Tenho um filho e uma
filha e, nas duas gestações, por conta de uma complicação chamada
“pré-eclâmpsia”, não pude optar pelo parto normal.
Diagnosticada com a pressão alta nos últimos meses de espera, sem
possibilidade de escolha, fui obrigada a passar pelo procedimento
cirúrgico da cesárea, como forma de prevenir riscos para mim e para
os bebês.
Os dois partos foram
diferentes, sendo um deles realizado em Jaguarão e o outro na cidade
de Pelotas. Ambos tiveram em comum a recuperação lenta, a dor do
corte abdominal e alguns sintomas ocasionados pela anestesia, que não
são nada agradáveis para quem quer e precisa cuidar de um
recém-nascido.
Na cidade de Pelotas, no
Hospital São Francisco de Paula, na tarde em que tive minha filha,
mais de 20 cesáreas aconteceram. O ritmo dos médicos e enfermeiros
era acelerado e, na sala de parto, eles sequer dirigiam a palavra às
gestantes. Ao menos assim foi comigo. Enquanto vivia um dos momentos
mais importantes da minha vida, eles conversavam sobre a rotina
hospitalar, a movimentação do feriado e assuntos de toda a
natureza.
O momento emocionante foi
quando ouvi um deles dizer, “Nossa, que baita guria!”, e então
soube que era a minha filha que finalmente havia se apresentado ao
mundo, logo ouvindo seu chorinho.
Mostraram-me ela muito
rapidamente e levaram para os procedimentos comuns em outra sala.
Apesar da insistência,
não permitiram que meu companheiro entrasse comigo na sala de parto,
ferindo um direito assegurando pela Lei Federal Nº 11.108, que
garante às parturientes o direito à presença de acompanhante
durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito
do Sistema Único de Saúde – o SUS, legislação esta que as
maternidades corriqueiramente descumprem.
No meu caso, as cesáreas
aconteceram por questões de saúde, mas em diversas situações é
uma escolha da mãe, pautada por uma pressão médica, quando seria
desnecessária.
Sabemos que,
financeiramente, os médicos ganham muito mais com este tipo de parto
e alguns ficam satisfeitos por não terem que esperar por horas e
horas o momento de nascimento, podendo planejar suas férias, chegar
em casa sem problemas na hora do jantar e organizar a agenda, de uma
forma muito mais prática e cômoda.
Por estes e outros
motivos que cerca de 80% dos partos da saúde complementar (aquela
que é coberta por planos) no Brasil são cirúrgicos.
Visando estimular o parto
normal e combater o que pode ser considerado uma “epidemia de
cesáreas” no país, o Ministério da Saúde publicou no começo de
janeiro uma resolução normativa, com uma série de medidas para dar
maior segurança para a decisão sobre o parto entre o médico e a
gestante, que estará melhor orientada sobre possíveis riscos de uma
cesárea desnecessária.
Segundo dados
disponíveis, a cesariana, quando não há indicação médica,
aumenta em 120 vezes o risco de problemas respiratórios para o
recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe. Os médicos, a
partir de agora, terão que apresentar obrigatoriamente um documento
chamado partograma, onde estarão registradas todas as etapas do
trabalho de parto da gestante.
As operadoras de planos
de saúde só poderão realizar o pagamento dos procedimentos médicos
mediante a apresentação do documento completo. A adoção do
partograma deve forçar os médicos obstetras a esperar o início do
trabalho de parto. "Parto não é evento que se marque. Normal é
o parto normal", afirmou o Ministro da Saúde, Arthur Chioro.
É isso aí, Ministro,
que ninguém nos tire a dor e a delícia de nos tornarmos mães de
acordo com nossas próprias escolhas, como a natureza quer e permite!
Edição de 21/01/2015