@pimenterojazz
Enquanto
vejo as filas intermináveis nos postos de gasolina e a falta de
alguns alimentos nas prateleiras de supermercados, e ainda o
desespero geral fomentado por uma mídia golpista, percebo o
despreparo da população para um eventual caos, que por ora não
passa de uma sistemática articulação da oposição governista, mas
que serve de laboratório para rever nossos conceitos, e nos deixa a
pergunta, temos o antídoto para salvar-nos do nosso próprio
veneno?
Geograficamente falando, temos a boa ventura e a sorte de
viver numa região isenta de catástrofes climáticas e munida do
nosso ouro mais valioso, a água. Milhões de pessoas vivem a mercê
da falta de recursos, sejam eles hídricos, sejam eles de outras
infraestruturas e/ou abastecimentos contínuos de alimentos. Observo
também que, num momento como este, onde deveria haver união entre
as pessoas, o que há é uma onda de egoísmo e egocentrismo. Cada um
pensa em seus problemas isolando soluções coletivas com o intuito
de amenizar essas tensões causadas pela desinformação e em partes
pela indignação de alguns. Há poucas semanas, na cidade de
Pelotas, para dar um exemplo, uma chuva torrencial deixou a cidade
debaixo de água e a responsabilidade da administração urbana foi
dividida com a responsabilidade da população, que assim como no
resto do país, não se preocupa com o lixo, logo, sem saber
administrar seus meios de comportamento social, também não sabe
agir na hora do caos.
Enquanto nas filas de supermercado e na
sinfonia de comentários dos transeuntes somente se fala desses
desesperos remotos, penso em voz baixa, para não esquentar a
discussão, que a precipitação dessa ira egoísta poderia ser
substituída pela precipitação do consumo desenfreado e da poluição
desenfreada causada por nós mesmos. Ao invés de boicotar as
estradas deveríamos boicotar essas práticas selvagens de consumismo
que o capital gera entre nós e domina a lategadas desde as épocas
das diretas. Penso nos orientais, em sua sabedoria de viver com
pouco, penso nos cubanos, penso em que ao invés de dependermos e
financiarmos a guerra do petróleo poderíamos usar outros meios, não
só de locomoção mas de auto sustentação, logo de auto estima.
Vivemos na cultura do latifúndio, mas cantamos com orgulho que em
nossa terra tudo que se planta cresce e o que mais floresce é o
amor, mentira. Ninguém planta nada, muito menos amor. Bastou viver
esta interminável semana pós-carnaval para perceber que somos
capachos de nossas próprias escolhas, somos inimigos de nós mesmos,
boicotamos nossas vidas e por ventura nossos filhos. Acho que está
na hora de reavaliarmo-nos como seres, preparar-nos para outros caos
que estarão por vir e nada terão a ver com a política e sim com
nossos meios de comportamento. Espero que, quando o verdadeiro caos
chegar consigamos ao menos vestir nossas armaduras de Mad Max com
sabedoria, senão viveremos nas catástrofes imaculadas e
sensacionalistas do cinema ianque, mas desta vez sem conforto, sem
pipoca.
Edição de 04/03/2015 Ano IV nº 202