Eu queria aqui cumprimentar
Rosemary Maria Vieira Teles e por meio da Rosemary eu cumprimento
todas as companheiras aqui presentes, as conselheiras.
Queria
também cumprimentar aqui as ministras, cumprimentando a ministra
Nilma Lino Gomes, das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e
dos Direitos Humanos. A nossa querida Eleonora Menicucci, secretária
especial das Mulheres. Cumprimentar a Tereza Campello, do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a ministra do Bolsa
Família. A Inês Magalhães, das Cidades, que é responsável pelo
programa Minha Casa Minha Vida.
Queria cumprimentar a
embaixadora dos Estados Unidos da América no Brasil, a embaixadora
Liliane Ayalde,
Cumprimentar as ministras das mulheres ao
longo dos ultimos 13 anos, responsáveis por tudo que nós
construímos: a Emília Fernandes, a Iriny Lopes, a Nilcea
Freire.
Queria cumprimentar as nossas aguerridas senadoras:
Angela Portela, Fátima Bezerra, Gleisi Hoffmann, Regina Souza,
Vanessa Graziotim.
Queria cumprimentar os deputados estaduais
e as deputadas estaduais aqui presentes: a Ana Peruguni, a Angela
Albino, a Benedita da Silva, a Érica Kokay, o Helder Salomão, a
Jandira Feghali, a Jô Moraes, Lidiane Lins, a Luciana Santos, a
Maria do Rosário, a Margarida Salomao, o Paulão, a professora
Marcivânia,
Cumprimentar aqui dois secretários especiais: o
Ronaldo Barros, da Promoção da Igualdade Racial, e o Rogério
Sottilli, dos Direitos Humanos.
Queria cumprimentar também a
presidenta da Caixa Econômica Federal, a Miriam Belchior,
Queria
cumprimentar representantes de organismos internacionais: a Laisa
Abramo, diretora da Unidade de Direito da Cepal; a Luísa Carvalho,
diretora regional da ONU; a Nadine Gasman, representante da ONU
Mulheres no Brasil,
Queria dirigir um cumprimento especial à
deputada federal Alice Portugal. Vejam vocês, não botaram ela aqui,
mas ela ganhou um cumprimento especial.
A Moeminha
Gramacho.
Bom, todas vocês eles esqueceram de botar. Um
abraço para todas.
A Neuza Geralda Tito,
coordenadora-executiva da 4ª Conferência Nacional de Políticas
para as Mulheres,
Queria cumprimentar as jornalistas,
fotógrafas, as cinegrafistas e também os jornalistas, os fotógrafos
e os cinegrafistas.
Olha gente, para mim é um momento muito
importante, é um momento decisivo. É um momento decisivo para a
democracia brasileira esse momento que nós estamos vivendo hoje. Sem
dúvida, nós estamos num momento em que a gente sente que nós
estamos fazendo a história desse País.
E para mim é muito
importante que hoje eu participe aqui da 4ª Conferência das
Mulheres com cada uma de vocês. Eu não poderia estar em um lugar
melhor do que esse. Um lugar em que eu sinto a energia de vocês,
sinto o acolhimento de vocês e sinto essa imensa capacidade de luta,
de resistência e a determinação das mulheres brasileiras.
A
história ainda vai dizer quanto da violência contra a mulher,
quanto de preconceito contra a mulher tem nesse processo de
impeachment golpista. Nós sabemos que um dos componentes desse
processo tem sempre uma base no fato de eu ser a primeira presidenta
eleita pelo voto popular, a primeira presidenta eleita do Brasil.
E
eu quero dizer para vocês que uma parte muito importante da minha
capacidade de resistir decorre do fato de eu ser mulher. Mas, além
disso, decorre do fato de eu ter plena consciência que eu tenho de
honrar as mulheres do meu País, mostrando que nós somos capazes de
resistir e de enfrentar. Nós temos uma força que não se confunde
com a brutalidade. A nossa força não está em sermos ferozes, em
sermos irascíveis, raivosas. A nossa força está em sermos
lutadoras, guerreiras e extremamente sensíveis e capazes de amar,
até porque temos essa imensa capacidade que é dar a vida.
Então
a história vai mostrar, e vai mostrar como o fato de eu ser mulher
me tornou mais resiliente, mais lutadora. E muitas vezes como até
hoje, queriam que eu renunciasse. Jamais passou a renúncia pela
minha cabeça. A renúncia passa pela cabeça deles, não pela minha.
Por que eu digo isso? Porque eu sou uma figura incômoda, porque
enquanto eu me manter de pé, de cabeça erguida, honrando as
mulheres, ficará claro que cometeram contra mim uma inominável
injustiça, enorme injustiça. A renúncia é algo que satisfaz a
eles, não a nós. A nós o que satisfaz é a luta, é isso que nos
satisfaz, é a luta.
Eu asseguro, portanto, a vocês que eu
vou lutar com todas as minhas forças, usando todos os meios
disponíveis, meios legais, meios de luta, vou participar de todos os
atos e as ações que me chamarem. Quero dizer a vocês que, para
mim, o último dia previsto do meu mandato é o dia 31 de dezembro de
2018. Eu quero dizer a vocês que eu não estou cansada de lutar, eu
estou cansado é dos desleais e dos traidores. E tenho certeza que o
Brasil também está cansado dos desleais e dos traidores. E é
esse cansaço dos desleais e dos traidores que impulsiona a mim a
lutar cada dia mais.
Eles, portanto, quando propõem a minha
renúncia, têm dois objetivos. O primeiro deles: eles querem, de
todas as formas, evitar que eu continue falando com vocês e
denunciando o golpe. Querem também disseminar uma ideia: “Ah, ela
é mulher, ela não tem capacidade de resistir”.
Pois bem,
eu quero dizer a vocês que a minha capacidade é enorme. Eu
carrego comigo a força das mulheres e também dos homens que
se tornaram protagonistas de seus direitos, sujeitos de seus
direitos, nesses últimos 13 anos. Eu carrego em mim a força de vida
dos 36 milhões de brasileiros e brasileiras que saíram da pobreza.
Eu carrego em mim os 11 milhões que moram em casa própria do Minha
Casa Minha Vida. Eu carrego comigo os 63 milhões de brasileiros e de
brasileiras que não tinham atendimento médico e agora têm, pelo
Mais Médicos. Carrego os 9 milhões e 500 mil do Pronatec. O
Pronatec, um programa de formação profissional no qual as
mulheres são a maioria. Carrego também todos os mais de 4 milhões
que fizeram ProUni, que fizeram Fies, que entraram na universidade. E
carrego todos aqueles filhos de pedreiros que viraram doutores. Todos
aqueles que tiveram acesso à educação pela política de cotas. Por
isso é que eu não, jamais vou desistir.
Quero dizer a vocês
que os golpistas carregam outro tipo de promessa com eles mesmos.
Eles carregam promessas que nós não votamos nelas. Elas foram
derrotados nas urnas em 2014. Eles carregam com eles a promessa de
retrocesso. Prometem eliminar a obrigatoriedade dos gastos em saúde
e educação. Prometem desvincular os benefícios do salário mínimo,
principalmente os previdenciários. Prometem privatizar tudo que for
possível. Prometem acabar com o pré-sal. E é isso que nos
diferencia. Eu não fui eleita para isso. Eu fui eleita com a força
de vocês para garantir os programas sociais. Eles que prometem focar
e flexibilizar, eles que abrem uma CPI da UNE, eles que perseguem
todos os que são capazes de lutar a favor da diversidade e contra o
preconceito, eles são os golpistas.
Nós temos um lado, o
nosso lado é o lado que garante que as mulheres hoje sejam aquelas
que recebem o cartão do Bolsa Família, que dá prioridade à
titularidade da mulher no Minha Casa Minha Vida, que combate a
violência contra a mulher, que aprovou a Lei do Feminicídio. Nós
somos aquelas que queremos a casa da mulher brasileira porque
queremos uma forma eficaz, efetiva, de garantir acolhimento, proteção
às mulheres vítimas de violência. Nós queremos um País em que a
intolerância, em que o preconceito não tenha espaço para crescer.
Nós queremos um País em que sejamos cidadãos diferentes, porém
não desiguais. É esse o país pelo qual todos nós lutamos.
Eu
quero dizer a vocês que o povo brasileiro votou em mim duas vezes, e
agora eu quero dizer que esses 54 milhões de votos que eu recebi das
urnas no ano de 2014, eu vou honrá-los. Por isso eu quero dizer a
vocês que esse processo de impeachment é um golpe, é golpe contra
tudo isso que eu acabo de dizer. É um golpe.
Muitos deles
dizem: “Ah”... Quando eles dizem: “Olha, na Constituição
Brasileira está previsto o impeachment”. O que eles estão fazendo
é contar só uma parte, uma parte da verdade. Eles ocultam que a
Constituição Brasileira diz que impeachment só pode ocorrer se
houver crime de responsabilidade. E eu não cometi crime de
responsabilidade. Eles me acusam de seis decretos e uma transferência
para o Plano Safra. Os seis decretos dos quais eles me acusam não
são decretos feitos para beneficiar a Presidência da República, a
minha pessoa ou quem quer que seja. São decretos de funcionamento do
governo, decretos feitos pelos presidentes que me antecederam, como
esses foram feitos 27 no governo de ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso. E se naquela época não era crime, não é crime hoje
também.
E eu vou dizer para vocês que tipo de decretos são
esses. Não são decretos difíceis de entender. Um deles, por
exemplo, diz respeito a pedido do Tribunal Superior Eleitoral, não
tem nada a ver com Executivo. O Tribunal pede que nós aumentemos,
suplementemos a verba de que ele possui por quê? Porque ele teve um
excesso de arrecadação, porque arrecadou mais fazendo concurso
público. Então, pedi a suplementação.
O outro pedido é do
MEC, do Ministério da Educação, que pedia suplementação para
hospitais federais. O outro, por exemplo, é do Ministério da
Justiça, que pedia para suplementar verbas para escoltas. Nenhum
deles tem nenhum traço de irregularidade. O que eles questionam é
que nós não poderíamos suplementar, que nós tínhamos de cortar
despesas. É isso que eles questionam. Mas acontece que nós já
tínhamos cortado as despesas. Então, há uma manipulação clara
nesse caso.
E eu quero dizer a vocês: não tem nenhuma
acusação, não tem nenhuma acusação de usar indevidamente o
dinheiro público. Todos os decretos diziam respeito a ações e
práticas limpas, límpidas, corretas. Se aplicado este mesmo
princípio, vários governadores do Brasil teriam também de sofrer
processo de impeachment. Isso é um absurdo, é um expediente que
usam contra mim.
Agora, ainda pior é a acusação sobre o
Plano Safra. O Brasil faz e financia, e financia - e nós temos
orgulho disso: financiamos, financiamos, sim, a agricultura
brasileira. Ela gera empregos, ela bota comida na mesa. E, portanto,
o Plano Safra, ele é feito pelo Banco do Brasil. O governo, num
período, atrasou o pagamento ao Plano Safra. E eles falam que esse
atraso de pagamento é uma espécie de empréstimo que o Banco do
Brasil fez para o governo, e isso não pode ocorrer. Eu nunca ouvi
dizer que atraso de pagamento é empréstimo. Quando qualquer pessoa
atrasa seu aluguel ou seu pagamento, ela não está pegando um
empréstimo, até porque ela vai pagar juros e multa pelo
atraso. Nós pagamos. E tem mais, o que é pior ainda: eu, pela
lei, desde 1994, por essa lei, nenhum presidente da República
executa o Plano Safra. Não somos nós que executamos o PLano Safra.
Não tem uma assinatura minha nesse processo.
Então, eu estou
sendo acusada por uma coisa que não é crime. E além de não ser
crime, eu não estava presente nos atos. Não porque não queira,
porque a lei assim prevê. E eles sabem disso. Por isso que isso é
um golpe, o mais deslavado golpe. Mas não é um golpe qualquer. É
um golpe que nós temos de entender a natureza dele. Esse pessoal não
consegue chegar à Presidência da República por meio do voto
popular, porque não vamos votar no projeto deles, que é um projeto
de desmonte do Brasil. Então, eles usam esse processo do impeachment
para fazer uma espécie de eleição indireta da qual o povo está
alijado e não participa.
É isso que está em curso no
Brasil: uma verdadeira eleição indireta. E nós temos de dar nomes
aos bois. Esse é um processo conduzido pelo ex-presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, em aliança com o vice-presidente da República. Os
dois proporcionaram ao País esta espécie moderna de golpe. Um golpe
feito não com as armas, um golpe feito não com baionetas, um golpe
feito rasgando a nossa Constituição.
Eu tenho certeza que
essa é uma luta pela democracia, é uma luta por essa democracia
brasileira ainda jovem, ainda frágil, mas que está nas nossas mãos
fortalecer. Como na vida das pessoas as crises servem para que
cresçamos, para que avancemos, para que nos tornemos mais fortes. Da
mesma forma num país um processo como esse deve servir para garantir
que nós sejamos capazes de defender aquilo que conquistamos. Seja
aquilo que conquistamos no plano da cidadania, seja aquilo que nós
conquistamos no plano dos nossos direitos e das nossas lutas.
Vejam
vocês, cada um de nós é diferente dos outros. E no Brasil essa
diferença serviu para condenar alguns à escravidão, serviu para
alijar a grande maioria do povo dos benefícios desse enorme, rico e
cheio país, desse país imenso, continental.
Porém, o que
nós fizemos, nos últimos 13 anos, foi mudar esse processo e mudar
por um caminho: nós reconhecemos a diversidade, nos achamos que ela
nos dá força, que ela nos dá vida. Mas nós sabemos que as
oportunidades têm de ser iguais. As oportunidades. Quando as pessoas
cantam que o filho do pedreiro vai virar doutor, que o filho da
empregada doméstica vai se transformar em um médico, esse é o
caminho pelo qual nós lutamos nos últimos 13 anos. É essa nossa
proposta: a mudança radical em relação às oportunidades.
E
aí nós vimos isso ocorrer. Nós vimos isso ocorrer quando quem
nunca viajava de avião passou a viajar de avião. Muitos olharam e
falaram: “O que esse pessoal está fazendo nesse lugar que era só
nosso?” Esse lugar não é mais só deles, esse lugar é de todos
nós. Essa foi a maior revolução pacífica feita num país. E
a força dela está em que nós provamos juntos, em cada uma das
conferências, em cada um dos nossos diálogos, em cada uma das
políticas que implementamos, que era possível mudar a realidade.
E
quando se mostra que é possível mudar a realidade ninguém,
ninguém, vai deixar de garantir que ela continue mudando. O que nós
conquistamos, nós temos de ter clareza, foi só o começo. Tem muito
para conquistar. Foi só um começo.
É óbvio que num país
que há pouco tempo era um país escravista, um país que estava
acostumado a um nível de diferença e de desigualdade social
gigantesca, este foi um processo que trouxe descontentamentos de
várias pessoas, não é de uma maioria, é de uma minoria. Daqui
para frente nós vamos ter de assegurar também a nossa democracia,
porque esse processo é um processo virtuoso, porque foi feito dentro
da legalidade, sem violência. E nós vamos assegurar que a nossa
democracia continue viabilizando, garantindo as oportunidades,
construindo a participação de homens e mulheres.
E no nosso
caso específico, no caso da desigualdade de gênero, nenhum
fundamentalismo vai impedir que a nossa perspectiva de gênero se
afirma cada vez mais. Nós sabemos o quanto existe, o quanto existe
de misoginia, o quanto existe de machismo em algumas visões. Nós
vamos reafirmar a nossa perspectiva de gênero. E eu tenho certeza
que uma conferência desse porte, desse tamanho, dessa envergadura é,
sem dúvida, uma das nossas mais importantes plataformas de luta.
Eu
quero finalizar dizendo o seguinte para vocês: eu me sinto
injustiçada, sim. Eu sou vítima de uma injustiça. Mas eu sou um
tipo de vítima como nós brasileiros e brasileiras somos,
principalmente nós brasileiras, vítimas, porém lutadoras, vítimas
que não desistem, vítimas com consciência, vítimas com capacidade
de luta.
Muito obrigada e um beijo em todas vocês.