser uruguaio em qualquer parte do mundo e ao mesmo tempo mundano em seu próprio país.

Eduardo Galeano mais do que as veias tinha a mente aberta, mesmo preso foi livre, encarcerado desamarrou as cordas da alma, e mesmo hoje, assim, aparentemente ausente, sempre estará em nossa essência, indelével, onipresente, um deus anônimo.

Edição de 15/04/2015 Ano VI nº 208





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