Restauro Mercado Público Jaguarão - foto Brasil Arquitetura |
Existe um
lugar onde o bem comum paira entre caixotes de verduras, artesanatos,
secos e molhados, transeuntes e populares, e os aromas de temperos à
céu aberto. São os Mercados Públicos. No coração das cidades
esses centros foram sempre locais de abundância, novidades e
principalmente, grandes locais de trabalho e geração de empregos.
Em seus primórdios, navios e carroças chegavam abarrotados de
mercadorias para abastecer esses grandes palácios do comércio,
couros, grãos, aves, cestos, e todo tipo de mercadoria artesanal e
orgânica eram despejados nesses templos que até hoje vivem e
sobrevivem nas grandes e pequenas cidades históricas do país.
De norte
a sul, os Mercados Públicos dão aquele charme arquitetônico e
genuíno que destaca e traduz os poderes estéticos da cidade e de
seu povo. É ali que se encontrarão a preços justos as iguarias ou
objetos que caracterizam o seu povo. Se quisermos conhecer a cultura
local nada melhor que uma visita ao Mercado de sua cidade, cachaças,
melados, sandálias, especiarias, panelas, lembranças, berimbaus,
tambores, frutas, hortaliças, poções, elixires, brinquedos, sais,
incensos, e infinitas raridades se encontrarão nesses feirões entre
ferro e paredes antigas. No Mercado antigo do Recife os peixes são
expostos ali, à moda antiga, na intempérie e calor seco do
nordeste, entre as bancas de caldo e buchadas, misturando os odores e
remetendo-nos às mais antigas histórias, as mesmas que ajudaram e
ajudam a construir, Brasil de tantas estórias. Na pele de seus
vendedores o tempo é recíproco à velhice desses enormes casarões,
o sol, as rugas, as mãos calejadas do trabalho árduo, tudo isso nos
faz viver mutuamente a vida e a lida dos Mercados. Em São Paulo a
imensidão de seus corredores abarrotados de conservas, anchovas,
sucos, batidas, fiambres e queijos, dão lugar ao clássico sanduíche
de mortadela, não há como visitar a cidade da garoa e não visitar
seu Mercado Público, seria quase uma ofensa pro paulistano. Em
Florianópolis a banca 35 e sua tradição em petiscos e folclore
turístico, em Porto Alegre a salada de frutas da banca que não me
lembro do número, mas que fica no térreo. O bar naval, os choppes,
e os imigrantes que colonizam fielmente as lojas de insumos,
delicatessen, umbandas, cafés.
Descendo
ainda mais, chegamos ao Mercado Público de Pelotas, recém-aberto,
nessa nova etapa depois da reforma. Em poucos meses ganhou novamente
vida de Mercado. Feira da Pulga, Samba, Cafés, e a torre contemplada
como nunca, seu desenho, sua luz, um símbolo para a Princesa do Sul.
E têm frutos do mar, parrilla, pizza, temperos, cachaças,
floriculturas, cabeleireiro, cheio, gentes interessantes, que
escolhem um café para ler, contemplar, fotografar, e por que não
dançar.
Ah que
beleza a velha nova vida dos Mercados Públicos. E as figueiras de
Jaguarão, suas sombras esperam ansiosamente que abram as portas do
nosso velho e majestoso Mercado. Ali também teremos um tempo para
parar um instante no tempo e apreciar aquilo que sempre nos pertenceu
e que nos põe entre as cidades que desenham a história deste
sofrido Brasil.
Um lugar
para aproveitar, uma casa de vó, um Mercado só pra nós e pra
aqueles que amam nossa cidade.
Em breve,
muito breve, me verei escrevendo sobre esta cidade única bebericando
um suco, um café, um chopp, e vendo que se existe história, existe
um Mercado Público. Saúde!!
Edição de 12/08/2015 Ano VI nº 225