Por Lau Siqueira*
Sinceramente gostaria muito de ter
participado da manifestação do último dia 15. Caso fosse mesmo uma
manifestação popular e espontânea contra a corrupção. Estaria
nas ruas se não corresse o risco de encontrar alguém segurando uma
faixa pedindo a volta da ditadura. Afinal, as ditaduras apenas
escondem a corrupção. Estaria onde as pessoas não estivessem
majoritária e contraditoriamente vestidas com a camisa da corrupta
CBF. Também iria se não fosse para encontrar tantos políticos
acusados de corrupção. Se não se tratasse de uma manifestação
seletiva que foca apenas na corrupção da Petrobrás. Se não fosse
uma manifestação tragicamente ressentida de quem tinha certeza que
o Aécio Neves (citado na operação Lava-jato) venceria as eleições.
No dia 15 o Brasil acordou estranho.
Muito estranho. O Partido dos Trabalhadores é o maior partido da
América do Sul. Um dos maiores do mundo. Uma agremiação cheia de
mazelas, com algumas administrações descaracterizadas. Seja pela
mesmice conservadora, ou pela mediocridade. Mas, como negar as
virtudes? Como negar os avanços sociais e econômicos do país? Dói
na alma associarem o PT ao comunismo. O PT não tem absolutamente
nada de comunista. É um partido fundamentado na velha social
democracia europeia, transformando excluídos em consumidores. Isso é
puro capitalismo!
Todavia está difícil criticar o PT
neste momento. Basta um grama de bom senso para verificarmos que o
desafio é outro. Pois do outro lado estão movimentos que se dizem
apartidários, mas rezam nas piores cartilhas. Movimentos que sequer
fazem questão de esconder seus reais interesses. A estar desse lado,
sem qualquer noção da história do nosso país, prefiro apenas
defender a legitimidade de uma presidente eleita pelo voto livre e
direto. Afinal, a democracia é a maior conquista do povo brasileiro.
O Brasil que se revela manipulado e
raivoso não se contrapõe aos petistas ou não petistas envolvidos
em corrupção. Se iguala. Mais parece um país de pessoas revoltadas
porque não estão levando vantagem. É um país que quer um
impeachment apenas para voltar para a frente da televisão e assistir
novos casos de corrupção, de impunidade, de violência, enquanto
espera a novela das oito. O Brasil que foi para as ruas no dia 15 é
um país que quer mudança no governo, mas não quer mudar uma
vírgula da história. Um país de pessoas que não merecem vencer
porque não sabem perder. Um país de pessoas que se dizem
apolíticas, mas cujas atitudes são eminentemente políticas. Um
país despetalando raivosamente o futuro. Mas, as manifestações do
dia 15 também são fruto da democracia. Ainda bem, pois só a
democracia nos permitirá seguir em frente.
*
Lau Siqueira, jaguarense radicado em João Pessoa. Poeta, ativista
cultural, atualmente ocupa o cargo de Secretário de Cultura do
Estado da Paraíba.
Edição de 25/03/2015 Ano IV nº 205