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quarta-feira, 25 de março de 2015

Mexeu com uma, mexeu com todas!

Por Andréa Lima

Esses dias li uma frase que me chamou muito a atenção, estava escrita em uma faixa de uma Marcha de Mulheres da Amazônia, se não me engano, e dizia: “as mulheres são como as águas, crescem quando se encontram”. Pura verdade. E também dialoga muito com outra que diz que é fácil reconhecer mulheres fortes, que são aquelas que buscam ajudar e estar unidas a outras mulheres, ao invés de vê-las como inimigas.

Parece coisa simples, mas para pôr em prática, se faz necessária a desconstrução de tudo que nos é ensinado e incutido de diversas formas ao longo da vida. A educação e a cultura em nossa sociedade, pautadas pelo patriarcado, durante longa data nos ensinaram a competir e a ver em outras mulheres adversárias. Na televisão, por exemplo, e principalmente nas novelas, são corriqueiras as tramas e cenas em que uma mulher “puxa o tapete” da outra, sente inveja, trai, fala mal, chantageia e isso, infelizmente, faz parte da nossa formação. Se as meninas crescerem buscando referências no que encontram neste tipo de programação, dificilmente conseguiremos transpor estes estereótipos que nos moldam e buscar coisas mais produtivas para pensar e fazer.

Por este e outros motivos, já faz muito tempo que lá em casa fechamos as portas para a Rede Globo. Quem quer educar um filho ou uma filha tem que entender, definitivamente, que a televisão não deve ser o membro principal da família, como um dia nos disse Eduardo Galeano. Precisamos ouvir uns aos outros, possibilitar momentos de encontro e estarmos unidos e unidas em torno de questões que dizem respeito diretamente à transformação das nossas vidas.

A semana passada foi uma semana muito bacana neste sentido para mim, em que estive junto com outras mulheres e aprendi muitas coisas. Aconteceu em nossa cidade a 4ª Marcha e a Semana Binacional das Mulheres, com uma programação diversificada que se estendeu de 08 a 13 de março, com encontros, saraus, mostra de vídeos e outras atividades de formação.

Já faz quatro anos que reconhecemos no Dia Internacional das Mulheres, em Jaguarão, uma data de luta, e estamos em marcha nas ruas. Nos reunimos e levantamos bandeiras e faixas em uma caminhada simbólica que faz parte da busca pela garantia dos direitos e construção de mais espaços para as mulheres, de forma posicionada contra toda forma de violência e discriminação.

Este ano elegemos como pauta principal a luta pela Reforma Política, que deve ser construída com muito diálogo com a base e os movimentos sociais, para mudar a cara dos Congressos e Assembleias, que são, em suma, dominados por homens, brancos, representantes do empresariado, do agronegócio e das bancadas evangélicas e, assim, muito pouco representam nossos anseios, já que somos a maioria da população.

Não fomos para a rua pedir o “Impeachment” da Presidenta Dilma, que tem muito mais a cara de tentativa de golpe da direita insatisfeita com os resultados das eleições, mas pautamos sim a necessidade de se acabar de uma vez por todas com o financiamento empresarial e privado de campanhas, que afasta e despolitiza as pessoas e transforma um espaço de construção de direitos em um cenário de disputa econômica, que têm desfavorecido a classe trabalhadora e os setores mais vulneráveis da população.

Quero fechar este texto dizendo que foi um imenso prazer contar com a participação, este ano, de muitas mulheres uruguaias nestes movimentos, pois foi a primeira vez que conseguimos fazer a semana com o formato binacional e conhecer melhor a realidade das mulheres fronteiriças.

Por aqui, a ordem do dia passou a ser “Si tocán a una, tocán a todas!”. “Mexeu com uma, mexeu com todas!”


Edição de 18/03/2015  Ano IV nº 204





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