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quarta-feira, 24 de junho de 2015

As Mães são de luta

Por Andréa Lima

Todos os dias pela manhã, quando estou a caminho para o trabalho, vejo muitas mães levando seus filhos para as creches. Às vezes com frio e chuva e, já cedinho, os pequenos vão enroupados nos banquinhos de bicicletas, carrinhos, ou de mãos dadas com outros irmãos para as escolas infantis.

Dá certa pena de ver, principalmente no auge do inverno, mas sabemos que estes são os itinerários de muitas mulheres batalhadoras, que muitas vezes são chefes de família, e estão tentando ganhar a vida com dignidade. As mães são de luta, é o que sempre penso.

Tive meu primeiro filho aos vinte anos e sei que os desafios são grandes pra quem quer ser mãe e precisa trabalhar e estudar. Quando fiquei grávida, estava no penúltimo semestre da graduação de Artes Visuais, em Pelotas, e não foi nada fácil concluir a faculdade.

Levava o bebê para as aulas, o amamentava e trocava as fraldas no carrinho, pelos corredores. Ainda bem que contei com uma rede de apoio dos colegas e professores e pude seguir adiante, pois não seria justo desistir faltando tão pouco.

Quando me formei, voltei para Jaguarão e passei em uma seleção para o Mestrado. Contei com o apoio da minha família e lá se foram mais dois anos de muita vontade e persistência. O único horário que sobrava para estudar, muitas vezes, era madrugada, quando o silêncio chegava. E haja café para ficar acordada.

Sentava no computador para fazer os trabalhos e atendia pedidos de mamadeira, dava colo, dividia a atenção. Não sei como fomos levando, mas valeu a pena todo o esforço.

Hoje, prestes a nascer mãe pela terceira vez, não acho, sinceramente, que os filhos sejam empecilhos para seguirmos adiante. Mas haja força de vontade, pois as estruturas não são pensadas para facilitar a vida de quem se aventura pelos caminhos da maternidade.

Agora mesmo, enquanto escrevo este texto, minha filha de dois anos revirou os armários da estante e deixou a sala de pernas para o ar! Nos desdobramos em várias, para dar conta do recado.

Os dados não deixam mentir e demonstram que, apesar de mudanças significativas nos últimos anos, nosso sistema ainda é regido pelo patriarcado.

No mercado de trabalho, por exemplo, as mulheres recebem em média 20% a menos do que os homens para o desempenho das mesmas funções. Somos, também, a maioria entre os trabalhadores terceirizados e, por isso, temos que nos qualificar, e muito, para termos estabilidade e ascendermos à melhores postos.

Para isto, além da labuta diária, precisamos nos organizar social e politicamente. Ampliar a participação nos espaços decisórios, na construção das políticas públicas e lutar contra a hegemonia branca, hétero-normativa e masculina, que prevalece nas Assembleias e no Congresso Nacional.



Lutando juntas, teremos muito mais poder do que pensamos na construção das mudanças e da realidade que queremos.

Edição de 17/06/2015 Ano VI nº 217



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