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terça-feira, 5 de maio de 2015

Não deixe que acabem com os seus direitos!

Por Andréa Lima

Já escrevi aqui, em algum momento, que a atual composição do Congresso Nacional é das mais conservadoras desde, pelo menos, 1964. É o que apontam diversas pesquisas e, em especial, os dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, o DIAP. Ganharam expressão, com as eleições de 2014, muitos parlamentares policiais e militares, ruralistas, empresários e, também, as bancadas religiosas, como a dos evangélicos, que estão em número maior.
Este mesmo levantamento revela que o número de Deputados ligados às causas sociais caiu drasticamente e a proporção da frente sindical foi reduzida quase à metade, de 83 para 46 parlamentares.

Com a atual configuração é muito difícil que se avance ao longo da legislatura em temas como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a regulamentação do aborto e a descriminalização das drogas, por exemplo, que ganharam bastante destaque no período das eleições.

Por outro lado, abriu-se o espaço para pautas como a redução da maioridade penal, o Estatuto da Família e mesmo o projeto que institui o Dia do Orgulho Hétero, desarquivado pelo atual Presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do PMDB.

Sabemos que, no comando da Casa, se tem o poder de trazer à ordem do dia projetos com interesses específicos e acaba-se por protelar, também, a votação e o debate de temas que contrariem o pensamento e as diretrizes das bancadas hegemônicas.

Neste sentido, perdeu-se muito espaço para pautas progressistas, do movimento de mulheres, negros e indígenas, das comunidades LGBT’s e retrocedemos, substancialmente no último período, contra os direitos de milhões de trabalhadores e trabalhadoras de nosso país. Estou me referindo à aprovação que se deu, pela Câmara dos Deputados, do texto base do Projeto de Lei 4330, o chamado “PL da Terceirização”, de autoria do empresário Sandro Mabel (PMDB/GO), que tramitava na Câmara desde 2004.

Talvez muitos não tenham a devida dimensão do que está em jogo, mas este projeto prevê a contratação de serviços terceirizados para qualquer atividade de determinada empresa, sem estabelecer limites ao tipo de serviço que pode ser alvo de terceirização. Isto se estende e permite, inclusive, a terceirização das atividades-fim dos empreendimentos, desde que a contratada seja especializada, o que pode reduzir a grande maioria de trabalhadores simplesmente a “prestadores de serviços”, na contramão de muitas lutas pela conquista dos direitos trabalhistas ao longo de décadas.
Os dados, por fim, não deixam mentir. Quatro em cada cinco acidentes de trabalho envolvem funcionários terceirizados. Estes, trabalham em média, três horas a mais por semana. Apesar de trabalharem mais, os salários são inferiores para o desempenho das mesmas funções: em 2013, a remuneração média destes profissionais foi de R$ 1.776,78, enquanto que o dos contratados pela CLT foi de R$ 2.361,15.

Também podemos falar da instabilidade e da insegurança, pois há um aumento do risco de serem demitidos a qualquer hora, já que tempo médio no emprego dos terceirizados é de 2,7 anos, enquanto que o dos trabalhadores diretos é de 5,8 anos. Nós, mulheres, que já ganhamos, em média, apenas 80% do que ganham os homens, seremos as principais prejudicadas...

Resta agora tomar as ruas e fazer pressão, para protagonizarmos a mudança de rumos que a política e o nosso país precisam, urgentemente. Do contrário, o 1º de Maio não será mais o Dia do Trabalhador e sim o Dia do Terceirizado!

Edição de 29/04/2015 Ano VI nº 210







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