Por Andréa Lima
Escrevo este texto do leito 9A, da Maternidade da Santa Casa de
Jaguarão. Hoje completo uma semana de internação, com expectativa de alta, e me
recupero de uma complicação grave que tive em minha terceira gestação, que
poderia ter custado a minha vida e a da minha filha, conhecida como descolamento de placenta.
Escrevo cansada,
mas com a alegria de quem nasceu de novo, nasceu mãe, pela terceira vez. Meu
sentimento de gratidão se completa por minha filha ter sobrevivido e estar saudável,
pois, mesmo muito pequena, precisou lutar para estar aqui.
E agora vivencio
um momento de paz e tranqüilidade, ao vê-la dormir enrolada em seu cobertor rosa,
saciada pela amamentação.
Passei bem
durante toda a gravidez, mas ao chegar às 36 semanas fiquei com a pressão alta
e tive orientação médica para fazer repouso. Estava, inclusive, alimentando a
expectativa de ter um parto natural, depois de já ter passado por duas cesáreas.
Li e me informei muito durante toda a gestação para evitar uma cirurgia
desnecessária, mas neste caso ela foi fundamental e permitiu, em tempo, a nossa
sobrevivência.
Tudo começou na semana
passada, na terça-feira, onde durante todo o dia senti algo diferente, como se
a bebê tivesse mais agitada e empurrando, de leve. Como já estava em idade
gestacional avançada, achei que fosse um sintoma normal, pois, afinal, estava
se aproximando a hora.
Quando fui
dormir, notei que estava sangrando e só deu tempo de pegar a bolsa e correr
para o hospital.
No caminho o
sangramento se acentuou e, ao chegar à maternidade, já estava acompanhado de
fortes dores, enjôo e da sensação de que iria desmaiar.
Como se tivesse
combinado, encontrei minha obstetra à postos, de plantão. Ela logo diagnosticou
o descolamento e fomos às pressas para o bloco cirúrgico.
Quando ocorre um
descolamento, o suprimento de oxigênio e de nutrientes para o bebê fica
comprometido e pode ocorrer um sangramento grave, perigoso para a mãe e para a
criança.
Nos casos mais
severos, como foi o meu, avaliadas as condições de prematuridade, o bebê deve
ser retirado imediatamente do útero. Tive que ser submetida a uma anestesia
geral, sem poder assistir ao nascimento da minha filha e sem saber ao certo se,
ao acordar, iria encontrá-la viva.
Passada a
cesárea e estancado o sangramento, acordei escutando um chorinho de bebê na
sala. Ela nasceu praticamente inerte e passou por um momento de sofrimento, mas
foi reanimada.
Quando fui para
o bloco de recuperação, já a levaram para o meu lado e logo começamos a
estimulá-la a mamar, ao que respondeu prontamente. A batizamos com o lindo nome
de Isabela.
Durante o período
em que estou aqui aconteceram muitas coisas... um dos meus rins quase parou de funcionar, mas já está
voltando ao normal, fiz transfusão de sangue, precisamos submeter minha filha a
dezenas de exames, o leite demorou para descer, por conta da cesárea, mas, aos
poucos, tudo vem dando certo e a vida pulsa e brota, voltando ao normal.
Os dias difíceis
foram brindados pela alegria de ter o meu companheiro e a minha família sempre
presentes, bem como o apoio de muitos amigos e amigas que, em alguns momentos,
chegaram a encher o quarto do hospital.
Também quero
destacar que, mesmo passando por uma severa crise desencadeada pelo não
pagamento dos repasses assumidos pelo Governo do Estado, durante todo este
tempo fui atendida com excelência pelas equipes da Santa Casa de Caridade de
Jaguarão, com internação pelo SUS.
Meu
agradecimento especial a minha obstetra, a Dra. Eunice, e a Dra Lélia, que vem
acompanhando a família por vários e vários anos. Ao cumprimentá-las, agradeço o
carinho de cada uma das enfermeiras, técnicas e de todos os trabalhadores e
trabalhadoras dedicados da saúde. Valeu mesmo, de coração!
Edição de 12/08/2015 Ano VI nº 225