Por trás de toda
palavra há um conceito. Por trás da palavra “professor (a)”,
também. Remete a uma educação formal e tradicional que não
compartilho. Uma (des) educação acéfala, que coloca o professor
num pedestal de soberba e que deixa o aluno mergulhado em passividade
e mediocridade. Não existe relação de ensino-aprendizagem nessa
(pseudo) interação, pois um ensina e o outro aprende. O mestre
nunca poderá ser aluno e o aluno nunca poderá ensinar nada ao seu
mestre. Por isso, prefiro me identificar como “educador (a)”.
O educador não fica
preso nas quatro paredes da sala de aula. Não fica preso ao uso do
quadro-negro, nem a uma relação de autoritarismo e submissão.
Ensinar e aprender são atos de amor, de alegria, que abarcam toda
nossa existência e que, portanto, não se limitam ao período
escolar (final do Ensino Básico ou mesmo do Ensino Superior). O
educador acredita em sua missão, sabe da importância de seu
trabalho, mas é consciente que nem seu ensino, nem a escola que
trabalha poderão, por si só, transformar a sociedade. O educador
prefere a construção do saber à cópia e à reprodução. Refuta o
conformismo, pois sempre existe algo que precisa ser mudado. E luta
por isso até o fim – o fim de suas forças, de sua vida.
Há poucos dias me
mudei, juntamente com minha esposa, para esta querida cidade.
Trabalho na Universidade Federal do Pampa desde 2013, mas somente
agora segui meu coração e vim para estes pagos. Há tempo que amo
este lugar, as pessoas que aqui habitam, as escolas, educadores e
educandos que merecem toda atenção do Estado, e por consequência,
também da universidade que aqui chegou. Meu sonho é que a concepção
de educação transformadora seja compreendida por todos os
jaguarenses como uma necessidade. Digo necessidade, pois só há
sentido em educar-se quando houver consciência. Vivemos em tempo de
crise. Crise não só da escola, mas da sociedade contemporânea. E
essa crise se dá principalmente porque vivemos um novo tempo, em que
as instituições precisam ser repensadas e renovadas.
Creio que ninguém
discorda da importância da escola e da educação. Porém, todos
aqueles que se envolvem com educação – e na minha visão, todos
nós – percebem o fracasso da escola. E não é o fracasso do
educador, da gestão, dos educandos ou de seus pais. É o fracasso da
forma como a escola se apresenta nos dias de hoje. Que escola nossos
filhos e filhas precisam? Qual a situação deles e qual o sonho que
temos para eles? Ou melhor, quais os sonhos dos educandos? Será que
temos refletido e feito perguntas antes de irmos ao encontro de
respostas que o mercado e o capitalismo nos impõem? Afinal, educação
não é mercadoria. O Brasil, enquanto nação, ainda engatinha no
quesito educação. Somente em 1996 a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB) tornou obrigatório aos pais que matriculassem seus
filhos nas escolas. Ou seja, até pouco tempo estudava quem o pai
deixava. E pior, os pais que não entendiam a importância da escola
(ou não tinham consciência), já colocavam uma pedra na trajetória
de vida de seus filhos e filhas.
É por isso que sou um
sonhador. Mesmo que o investimento do Estado em educação seja
pequeno. Mesmo que os educadores não tenham acesso fácil a
materiais, a jornais, a livros, revistas e cursos de formação que
permitam a construção de sua autoconsciência. Mesmo que haja falta
de estrutura, de material de consumo (folhas, canetas, apagador, etc)
e de salários dignos. Mesmo que aparentemente não exista esperança.
Mesmo assim, acredito na educação. Na educação transformadora e
problematizadora. Na educação que eleva o ser humano, educação
para além do capital, que não forma somente para o mercado de
trabalho. Educação preocupada com o ser humano como um todo.
Convido a todos educadores e educadoras – mesmo os que deixaram,
por um momento, de sonhar – que não desistam de sua função
social. Que nos reunamos e discutamos formas de melhorar a educação,
especificamente, de nossa amada Jaguarão. Que nossos sonhos se
tornem os sonhos de nossos filhos e filhas. Uma educação de
qualidade para todos nós!
*Professor do curso de
História da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)
Edição de 30/09/2015 Ano VI nº 232