Por Dario Garcia*
Fazendo uma análise
adequada e de total vigência, o sociólogo argentino Atilio Borón
refere-se à política do Departamento de Estado norte-americano que,
desde a década de 1950, trama uma doutrina dirigida ao Brasil, cujo
objetivo é não deixá-lo levantar cabeça, isto é, impedir por
todos os meios que ele se transforme numa potência.
Concomitantemente, o controle da política e de certos recursos
nacionais (telefonia, defesa, mídia, satélites, petróleo, mineração,
águas, ciência e tecnologia, plantas medicinais, etc.) assim como a
gestão das empresas do Estado, significam reservas estratégicas
para um país que se preze como tal, e, portanto, nunca deveriam ser
confiadas a proprietários estrangeiros —ou a seus laranjas
nativos— sob o risco de se hipotecar a soberania nacional. Alguém
imaginaria os norte-americanos deixando a NASA nas mãos dos chineses,
a mídia sob o controle da Rússia, as pesquisas militares
supeditadas à Coreia do Norte e a indústria de Hollywood dirigida
pelo Irã? Por que então, há políticos brasileiros que se empenham
tanto em vender o país? Fernando Henrique Cardoso, José Serra,
Aécio Neves, Geraldo Alckmin e Cia., será que defendem os nossos
interesses ou apenas são mercenários a soldo duma potência
estrangeira?
O esforço doentio para
se privatizar o Banco do Brasil, os Correios, a Petrobras, e outros
setores produtivos e estratégicos nacionais —freado em 2002 com a
eleição de Lula— reflete uma ideologia imoral, prostituída e
apátrida. Exemplo disso foi a privataria —misto de privatizações
com pirataria— durante os governos de FHC, da estatal Vale do Rio
Doce —a maior empresa mundial de extração de minério de ferro a
céu aberto— para um consórcio norte-americano, colocando o seu
próprio filho num cargo diretivo da mesma, assim como a venda do
satélite da Telebras ao milionário mexicano das comunicações,
Carlos Slim. Outras «façanhas» de Fernando Henrique Cardoso foram
a privatização das empresas de telefonia —em prol de consórcios
estrangeiros— mandar construir na ilha asiática de Singapura as
plataformas da Petrobras —que a partir do governo Lula começaram a
ser construídas no país— deixando que uma delas explodisse e
afundasse «misteriosamente» na costa brasileira, assim como o
fiasco durante o lançamento do primeiro foguete nacional, em 1999,
desde a base de Alcântara no Maranhão, cuja explosão em terra
ocasionou a morte de vários técnicos e milhões de reais jogados na
latrina… Haveria muito do que se suspeitar com relação a esse
caso, porque sigilosamente Alcântara foi prometida depois pela
aliança PSDB-PFL aos norte-americanos —permanecendo brasileira pela
vitória de Lula na eleição de 2002—. FHC inclusive «aperfeiçoou»
seus poderes de estadista quando, com seu «salário», adquiriu uma
fazenda em Minas Gerais, por apenas R$ 0,75 centavos o hectare, um
apartamento em Paris, e, como «efeito colateral», seu governo e
aliados, estabeleceram várias contas e empresas fantasmas frutos das
privatizações, nas ilhas Cayman, um paraíso fiscal britânico no
Caribe. No entanto, a mídia sofreu uma forte crise de amnésia e
seus pregoeiros coprófilos não lembram dessa corrupção: não
houve nem cruzada moralizadora nem pedido de impeachment. O PIG
—Partido da Imprensa Golpista— só enxerga atos dúbios que
possam ser associados, custe o que custar, com o PT e contra o PT…
«Vizinho do irmão de um advogado petista atropela idosa...» «O
traficante acusado é sobrinho do amigo de um primo de um vereador do
PT...» «As Torres gêmeas de Nova Iorque sofrem atentado em 11 de
setembro de 2001 quando políticos do PT assistiam a TV»… É
ridículo! Fora isso, para o PIG não há corruptos nem necessidade
de se exigir impeachment contra partidos e personagens que têm a
bunda calejada por décadas de mutretas e sinecuras nas esferas
governamentais, nem é preciso se convocar «cruzadas» contra
exterminadores de índios, madeireiras ilegais, grileiros, donos de
pedágios, traficantes e doleiros. Assim como os helicópteros cheios
de droga não merecem indignadas manchetes, os aeroportos sem
registro, construídos com dinheiro público em terras da família do
Aécio Neves são café pequeno, e o descaso do governador Alckmin
responsável pelo desastre no abastecimento de água em São Paulo é
culpa de São Pedro… Será que tudo isso é fruto da tal liberdade
de imprensa, levada ao extremo —ao extremo da cara de pau!— ou há
uma enorme e obscura cumplicidade no meio?
Outrossim, por que é
tão urgente «queimar» a Petrobras, quando o que deveria ser feito
é exigir o cumprimento da lei e que, após as devidas averiguações,
os corruptos sejam afastados e punidos, independentemente de se forem
do partido A, B ou C? Mas não, o PIG escolhe seus réus, «do PT»,
os julga e os condena no horário nobre da televisão, mesmo que
depois, perante a justiça, seus crimes sejam como uma gravidez
mental: inexistentes. O que lhe interessa não é que a justiça seja
feita, mas sim a vingança, para poder impor a sua agenda golpista e
mafiosa. Na verdade, o tom pejorativo com que a mídia trata os
serviços públicos —INSS, SUS, a Educação e os programas sociais
do governo— já nos dá uma pista. E essa pista faz pensar na
existência de uma agenda encoberta que visa debilitar ao máximo o
Estado e que pretende surrupiar tudo o que for público e der lucro,
a começar pela estatal do combustível! A programação do PIG
responde à cobiça do lobby norteamericano do petróleo, não aos
interesses brasileiros. Porque é um fato: toda estratégia imperial
inclui a compra de laranjas e traidores, estabelecidos no país alvo
do ataque, e para atender esses assuntos envia os chamados «gângsters
econômicos», agentes da CIA encarregados de cooptar políticos e
empresários corruptos, pagar sabotadores e arruaceiros —muitos
deles via ONGs, Fundações e empresas de fachada— e alimentar a
mídia mercenária e prostituída, através da qual se cria o circo e
se atiça o incêndio do desarranjo golpista.
Seria ingênuo esperar
que a Globo, totalmente subsidiária dos investimentos
norte-americanos, e criada por eles no começo do golpe militar de
abril de 1964, ventilasse semelhante cambalacho. A grande mídia —o
PIG—, com a Globo como seu carro-chefe, é um autêntico
cavalo-de-troia a serviço dos grandes poderes sem pátria, para os
que só existem interesses, e a intervenção na política é o meio
mais expedito de consegui-los. Enquanto à Globo, trocada pelo que
sonega e deve ao país ainda ficaria devendo! Mas, uma coisa é
certa: de corrupção ela entende muito, porque são 51 anos
aperfeiçoando as suas habilidades!
Foi muito suspeito e
sugestivo, quando, durante o leilão público aberto às companhias
internacionais que quisessem explorar o pré-sal, não se
apresentasse nenhuma multinacional norte-americana. As corporações
que fecharam negócios com a Petrobras foram duas empresas chinesas e
uma anglo-holandesa...
No tocante à agenda
canalha e antipatriótica defendida pela mídia, é óbvio que o
clima enrarecido que tomou conta do Congresso e das grandes cidades,
a histeria à flor da pele, o sentimento de insegurança e os
protestos violentos, afetam a economia do país e conseguem
desestimular importantes projetos e investimentos pensados a curto,
médio e longo prazo. A desordem afeta a todos, mas com certeza há
alguém se beneficiando muito com esse cenário instável e confuso,
e os sabotadores, de conluio com a mídia, transferem para o governo
toda a culpa pelo clima de golpe que eles mesmos criam. Os agiotas
estadunidenses Goldman-Sachs aguçaram a crise grega, contratando
arruaceiros do Kosovo que foram levados à Atenas, dando início ao
quebra-quebra e à violência infiltrados às protestas legítimas do
povo nas ruas, e o medo forçou a fuga de capitais e investimentos
que debilitaram ainda mais o país, de cuja dívida os próprios
vampiros Goldman-Sachs tinham antes se apropriado.
Há no caso
brasileiro também objetivos imediatos. Um desses objetivos é
emporcalhar as eleições municipais deste ano, desmoralizando o
partido da presidenta Dilma, porque é bom lembrarmos que nessas
últimas disputas aos governos municipais o número de cidades
administradas pelo PT tem crescido, especialmente aqui no estado
gaúcho. Outro objetivo da agenda mafiosa e golpista é sabotar o
Governo Federal —prejudicando o povo para que se irrite com o
governo e não com os golpistas— antes e durante as Olimpíadas
deste ano, sediadas no Rio de Janeiro, aproveitando as circunstâncias
em que o Brasil receberá centenas de delegações esportivas e
milhões de turistas, e tornar-se-á a grande vitrine esportiva
mundial. Tal estratagema já foi executado durante as manifestações
de 2014, justamente no ano da Copa. Além disso, os golpistas também
visam raivosamente satanizar o ex-presidente Lula, num intento
desesperado e rasteiro para que ele perca seu mítico apelo popular e
seu enorme capital político, facilitando o máximo possível a
agenda eleitoral em prol de algumas figuras sem escrúpulos ligadas
ao PIG e aos interesses dos lobbys norte-americanos, tendo em mente as
eleições nacionais de 2018, quando Lula poderia concorrer sendo o
grande favorito. Com certeza, outro Collor de Melo há de surgir sob
as bençãos do PIG!
Há quem acredite que a
ideologia está fora de moda e que a história caiu com o Muro de
Berlim em 1989, ou em 1990, pelo uso do exorcismo da «perestroika»
e da «glásnost» receitado pelo taumaturgo Mikhaíl Gorbachov,
feitiço que acabou afundando a Rússia no caos e na miséria,
especialmente durante a gestão de seu herdeiro, o bêbado
privatizador pró-estadunidense, Boris Yéltsin, até a entrada em
cena, anos depois, de Vladímir Pútin. Tais teóricos argumentam que
as conspirações só podem ser aceitas como verdadeiras se forem
relacionadas com épocas antigas, narradas em empoeirados livros de
história desatualizados, ou exibidas num filme de Hollywood, onde há
muita ação, nada fica claro, e só a tensão psicológica do
thriller é o que conta e justifica o enredo. Crasso erro!
Por
meio da ideologia —e da religião, que também é ideologia—
fazemos política e construímos a história, criamos roteiros,
estabelecemos programas, projetos de vida, pessoais e coletivos, que
poderão ser executados pensando no bem-estar da maioria dos
cidadãos, ou restrito às elites e seus patrões gringos, sempre
isoladas em seus feudos exclusivos, ora numa mansão carioca, ora num
bungalow em Orlando, ou depois numa suite em Londres.
A política e a
ideologia são ferramentas muito bem usadas pelos donos do discurso!
Com tal perícia são usadas por eles que seu escopo é desestimular
qualquer curiosidade e interesse relacionados com essas questões
socialmente vitais, promovendo —especialmente entre os jovens—
uma imagem prostituída, enfadonha, confusa e nojenta, da política e
da ideologia, para assim enfraquecer e alienar qualquer pensamento
crítico. Portanto, desconsiderar esses e outros aspectos é perder o
fio da conversa, é querer entender o filme começando pelo fim ou
apenas assistindo algumas cenas aleatórias e desconexas.
O PIG —a mídia
golpista— se manifesta por meio do blefe, do feitiço e da charada.
Como dizia o grande Leonel Brizola: «quando alguém for achado ruim
pela Globo, significa que é bom para o povo, mas se a Globo achar
alguém bom, com certeza será ruim para o povo». Mais claro do que
isso, só usando um led!
*Dario Garcia é Acadêmico do Curso de Produção e Politicas Culturais da Unipampa Jaguarão