Um espaço aberto para o leitor

sábado, 3 de outubro de 2015

coluna Gente Fronteiriça - Memórias de um teatro

Por Carlos José de A. Machado

Não sei precisar o dia e o mês, mas sei que foi pouco antes de junho de 1974, quando com oito anos incompletos entrei pela primeira vez naquele amplo teatro, que nunca havia imaginado existir na minha cidade. Fui com minha escola, na época o Grupo Escolar Joaquim Caetano da Silva assistir apresentações das turmas, com a professora Isolda Perez. No palco algumas apresentações homenageando a seleção brasileira que estava pra disputar a copa de 1974. Assistia tudo encantado, não sei se com as apresentações ou com a imensidão daquele prédio. Meu irmão mais velho com nove anos apresentava-se no palco em um jogral, o que me fez pensar: eu também quero me apresentar ali. Mas, naquele palco, levou um bom tempo pra que isso se concretizasse, quando em 1992 lá estava eu me apresentando numa peça de teatro, e depois em 1995 ganhando a fase regional de Teatro Amador do RS. Lembro que, naquele palco, olhando aquela plateia, me lembrei de meus oito anos (coisa que já havia, ou pensei, ter deixado pra trás). A novidade já não era tão imensa como quando temos oito anos de idade, mas era uma situação que me trazia felicidade.

Quando me deparei com a obra “Olhares de Jaguarão” de Eduardo Alvares de S. Soares e Sergio da Costa Franco (2010), um mundo de minha cidade se abria ali, onde pude ir comparando com o que “diziam” os livros e cadernos escolares. Mas, aqui neste momento, me deterei num relato de Vilmar José Silveira de Lima, da obra referida, do inicio dos anos de 1950, que me fez relembrar aquela minha passagem citada, do início dos anos 1970, momento em que pela primeira vez entrei em contato com o Teatro Esperança.

Mas ir ao amplo Cine Teatro Esperança, em Jaguarão, era um acontecimento social pelo desfile de elegância das famílias e casais como fecho e ponto alto de cada semana. Em seu palco tive a honra de participar de peça teatral encenada com alunos da escola primária que eu cursava, o Grupo Escolar Joaquim Caetano da Silva.” (Franco e Soares, 2010, p.135)

Estas e outras memórias é que fazem este teatro ser considerado Patrimônio da cidade, e lembrado sempre que é perguntado sobre que bens poderiam representar a cidade de Jaguarão. Vejamos que o patrimônio acaba se tornando uma prática de memória obedecendo a um projeto de afirmação de si mesma, conforme o antropólogo Joel Candau. Aqui, a memória de minha cidade, a memória de seu teatro, que é um efetivo lugar de memória.

Edição de 30/09/2015 Ano VI nº 232





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