Por Jônatas
Marques Caratti*
Vivemos tempos
difíceis. Tempos de manifestações contundentes, porém vazias de
propostas, escondidas atrás de bandeiras e camisetas verde-amarelas.
Vivemos tempos de retrocesso: trabalhadores perdem seus direitos e
adolescentes são encarcerados ao invés de irem às escolas. Em
particular, me assustou um movimento chamado “Dogma” que pede o
retorno da educação tradicional às escolas. Sua principal crítica
é a ideologização dos escritos de Paulo Freire na educação.
A educação
tradicional, criticada por Paulo Freire em sua conhecida obra “
Pedagogia do oprimido”, desenvolve questões muito pertinentes e
atuais. Para Freire, na educação tradicional o aluno é um ser
passivo, alheio a sua existência. O professor expõem conteúdos
que são apenas retalhos da realidade, desconexos do mundo do
estudante. Nesta concepção o professor é o sujeito do processo. Só
ele dá aula, enquanto os educandos são meros objetos. Portanto, a
educação tradicional faz o aluno se adaptar ao status
quo da
sociedade. O conhecimento não o liberta. O acomoda.
Por isso Paulo
Freire trouxe, em meados da década de 1960, uma nova concepção
sobre a educação: a educação problematizadora. Esta concepção
pretende conscientizar os educandos da realidade em que vivem.
Mostrar que são protagonistas, que podem buscar uma sociedade mais
justa. Paulo Freire diria que o trabalho do educador só é efetivo
quando fazemos os educandos pensarem. Portanto, a educação não é
o ato superior e hierárquico do professor para com o aluno. A
educação é um ato de amor, de companheirismo, em que ambos,
educador e educando, aprendem e ensinam.
Não estou aqui
defendendo um professor ideologizado. As Leis e Diretrizes e Bases da
Educação (1996) estão bem claras: o professor deve contribuir para
o “desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento
crítico” do aluno. Espero que o movimento Dogma dialogue com a
universidade e perceba os grandes avanços que a educação obteve
nas últimas décadas, frutos de pesquisa científica séria e
comprometida.
*Professor
Assistente do curso de História da Unipampa.
Edição de 22/04/2015 Ano VI nº 209