Estampa de Camisetas - Patrimônio presente na arte |
Por Jorge
Passos
A
literatura tem o poder de nos transportar a cidades como se
andássemos por suas ruas. Elas são verdadeiras personagens em
muitas narrativas. Como não associar Buenos Aires com Jorge Luiz
Borges, Dublin com James Joyce, o Rio de Janeiro “velho” com
Machado de Assis? Sem a mesma expressão ou fama desses autores,
apesar de não menos importante no Cânone literário brasileiro,
Josué Montello no seu romance histórico, Os Tambores de São Luís
, retrata em pormenores a antiga capital do Maranhão na caminhada de
Damião, o negro escravo que vira professor de Latim e ferrenho
abolicionista. O romance traça um panorama cultural da sociedade
escravocrata maranhense do século XIX com centenas de personagens
extraídos da vida real. Trata-se de uma leitura daquelas que
apaixona e não se pode parar.
Posso
afirmar que esse livro foi um dos principais motivadores de minha
viagem a São Luís, além do fascínio e admiração que tenho pelo
nordeste, o clima sempre prazeroso e agradável, uma promoção de
passagens áreas irrecusável e alguns dias de férias neste atípico
morno mês de agosto nestes pagos do sul. Atravessando o Brasil em
algumas horas, com saída em Porto Alegre à tardinha, alguma espera
em Guarulhos, chegamos em São Luís na madrugada do dia seguinte.
O
turismo histórico é uma das principais fontes de recurso da capital
maranhense. Vi muitos turistas europeus e um detalhe, na sua maioria
jovens. Italianos, belgas, holandeses, franceses. Também chineses e
coreanos. Quando visitávamos a Cafua , prisão de escravos,
encontramos um casal , ele argentino , ela belga e o meu espanhol
fronteiriço auxiliou bastante o guia encarregado do passeio pelo
local. São Luís também é porta para um turismo mais ligado à
natureza. A 260 Km dali ( multiplicado por dezenas de quebra-molas
que encompridam a jornada) está situada a cidade de Barreirinhas ao
lado dos lençóis Maranhenses. É um passeio para quem gosta de
aventura e exige bastante preparo físico. Trilha em 4x4 corcoveando
por 18 quilômetros de areia no meio da mata , um paredão de duna de
200 metros e mais uma caminhada de dois mil metros pela areia para
chegar às lagoas formadas no meio das dunas. Mas a paisagem vale a
pena.
Na maior
parte do tempo fiquei pela São Luís de Josué Montello e do Damião.
Rua da Inveja, da Estrela, Rua do Sol, do Mocambo. A capital
maranhense conserva ainda hoje, num bom costume para as cidades
históricas, o mesmo nome originário de suas ruas. A tradição não
se perdeu em homenagens a figuras políticas passageiras. Ainda sonho
em restaurarmos a nossa “Praça 13 de Maio” em Jaguarão.
Se
traçássemos uma linha interligando São Luís , Ouro Preto e
Jaguarão , teríamos um polígono que poderíamos denominar de
Triângulo do Patrimônio Histórico Brasileiro. Três momentos
históricos em três cidades diferentes .A primeira, mais antiga,
século XVII, ligada ao ciclo do algodão, o "ouro branco", a segunda,
século XVIII, ao ciclo da mineração, "Ouro Preto", e a terceira,
mais recente, no século XIX, a fronteiriça Jaguarão, ao ciclo do
charque, uma espécie de “ouro vermelho”.
Nossas
potencialidades em relação ao turismo histórico são imensas assim
como São Luís e Ouro Preto, que já usufruem desse legado. Resta
para nós, melhor explorá-las.
Edição
de 02/09/2015
Ano VI nº 228