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sábado, 14 de fevereiro de 2015

E chegou o carnaval | por vicentepimentero

Jaguarão sobrevive a magia do Carnaval de Rua como poucas cidades sobreviveram seus entrudos. Ainda, com o confinamento da corda dos Trios Elétricos, ao estilo Bahia, e a extinção dos bailes de Clubes Sociais, a maior festa popular do Brasil, na cidade heróica, mantém seus foliões sambando ao som da madrugada e batendo pé nos velhos paralelepípedos da cidade. Ainda dá para lembrar dos Reboques, da inocência do Lança Perfume, e das Rainhas das instituições sociais visitando num tour de alegorias e sorrisos, os clubes, nos bairros e na cidade vizinha do outro lado da ponte. 

Me lembro da invasão dos blocos burlescos, de acompanhar a Rainha do Clube Harmonia até em casa, e da festa derradeira do enterro dos ossos. De figuras típicas que hoje não estão mais, e mesmo assim são recordadas e representadas em nossos corações como se sempre estivessem aqui, e estão. Pompílio, Mocinha, entre outras personalidades que enriqueceram ainda mais a bela história do Carnaval Jaguarense. E mesmo com essa nostalgia e as andanças da modernidade, o carnaval de Jaguarão continuou com um espírito invejável e pouco difícil de transmitir. Só indo, sentindo, vivendo, e respirando o ar que entorna aquela semana alucinante em que se transforma a nossa cidade. 

Crescemos e como crescemos. Mesmo assim, quase perdendo nossa principal identidade, a identidade familiar da dança das ruas e dos encontros e desencontros de amigos e novos amigos, resistimos à poluição e à capacidade de carga das massas turísticas que hoje invadem a nossa querida Jaguarão. É maravilhoso ver centenas de turistas pulando e tomando para si aquilo que sempre veneramos e nos enche de orgulho. É lindo ver a nossa cidade com os hotéis, pousadas, casas e comércios repletos de felicidade turística, afinal, somos conhecidos por sermos ótimos anfitriões, adoramos trazer novas parcerias para vangloriarmos com o charme da nossa bela cidade, ou não? Tenho certeza que o leitor jaguarense esteja concordando com tudo que leu até aqui, mas uma coisa há de se alertar, o Carnaval já chegou ao seu ponto máximo de crescimento. Justamente o glamour desse Carnaval é a festa entre os Jaguarenses e turistas, amigos, foliões em geral, mas há de convir, que nos últimos anos muita gente invadiu nossa cidade e o Carnaval ofuscou essa identidade tão genuína e própria das pequenas cidades. Já não há muito espaço, nem para desfilar, nem para aproveitar o lado pacato e familiar que a cidade sempre nos propôs. A ganância, e o crescimento desenfreado, deixam o Jaguarense à margem da diversão, e mesmo com a ótima organização da Prefeitura, há problemas com a infra estrutura.

Tive a sorte de estudar Turismo e Meio Ambiente e o maior legado que levei dessa faculdade e pós-graduação, foi justamente sobre esses pontos que cito aqui. As autoridades do urbanismo, assim como os agentes culturais, e organizadores dos Trios devem chegar a um acordo e a um limite dessas capacidades, da mesma forma a comunidade têm que ser incluída nessas decisões, afinal, é a cidade que sofre o impacto, logo, os turistas vão embora, e quem sofre as consequências desse impacto é a população e a estrutura física e arquitetônica da cidade. Não é querer jogar balde de água fria, muito pelo contrário, qualquer atividade cultural deve primeiramente trazer aprendizados para os envolvidos, diversão, quando trata-se de uma festa popular, lucro e desenvolvimento para a cidade, mas tudo sem depredar o meio ambiente e muito menos a própria magia do Carnaval. 

Ouviu-se falar, noutras recentes edições, que muitos turistas não voltariam mais para Jaguarão por causa dessa intoxicação e poluição turística, onde faltavam banheiros, policiamento, ou outras estruturas básicas para um evento desse porte. Os mais influenciados, críticos de sofá, culparam a administração pública, esquecendo que, há também um limite de recursos tanto financeiros como pessoais para organizar e dar subsídios operacionais para o mesmo. Contudo deixo minha mensagem crítica e como um alerta para invasões em massa. Falando com um e outro, sei que esses fenômenos já são notados pelos populares há mais de três anos, por outro lado há pessoas que perderam esse amor por aquilo que era nosso, que nos pertencia e hoje está se distanciando por causa da comercialização do mesmo. Espero que a conscientização popular leve isso a sério para os próximos anos e que o Carnaval de Jaguarão mantenha-se lindo, seguro, mágico, e quão espetacular como sempre foi. 

A todos um Carnaval de muita paz e alegria, com segurança em todos os aspectos e como disse um nordestino certa vez que mandou um recado para o bloco dos Batukayanos "pulem que nem pipoca, mas não se queimem"...axé!

Edição de 11/02/2015  Ano IV nº200


 

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