Cá estou, novamente, criticando os demais. Como Sartre dizia, o
inferno são os outros. Se tem uma coisa que me irrita é forçar um
assunto através das previsões climáticas. Papo de taxista, sala de
espera, incompatibilidade de gênios ou não, por que somos tão
óbvios? Por que somos tão cínicos? Por que não falamos de
verdade? Bastou subir num táxi que o sujeito vai te falar do tempo.
Tá quente hein? Sim né, é verão, respondo eu, o que querias,
frio? Posso parecer arrogante ou mal educado, mas prefiro ser eu,
prefiro ser sincero, a forçar um assunto que não te leva há nenhum
lugar, apenas te faz passar pela vida como quem fica rodando em
círculos e dependendo da Rede Globo para conduzir sua vida e seus
pensamentos. É como o show de final de ano do Roberto Carlos, o
Jornal Nacional, ou a novela das oito, que vida infeliz.
Mas cada um
sabe da sua, cada um sabe que se está mormaço vai chover, se chove
vai molhar. Cada um sabe que a vida segue e que a natureza agradece e
os ciclos da vida vão continuar iguais, o que pode ser diferente,
somente você pode escolher para si, não é o tempo, não é a rede
bobo, e muito menos os assuntos triviais e chatos do dia-a-dia ou da
vizinha fofoqueira. Mais conteúdo pelo amor de Zeus. Se chove, o
máximo que posso fazer é ir correndo ao varal para recolher as
roupas quase secas que penduram-se por lá. Se faz sol, cai um
temporal, ou o mundo, por que cargas d'água devo ficar comentando ou
questionando? Obviamente, que quando organizo um churrasco no pátio
de casa ou um evento ao ar livre devo me precaver e precaver aos
outros, mas isso é outra coisa. Ficar puxando assunto através do
tempo não é a minha, e sai de perto que te atiro com pedras de mal
humor. Falar do tempo é uma perda de tempo. Quando do clima, é
claro, por que falar do tempo das coisas é lindo, de quanto tempo
falta para te ver, ou em quanto tempo realizaremos, materializaremos
aquele sonho. Esses mesmos que se importam com o tempo, e enxergam o
ciclo da natureza como um fenômeno desconhecido, são aqueles que
quando vem uma chuvinha de verão saem correndo da praia como se
tivesse chegado o Apocalipse. Os mesminhos que deixam de viver por
que seus corpos feitos de açúcar podem se dissolver numa correnteza
de beira de calçada, ou, ainda derreter no sol cancerígeno do meio
dia. Os mesmos que, enquanto o louco assinala a Lua, eles observam a
mão, sem entender que natureza é o todo e não o nada que eles se
tornam. Os mesmos que jogam lixo nas ruas ou não cuidam do seu
próprio lixo, que vira mais lixo, e entope suas mesmas ruas causando
enchentes. A culpa não é da chuva, a chuva veio para esverdear,
hidratar, molhar.
Afortunados aqueles que se banham nas lágrimas do
céu, que se queimam a pelo num escaldante dia de sol, que se jorram
e se jogam à luz da lua e ficam contando estrelas, que aproveitam a
aurora e o entardecer de cores múltiplas e céus inimagináveis.
Sortudos, imunes, vivos. Não me venha falar do tempo, como um raio
ou furacão, te deixarei estupefato, intacto na mediocridade da
pergunta, da adulação ou da falta de criatividade. E eu ainda
perdendo o tempo, escrevendo estas coisas.