Um espaço aberto para o leitor

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Parto Humanizado também é um direito nosso

Por Andréa Lima

Para mudar o mundo, primeiro é preciso mudar a forma de nascer”. A frase é do médico francês Michel Odent, que se tornou um símbolo da luta pelo parto natural, junto a milhares de mulheres organizadas pela humanização, protagonismo materno e respeito ao gestar e parir, de acordo com suas escolhas.

O movimento não é recente, mas ganhou força e visibilidade nos últimos anos, quando os índices de cesáreas se tornaram alarmantes em várias partes do mundo e, especialmente, em nosso país. O Brasil vive, hoje, uma espécie de epidemia de partos com intervenções cirúrgicas, que chegam a 40% na rede pública e a 84% na rede privada, enquanto que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que essa porcentagem não passe dos 15%.
A gravidade do problema levou, inclusive, o Ministério da Saúde a adotar algumas medidas, que começaram a vigorar nesta segunda-feira (06/07).

Com a nova resolução da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), anunciada em janeiro, mas vigente a partir desta semana, as mulheres poderão fazer o que é chamado de Plano de Parto e saber, com antecedência, se o médico ou a maternidade escolhida tem mesmo experiência em atender partos normais.
Outra mudança importante é que o pagamento dos honorários do parto só será liberado se o partograma - um documento gráfico no qual fica registrada a evolução do parto e como ele ocorreu-, estiver preenchido corretamente, ou seja, só depois de a mulher entrar de fato em trabalho de parto.

Assim, a ideia é que a cesárea só seja usada em casos de emergência, quando o trabalho de parto começa. As operadoras de planos de saúde só poderão realizar os pagamentos referentes ao parto com esse documento em mãos. E os planos de saúde que não cumprirem essa determinação serão multados em R$ 25 mil.

Para a sociedade como um todo fica o cuidado redobrado para que o partograma não seja forjado. Para evitar a alteração do documento, a nova lei implantará, também, um plano de auditoria, para atuar na fiscalização.

Trata-se de um importante passo, mas seguimos na luta, ainda, por uma mudança de ordem cultural, que nos leve à reversão das principais formas de violência obstétrica e permita a construção de políticas públicas efetivas, em prol do parto ativo e da humanização.

Isto passa, principalmente, pelo empoderamento das mulheres, - que devem ter acesso à informação e orientação durante todo o pré-natal, para que suas decisões sejam respeitadas -, mas é importante encarar e combater, também, a gigantesca indústria de cesarianas que se instalou em nosso país, e os problemas por ela gerados, como questões de saúde pública.

Para melhor organizar a agenda, seguir atendendo com comodidade em seus consultórios e obter uma maior remuneração, muitos profissionais da área da saúde estão triplicando o risco de morte das mães e aumentando em 120 vezes a probabilidade de os bebês nascerem com problemas respiratórios, entre outras possíveis ocorrências, ocasionadas por uma possível prematuridade.

Em Jaguarão não é diferente e os dados também nos preocupam, pois, em número aproximado, no ano de 2014 foram realizados na Santa Casa 166 partos cesáreos contra cerca de 130 partos normais, em uma média proporcionalmente ainda maior que a nacional.

Vem aí a 7ª Conferência Municipal da Saúde e uma excelente oportunidade para, entre outros temas, discutirmos esta realidade!

Edição de 08/07/2015 Ano VI nº 220






Nenhum comentário:

Postar um comentário