Por Andréa Lima
Todos os
dias pela manhã, quando estou a caminho para o trabalho, vejo muitas
mães levando seus filhos para as creches. Às vezes com frio e
chuva e, já cedinho, os pequenos vão enroupados nos banquinhos de
bicicletas, carrinhos, ou de mãos dadas com outros irmãos para as
escolas infantis.
Dá certa
pena de ver, principalmente no auge do inverno, mas sabemos que estes
são os itinerários de muitas mulheres batalhadoras, que muitas
vezes são chefes de família, e estão tentando ganhar a vida com
dignidade. As mães são de luta, é o que sempre penso.
Tive meu
primeiro filho aos vinte anos e sei que os desafios são grandes pra
quem quer ser mãe e precisa trabalhar e estudar. Quando fiquei
grávida, estava no penúltimo semestre da graduação de Artes
Visuais, em Pelotas, e não foi nada fácil concluir a faculdade.
Levava o
bebê para as aulas, o amamentava e trocava as fraldas no carrinho,
pelos corredores. Ainda bem que contei com uma rede de apoio dos
colegas e professores e pude seguir adiante, pois não seria justo
desistir faltando tão pouco.
Quando me
formei, voltei para Jaguarão e passei em uma seleção para o
Mestrado. Contei com o apoio da minha família e lá se foram mais
dois anos de muita vontade e persistência. O único horário que
sobrava para estudar, muitas vezes, era madrugada, quando o silêncio
chegava. E haja café para ficar acordada.
Sentava no
computador para fazer os trabalhos e atendia pedidos de mamadeira,
dava colo, dividia a atenção. Não sei como fomos levando, mas
valeu a pena todo o esforço.
Hoje,
prestes a nascer mãe pela terceira vez, não acho, sinceramente, que
os filhos sejam empecilhos para seguirmos adiante. Mas haja força de
vontade, pois as estruturas não são pensadas para facilitar a vida
de quem se aventura pelos caminhos da maternidade.
Agora
mesmo, enquanto escrevo este texto, minha filha de dois anos revirou
os armários da estante e deixou a sala de pernas para o ar! Nos
desdobramos em várias, para dar conta do recado.
Os dados
não deixam mentir e demonstram que, apesar de mudanças
significativas nos últimos anos, nosso sistema ainda é regido pelo
patriarcado.
No mercado
de trabalho, por exemplo, as mulheres recebem em média 20% a menos
do que os homens para o desempenho das mesmas funções. Somos,
também, a maioria entre os trabalhadores terceirizados e, por isso,
temos que nos qualificar, e muito, para termos estabilidade e
ascendermos à melhores postos.
Para isto,
além da labuta diária, precisamos nos organizar social e
politicamente. Ampliar a participação nos espaços decisórios, na
construção das políticas públicas e lutar contra a hegemonia
branca, hétero-normativa e masculina, que prevalece nas Assembleias
e no Congresso Nacional.
Lutando
juntas, teremos muito mais poder do que pensamos na construção das
mudanças e da realidade que queremos.
Edição
de 17/06/2015
Ano VI nº 217