Por Maria
do Carmo Passos
Sou da
mesma estirpe de Argos, fiel companheiro de Ulisses aguardando por
sua volta ao lar no poema Odisseia de Homero . Apesar de ter ares de
fidalgo, significando "filho de algo" todos me reconhecem
pelo nome de Amigo. Sou querido e muito conceituado em nossa cidade.
Modéstia à parte, todos me conhecem. De linhagem direta dos (RND)
cujo significado é o seguinte: RACA NÃO DEFINIDA, tenho imenso
orgulho de minha descendência canina.
Desconheço
minha verdadeira origem; segundo o Carlinhos, artista e pintor
profícuo de nossa cidade, fui adotado e criado por uma funcionária
do Hotel Sinuelo, de jaguarão. O local pertencia à categoria dos
estabelecimentos chics de nossa cidade, dando-me assim a oportunidade
de obter informações de grande utilidade. Dentre elas, escapei do
estigma de ser chamado de cão de rua. Outra façanha por exemplo e
que merece grande destaque diz respeito aos animais de estimação.
Não só cães. Nossas patinhas festivas representam um grande
perigo para as malhas das meias das senhoras e para as calças
masculinas. Portanto , toda aproximação tem de ser cautelosa e
comedida.
Ao perder
minha mãe adotiva, sai em busca de um local seguro em busca de
proteção. Acostumado com determinado trajeto, circulava na maior
parte do tempo entre a avenida 27 de janeiro e o Bar do Alemão . Ali
encontrei abrigo junto ao proprietário, o Sr. Orlando e sua esposa,
onde estabeleci moradia até os dias atuais. Floresceram entre nós
apurados laços de amizade e aproximação.
No que se
refere ao meu estado de saúde, raramente causo transtornos, conto
com uma linhagem que tem me favorecido muito. Devo isso à grande
imunidade inerente ao meu organismo, dificilmente sou vítima de
qualquer doença, por mais grave que seja e que facilmente atinge
diversos colegas pertencentes à minha categoria. Atualmente, junto
aos meus pais, a quem dedico a maior parte do meu tempo, mantendo
estreitos laços familiares, procuro manter com todos aqueles que nos
cercam um grande , carinhoso e imenso afeto mesclados de amor e
gratidão.
A relação
com papai Orlando e mamãe Iracema, são mútuas e de extrema
integridade. Todos sabem que o cão é o melhor e mais fiel amigo do
ser humano.
Em raras
ocasiões nos desentendemos, consigo acompanhá-los nas visitas,
incluindo qualquer residência. Meu comportamento, modéstia à parte
é de dar inveja a qualquer outro representante de minha raça.
Costumo, durante a permanência na casa, quando acompanho meus amos,
permanecer calado e nada escapa aos meus ouvidos apurados.
Assemelho-me a um cão de porcelana, tamanha é minha discrição.
Faço questão de não ser notado.
Hoje,
felizmente encontrei meu verdadeiro lar, enquanto meus pais se
distraem com alguma tarefa, aproveito a deixa e dou algumas
escapadas, típicas de qualquer jovem de minha raça.
Entretanto,
permaneço atento ao horário e raramente me atraso na chegada.
AMIGO,
além de fidalgo jaguarense estou pronto a dar uma mão a todos
aqueles que necessitam de minha ajuda. Afinal, sou um Cavalheiro e
mesmo que não me peçam , lhes dou este conselho meu caro leitor ou
leitora. Se estiver carente de companhia agradável olhe com carinho
para os meus companheiros desafortunados que andam a esmo pelas ruas
ou abrigados no Canil Municipal. Com certeza, em algum deles você
poderá encontrar um fidalgo como eu.
Edição de 16/09/2015 Ano VI nº 230