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segunda-feira, 18 de maio de 2015

O beijo das professoras por Vicentepimentero

Cheguei um pouco mais cedo na escola do meu filho e fiquei observando os alunos das primeiras, segundas e terceiras séries se despedindo da profe, como eles dizem. Todos ao alcance da maestra fazem questão de dar e ou receber um beijo. 

A professora se curva, para cada um deles, enquanto fala alguma coisa com alguma colega, funcionário, pai ou mãe de aluno, aquela gritaria de fim de aula, aquele momento tão vital que conhecemos bem. Os alunos se penduram do pescoço dela e trocam aquele último contato, aquele beijo rotineiro e carinhoso, dando e recebendo o mesmo amor e dedicação que aquela pessoa deu pra eles durante toda a tarde, entre leituras, brincadeiras e puxões de orelhas apenas com o olhar, o mesmo que seus pais dariam, em suas casas. As crianças saem carregando suas mochilas e casacos que arrastam suas mangas pelo chão. Satisfeitos, com bochechas rosadas, suados, exaustos. E as professoras continuam o ritual, dando atenção a cada um deles, ensinando, preparando-os para a vida. 

Chegando em casa, fico imaginando, as professoras continuam educando e trabalhando, preparam café para seus filhos, sobrinhos, amigos, vizinhos, e põem as tarefas domésticas em dia, imagino eu, relaciono seus salários e imagino que devem ter uma vida simples, típica das trivialidades do dia a dia, sem regalias de madame. Preparam janta, continuam espalhando amor aos seus, enquanto aquelas crianças beijadas no final do dia também, voltam para os braços de seus tutores e a noite cai e o soninho começa a chegar. Nesse momento a professora dá seu último beijo. O mesmo que deu lá pelas cinco da tarde, ela abençoa seus anjos, ao acobertar suas crianças vira mais uma página da digna e bela vida que escolheu, embora, por vezes sofrida, sabe que é uma dádiva poder compartilhar esse gesto com gerações e gerações, entrando em nossas famílias e deixando suas marcas pra sempre na vida de nossos anjinhos. 

A cidade dorme, os anjinhos sonham, alimentados, beijados. A cidade dorme e o beijo da professora deixa aquelas bochechas carimbadas de um pouco e tanto de amor, aquele mesmo amor da dedicação contínua, diária, que perdura, que desenha através dos anos a evolução daquelas pessoinhas que amanhã estarão levando seus próprios filhos à escola. O beijo da professora descansa, em cada criança, em cada aluno. A cidade dorme, a professora terá que ir mais tarde pra cama, ainda tem que corrigir temas e provas, no outro dia tudo tem que estar bem, há exercícios para preparar, brincadeiras, leituras, mais um dia passará, desde a hora do reencontro, do sino até as cinco e pouco, hora do beijo das professoras.

Edição de 13/05/2015 Ano VI nº 212






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