Sabem que? Em Jaguarão o tempo é outro. Pensava essa frase pra
definir o Uruguai, mas estamos tão colados a sua cultura e sua
maneira de pensar, que nos falta apenas, aderir a sesta das duas da
tarde e conseguir andar de bicicleta tomando mate. Percebo isso cada
vez que chego na cidade do meu coração. Passei aqui parte das
férias do meu guri, e saí pra fazer o que mais gosto, aqui ou onde
seja, saí pra caminhar e contemplar a cidade. Vou vendo a cidade
envelhecer e as pessoas envelhecendo na velha cidade. As estatuetas
nas fachadas dos casarões transmitem aquela paz que vista de cima,
lembra um cemitério vivo de almas que estão e não estão aqui.
Jaguarão tem disso, mantém na saudade, na lembrança, e nas suas
figuras típicas o jeito jaguarense de ser, viver e pensar. Os
minutos não são pontuais, uma ida ao Prado ou a Lagoa podem
significar uma regressão, podem representar uma viagem no tempo,
podem nos levar a um estudo antropológico espontâneo, pois Jaguarão
inspira, e respira, mesmo que à cegas, cultura por todos os poros,
do Corredor das Tropas aos velhos paralelepípedos do Centro alto.
Nunca
andei de Dias, logo eu, que adoro um bus. Talvez pela vontade que
sempre tive de caminhar. Os trajetos da minha casa ao futebol, ao
Liceu, ou aonde fosse que seja, me deram vida, me deixaram aproveitar
o tempo de outra maneira. Herança da minha mãe, que sempre me fez
caminhar e observar tudo. Quando estamos ligados ao nosso redor o
tempo é outro. E em Jaguarão é assim, a cidade anda com a mesma
velocidade de sua pacatez. Sobra tempo para ir ao banco e no caminho
ou na mesma fila jogar conversa fora com conhecidos desconhecidos, e
se bobear, e não estiveres dirigindo, já se dá um pulo ao Uruguai
e se sorve uma cerveja de litro, à moda. E como aqui a chuva é
comum em diversas épocas do ano as pessoas se acostumam desde todo
um sempre a não carregar guarda chuvas ou capas, aqui fica o
triangulo das bermudas do clima. Conseguimos, numa breve fitada sobre
o horizonte que nos sobra, saber se os churras do fim de semana serão
a céu aberto ou trancafiados na volta da lareira. Temos a vida e a
lida do campo e também da praia em plena cidade. Em Jaguarão o
tempo é outro, o barco puxa areia e a carroça o ouro.
Tudo
neste cantinho do mundo me faz parar no tempo. A Ponte nos dá a
impressão longitudinal de uma imensidão de fronteira, uma coxilha
de trilhos que vestem sépia. Uma fotografia parada no tempo que
atravessa gerações de povos, numa película borrada pelos ares
fronteiriços. Uma verdadeira ponte da amizade, uma integração
doble chapa de forasteiros de divisas, um retrato atemporal dos
pampas e suas mais belas estórias.
E hoje,
justamente próximo ao dia que ganhei um toca cinta, de um grande
amigo, vejo que em Jaguarão que o tempo é outro, e lembro das
Carroças, las Volantas que nos levavam a escola, dos Vinis do Má
Companhia Bar, das pequenas manivelas dos aparelhos telefônicos da
Lagoa que te conectavam com a telefonista, da época do Trem, das
noites da Escuela e seu cartaz que hoje estaria em voga "bicicletas
al fondo".
Edição de 06/08/2015 Ano VI nº 224
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