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sábado, 30 de maio de 2015

A EDUCAÇÃO É POLÍTICA

por Jônatas Marques Caratti*

O projeto de lei 867/2015 do deputado Izalci Ferreira tem dado o que falar. Seu projeto pretende incluir à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional o “Programa Escola Sem Partido”. O objetivo é proibir a doutrinação ideológica nas salas de aula. De forma mais incisiva um grupo auto-intitulado “Dogma” tem defendido abertamente a volta do ensino tradicional às escolas. Isso é preocupante. Principalmente, porque vai contra todo um esforço realizado nas últimas décadas para tentar superar a educação alienante (que em parte, ainda permanece), e buscar um ensino mais aberto a construção do conhecimento.

Mas os defensores dessa causa esquecem uma coisa. A educação é política. Não há neutralidade. A escola e o modelo de educação atual são parte de um projeto político ideológico. Vejamos. O professor de História durante muito tempo transmitiu nomes, datas e acontecimentos aos alunos. Por quê? Porque fazia parte de uma ideologia positivista em que apenas alguns faziam parte da história. Só algumas datas e fatos eram importantes. A classe mais pobre ocupava um lugar secundário, marginal. Eles foram excluídos da história. Talvez a falta de participação política em nosso país pode ter sido herdada dessa ideologia que nos faz passar, de forma omissa, as decisões para o Estado.

Sobre educação e política, o francês Bernard Charlot afirma que “a educação transmite modelos sociais, forma a personalidade e difunde idéias políticas.” Assim, a escola colabora ou para manter o status quo da sociedade, ou para transformá-la. Professores que ensinam e alunos que aprendem? Ou queremos educadores e educandos construindo conhecimento juntos, significando o saber para além das paredes da sala de aula? Os educadores precisam de liberdade para lecionar. Ao mesmo tempo, fica a estes a responsabilidade de dar autonomia de pensamento aos educandos. A PL da Escola sem Partido nos permite um profundo debate a respeito do modelo de escola que queremos.  Sem esquecer, jamais, que isso implica no tipo de sociedade que almejamos.

*Professor Assistente do curso de História da Unipampa. 

Edição de 27/05/2015 Ano VI nº 214




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