Por
Octávio Amaral Machado
-Norma
morrera! Maria estava a dormir quando sobre este sobressalto
acordou-se e presumiu que o anunciador de tal notícia era seu filho
Agenor, pois via-se a sua silhueta à luz da manhã resplandecente
sob a janela. Respondera para si com tamanho abalo: -Céus, como
pôde? Tão moça... Retirou-se prontamente do leito visando seu
reflexo ao espelho, e refletindo a passagem da vida para certas
criaturas, e da sua: seria breve como a de um roedor ou vagarosa como
a de um réptil? Caminhando sobre o assoalho olhou ao relógio, já
estava na hora da Missa dominical.
Prontamente meteu-se em seu
vestido, apanhou seu véu e chegando à soleira da Igreja os rumores
sobre a morte de Norma era assunto máximo. Todos os que estavam ali
a olhavam com certo desdém, pois, Maria despreocupada e
desinteressada com certos modelos, de tudo vivia como antiquada. Ao
fim do rito, muito melancólica e atordoada passeava sobre os
ladrilhos intermináveis do paço quando lembrou-se de comprar
algumas rosas no mercado público e entregar-lhe postumamente sobre
os rígidos carvalhos. -Pobre Maria- comentavam os alheios-, anda
tristonha comprar-lhe rosas... À tarde tomou seu chá
compassivamente, fitando seu piano alemão que ganhara de seu pai.
-Que tens minha senhora? - questionou sua aia. -Sentindo odores de
morte no ar. -Cruz, perigo!- replicou sua aia com um típico sotaque
africano, retirando-se.
A morte
de Norma para ela, a senhora da qual conto essa história, resumiu um
sensível sentir dolorido, gélido e transcendente, pois não lhe
cabia mais a vida. À tardinha resolveu visitar os parentes do
cadáver e a receberam com certo espanto ao ver seu semblante.
-Estamos em luto certamente, meus amigos... Olharam-se os pais da
moça e demais. Maria tomou por ver as vestes vivas e duvidou. -Meus
pêsames- fortificando a fala. Olharam-se novamente e riram. -Não
entendo-questionou o pai de Norma-, não há morte nesta casa há
três décadas! Maria de tanto corar e sentir-se afrontada, deixou
cair as flores ao pés e apressou os passos até sua casa temendo
cair por seu calçado impróprio para tal ato. Ao deparar-se com seu
filho , exclamou raivosa: -Agenor, Agenor, venha cá! - o sangue lhe
fervia- Angelicalmente, seu filho lhe aparece persuadido de que sua
mãe enlouquecera. -Não tinhas dito tu que Norma morrera? -Sim...A
da novela de folhetim em que leio, olhe, um romance fresco... Sem
deixar seu filho responder, atropelou a senhora: -E por que não me
disse? -A senhora embriagou-se por seus próprios sentimentos e
paralisou, temi incomodar e fui-me... Maria, inconformada deitou-se
sobre um divã e reformulou o dia tubuloso perdoando seu filho Agenor
por tamanho desentendimento.
Edição
de 12/08/2015
Ano VI nº 225