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quarta-feira, 3 de junho de 2015

Notas de uma crônica Cult - Por vicentepimentero


A partir da semana que vem, e durante um mês, escreverei sobre futebol, mais precisamente sobre a Copa América. Se completará um ano desde a Copa do Mundo de 2014 mesmo tempo no qual comecei a escrever para este jornal. Lá pelo Nordeste, região onde passei a maior parte do tempo, colhi notas de vídeo para um eventual documentário previsto para lançamento a meados de 2017, na ante sala da Copa da Rússia no ano seguinte. Para desenvolver o projeto parti de uma base documentarista, de bordo e independente. Viajei apenas com uma câmera e um note book, além da bagagem pessoal, levei comigo o que um torcedor jornalista levaria em qualquer ocasião, além do fanatismo, algumas matérias de arquivo, cadernos e blocos de anotações e camisetas e bandeiras Celestes, fazendo a principal alusão ao foco do filme que chamou-se previamente "Uruguayos en Brasil 2014", até lá, poderá ganhar um slogan, adaptando a realidade e expectativas que deixaram seus rastros neste episódio histórico.

Comecei a filmar na partida, no dia 07 de junho, no aeroporto de Porto Alegre, dois dias antes da abertura. Destino Ceará. Encontrei croatas, japoneses, mexicanos e norte americanos e timidamente comecei a penetrar na atmosfera de uma Copa do Mundo. Preferi registrar com o olhar de um torcedor comum perdido numa multidão de turistas futebolísticos e aproveitei a hospedagem fora do circuíto turístico para possibilitar a inserção fundamental da inclusão da população periférica ao espetáculo ao vivo, mas participativa pelo momento histórico do seu país e do seu povo. Naquele momento único cada dia entrava para a história e todas as populações em território nacional viviam como protagonistas e coadjuvantes de um filme da vida real.

Enquanto intercalava os dias entre alguns recantos paradisíacos da imensa orla cearense às margens de Fortaleza, populava também pelo entorno frenético dos primeiros dia de Copa com uma multidão de fanáticos no carnaval das Fan Fest para festejar o espetáculo do futebol mundial. Na paz da jangada e o sol das 5 da manhã, o descanso entre as infinitas dunas cearenses e a imensidão do mar nordestino, pude contracenar, viver e registrar momentos únicos ao lado dos povos de pequenas cidades e praias aos arredores da grande Fortaleza, seu cotidiano, suas simplicidades e sua maneira de viver aquele momento. Num raio de 100 quilômetros voltava para a loucura das quadrilhas do templo Dragão do Mar e os arredores da praia de Iracema onde tudo efervescia entre o futebol e o carnaval cultural do povo cearense.

Com essa visão de cine cult, num âmbito aparentemente tão industrial e globalizado, pude captar e participar, ao longo da viagem, momentos paralelos que também contradiziam com o sucesso do evento. Manifestações, regiões de pobreza, obras inconclusas, entre outros aspectos também reais do país sede, contrastavam com o luxo e a organização do torneio.

No cine da vida real nos deparamos com curiosidades que nos fazem gostar cada vez mais de fazer o que fazemos, seja no mundo turístico ou profissional. Absorver a gama das nossas inúmeras culturas que se entrelaçam não tem preço, tem um valor imensurável. Certa vez numa outra viagem em visita a Salvador na Bahia, tive a oportunidade de passar meus 30 dias num outro contraste genial, dias antes do carnaval soteropolitano dividi minha estada entre o luxuoso Othon Bahia Palace na orla da praia da Ondina e a Vila do ex-combatentes no pé do morro. Pude então assistir essas duas realidades que me proporcionaram uma experiência bem mais completa.


Termino a crônica de hoje deixando as sábias palavras de um certo amigo meu "tens que curtir tudo Vicente, um samba na laje, uma festa de gala, uma trilha selvagem, um tour metropolitano, uma indiada..." temos que dar valor máximo às experiências, mas de preferência entortar as obviedades das coisas, pitar cult, sobrecarregar a criatividade de quebrar as regras e ao mesmo tempo, num piscar de olhos, voltar pra si.

Edição de 27/05/2015 Ano VI nº 214



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