Por Hélio
Ramirez
De Atahualpa
Yupanquy, Luis Gonzaga, Malinha e Seu Eloí. Uma questão sociológica
dos barqueiros do meu Rio Jaguarão
Como já comentei em meu blog, grande parte da minha vertente musical se devem a duas
pessoas. Eles são meus ídolos. Excelentes músicos/poetas
populares. Como bom sul americano um ao norte, outro ao sul. O do
norte é o nordestiníssimo Luiz Gonzaga, o Lua, com sua verve
arcaico poético, cheirando a mandacaru e carne de sol; o outro Don
Atahualpa Yupanquy, argentino, seu canto rouco e compassado como um
bombo leguero marcando uma baguala. Seu Cerro Colorado verte em cada
frase.
Aprendi, com esses dois mestres, a cantar terra da gente... Falar de homens e mulheres simples....Observar o barulho do vento; o voo dos pássaros; o farfalhar das folhas sobre meus pés. Escutar o silêncio... Sentir minha Pampa como uma grande mãe.
Quando fiz a letra do Barqueiro do meu Jaguarão, tinha como norte as letras de Don Ata. E a música? Para o desgosto dos mais puristas fui buscar num ritmo bem nordestino: o baião do velho Lua. Quando ganhei um festival em Jaguarão com essa música, não existiam os últimos versos, que dão a tônica da música. Colocam o lado mais social.
Tempos depois consegui
fazer a homenagem à essas pessoas simples – esquecidas. São eles:
“Teu suor está plantado/ em cada casa desse chão/ mas se a paga
foi pouca/o esquecimento não.”
Sempre quis dedicar a duas pessoas, essa música. Homens do povo. Quando gravei o CD SenFronteiras, por um lapso de minha parte, não fiz a menção. Hoje estou corrigindo.
O Malinha (ele é o personagem principal de um conto meu, ainda inédito) era um mulato alto e esguio. Sempre com um sorriso largo no rosto. Barqueiro areeiro desde novo. Enquanto pode, manejava a taquara com maestria num barco carregado de areia, com frequência com s com um dedo de bordo, para não naufragar; depois, foi por uns tempos, estivador, os famosos “coqueadores” de sacos. Depois abandonado, não servindo para mais nada, afundou-se no vício da bebida e do cigarro. Morreu sozinho, se não me engano, de tuberculose.
Seu Eloí, também foi barqueiro. Ele mesmo fazia seus barcos, toscos, porém fortes e nada “bandoleiro” como dizem os pescadores e barqueiros do Rio Jaguarão e Lagoa Mirim. Fazia com paciência as velas dos mesmos. Todas de sacos de açúcar... Ele mesmo as costurava Escolhia com paciência de um monge as taquaras. Para o mastro ou para a navegação.
No Youtube, há um
excelente vídeo sobre o barqueiro do Jaguarão com a minha música
de trilha sonora, realizado pelo Jorge Passos.
Edição
de 08/07/2015
Ano VI nº 220